Capítulo 33: Porta.

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Boa Leitura, xoxo

Z A Y N

 Okay, eu estava puto. 

 A alcanço logo que sinto meus pés ficando leves de novo e ela suspira. 

 - Você tem que parar de fazer isso. - Se toda vez que ela não quisesse falar comigo ela me prendesse no chão, eu estava feito. 

 - Eu conheço vários outros se você se cansou desse, incluindo um que te mandaria direto pro seu quarto. - Nem ouso insinuar que não, porque tinha certeza que ela o faria só pra provar que podia. 

 - Eu só quero te levar pro quarto. - A frase saiu estranha. - Pro seu quarto. - Corrijo e ela rola os olhos. 

 - O que pode ter de tão perigoso nos corredores de Auradon que você tem que perder seu precioso tempo comigo, principezinho? - Não era essa a questão. 

 - É a coisa certa a se fazer. - Ela se vira pra mim, começando a andar de costas. 

 - Sinceramente? Eu não compro isso. - Fico confuso e ela volta a andar normal. 

 - Não compra o que? 

 - Essa bondade. Esse polimento. Vocês não são assim. - De novo, confuso. 

 - Como não? 

 - Você nunca fez nada de errado na vida, principezinho? Digo, além de foder pessoas aleatórias e as descartarem como lixo? Não que é a última seja tão errado se compararmos com sei lá, assassinato, mas você pegou a essência. - Paro pra pensar e de repente agradeço seu quarto ser tão longe. 

 - Acho que eu e você temos conceitos diferentes do que "errado" significa. - Ela parece concordar. 

 - Você tem um ponto. Então, você está me dizendo que nunca fez nada de errado na vida? - Nunca roubei, nunca matei, nunca fiz nada ilegal.

 - Sim. 

 - E você acha que nunca fará nada de errado até... o resto da eternidade, já que você não morre? - Era algo a se pensar. 

 - O que eu poderia fazer de errado? - Ela dá de ombros. 

 - Você será o rei. Não de um só reino, mas de todos juntos. - Fico imaginando sua reação ao descobrir que, muito provavelmente, ela seria a rainha. - Não tem como fazer o certo para todos o tempo todo. Não tem como conhecer a realidade de cada um. Uma decisão afeta muita coisa. - A conversa tinha tomado proporções que eu não esperava. 

 - Onde você quer chegar com isso? - Aria dá de ombros. 

 - Em lugar nenhum. Você insiste em me seguir e tem algo de errado comigo, estou pensando em fazer algum encantamento de cura, mas é legal a sensação de não ter filtro e ser leve. - Ela estava falando tão bem e agindo tão "sério" que quase tinha me esquecido que ela estava bêbeda. Um jeito totalmente estranho de ficar bêbedo, diga-se de passagem. 

 - Nada que vá te matar, antes de amanhecer mesmo passa. - Ela assente. 

 - Não foi você que decidiu nos trazer pra cá. - Fico surpreso pelo assunto súbito, mas concordo. Até meus 21 anos, eu não mandava em nada em Auradon, apenas era preparado pra isso. 

 - Não. - Concordo. 

 - Você teria decidido isso algum dia? - Penso e respondo de forma sincera. 

 - Não. 

 - E você acha que isso seria certo? - A verdade? Sim. 

 - Não exatamente "certo"... Mas você tem que concordar que ninguém estava ali sem merecer. - Ela me olha divertida. 

 - Eu estava lá. O que eu fiz pra merecer estar lá? - Oh, caralho. 

 - Você é um caso a parte.

 - Só eu? E quanto aos outros Perdidos? Liam, Harry? 

 - Tudo bem, não todos. - Ela balança a cabeça de forma negativa, mesmo que no rosto estivesse um sorriso. 

 - Um dia. Um dia que vocês passassem naquela ilha e até a Malévola iria receber perdão. - Isso eu duvidava muito. 

 - Não imagino que era bom, mas... O que pode ter de tão ruim? - Imagens vem na minha cabeça. Frio, um lugar escuro, alguém estava gritando no meu ouvido, me mandando fazer uma coisa e machucando meu braço. Eu estava preso? Tinha ferro nos meus pulsos, apertando mais do que deveria. Eu simplesmente não sabia como fazer o que estava sendo pedido mas sabia que se não fizesse, ela bateria nele de novo, e de novo e de novo... 

 Demoro mais de um minuto pra descobrir que aquilo, aquele medo, aquele pânico, dor e todo o resto  que eu senti não era minha imaginação, eram memórias. Olho chocado pra menina no meu lado e ela continua sorrindo, como se eu não soubesse da missa a metade. E pelo visto, eu realmente não sabia. 

 - Eu queria viver nessa bolha que vocês daqui vivem. Vocês nem imaginam o que tem do outro lado. Você acha que a pior coisa era roubar? - Agora, eu achava que não. Estava assustado. E angustiado. Queria perguntar pra ela o que era aquilo, quando tinha acontecido, o que eu podia fazer pra ajudar. 

 - O que fizeram com você? - Deixo escapar e ela me olha confusa. 

 - Como assim o que fizeram comigo? - Quem te prendeu? Quem estava te ameaçando? Quem era? Eu tinha medo que se ela falasse o nome eu fosse atrás da pessoa, mesmo que eu fosse provavelmente morrer antes de chegar perto o suficiente para dar sequer um soco digno.

 - Eu quis dizer o que vocês faziam. - Não, eu não quis dizer isso. Ela dá de ombros. 

 - Sobreviver seria uma boa palavra pra resumir isso. E você, o que você fazia? - Tenho até vergonha de compartilhar o quão boa foi a minha infância. Isso era justo? Que eu tivesse nascido e vivido no luxo enquanto muitas outras crianças conheciam a tortura desde cedo? Quando ela conhecia a tortura desde cedo? 

 - Você realmente quer saber? É chato. - É vergonhoso. Me sentia uma pessoa tão ruim agora. Aria concorda e posso jurar que ela está sendo sincera. - Desde que eu nasci eu fui treinado para ser o futuro rei. Apenas isso. 

 - Como você entrou na linha de sucessão e não Ben? O que te fez entrar? - Você. O laço.

 Tento caçar outra desculpa, mas nada vem a mente. 

 - Os pais dele, do Ben, não queriam. - Isso só a confunde e eu não culpo. 

 - Bem, chegamos. - Só quando ela fala eu percebo que paramos em frente a sua porta. 

 - Sim, chegamos. - Concordo e me apoio nos pés pra frente e pra trás. Estava nervoso e não queria ir embora. 

 - Okay, eu vou entrar... - Ela fala, mas parece confusa. Concordo e Aria suspira. - Você vai ficar na minha porta? - Não sabia porquê, mas estava considerando essa opção. 

 - Não se você me deixar entrar.  

Descendentes - Zayn MalikOnde histórias criam vida. Descubra agora