6. VENTO, NOITE, VOCÊ, ARMAS E ROSAS.

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Observação: Gente, só para contextualizar um pouco mais, a floresta de Dean aparece na segunda temporada da série, quando Eve leva Villanelle até um container no meio do nada e tenta arrancar respostas da assassina que eles chamam de "O fantasma". Pra quem acompanhou a saga de Harry Potter, essa é a mesma floresta que serviu de refúgio para Harry e Hermione quando estavam em busca das Horcruxes. Eu adorei aquele lugar e aproveitei o cenário. 

***


Ainda que tudo tivesse saído do controle, o roteiro de fuga permanecia o mesmo: pegar as mochilas e caminhar. A missão tinha se transformado em uma chacina e isso faria das duas mulheres os próximos alvos dos Doze.

O percurso até o local de resgate levaria várias horas, isso se elas não se perdessem e nem parassem para descansar, o que seria impossível. Caminhar numa floresta mista não é o mesmo que andar numa calçada plana, a densidade da vegetação, muitas vezes, impede que se veja mais do que 20 metros à frente. Além do terreno, das pedras, das árvores e dos animais peçonhentos, há também a pouca visibilidade do céu e as baixas temperaturas. Até as pessoas mais experientes tem dificuldades de se orientar numa floresta à noite. Era preciso calma e atenção.

Depois de pegarem as mochilas na cabana, Villanelle propôs que elas seguissem caminho pelo curso do rio Wye por algum tempo até alcançarem uma distância considerável da casa, e foi o que fizeram. As duas andaram por mais ou menos 2 horas até que encontraram um lugar plano, ideal para montar a barraca.

Ventava muito. Ao mesmo tempo em que Villanelle estendia a lona da tenda e fincava as estacas, Eve iluminava tudo com uma lanterna, ou pelo menos tentava, seu corpo inteiro estava tremendo de frio.

- Não é o acampamento dos sonhos, mas deve nos manter aquecidas. – disse a russa abrindo o zíper de entrada da barraca. – Enquanto você organiza as coisas aí dentro eu vou procurar alguns gravetos e folhas secas, com sorte conseguiremos acender uma fogueira.

Villanelle ficava ainda mais sexy quando era mandona, pensou Eve. Por esse motivo ela resolveu acatar suas ordens. Retirou algumas roupas da mochila, estendeu os sacos de dormir e pegou dois sanduíches embalados (e amassados) no fundo da bolsa.

Do lado de fora a outra já estava com quase tudo pronto: um buraco no chão rodeado por pedras, algumas toras e galhos emaranhados em formato de estrela e várias folhas secas que serviriam como acendedor, em poucos minutos haveria fogo. A loira tinha a agilidade de uma escoteira.

- Onde você aprendeu a fazer tudo isso? – comentou a mais velha.

Villanelle se aproximou da barraca, cruzou as pernas e se sentou próximo a Eve, em seguida pegou uma garrafa de água e um dos sanduiches que estavam do lado de fora. Só então, após abocanhar um pedaço de comida, ela começou a falar:

- Depois que os Doze me recrutaram na cadeia eu passei por vários meses de treinamento rígido. Nem todos eles envolviam armas, arrombamentos ou aprendizagem de idiomas, alguns eram programas de resistência a interrogatórios e pura sobrevivência.

Eve escutava cada frase atentamente, afinal, há muito tempo ela queria saber mais sobre o passado de Villanelle.

- Certa vez eu passei duas semanas numa floresta equatorial, que é bem mais densa do que essa. Foi horrível, eu estava molhada a maior parte do tempo, sentia frio e fome, cheguei a vomitar muitas vezes por conta da exaustão. – Villanelle interrompeu o que dizia para dar outra mordida no sanduiche. – Mas eu não tinha outra saída, precisava ser forte.

- Você é tão nova, mas já passou por tanta coisa. – disse Eve.

- Às vezes eu penso sobre isso, se não tivesse sido treinada para ser uma assassina, o que eu seria? Uma designer de interiores, talvez.

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