Capítulo 5 - Parte IV

17 5 0
                                    

🌅

— Lola, eu sinto muito... — ele realmente sentia, do fundo de seu coração. — Eu nem ao menos sei o que é isso, só sei que, são pessoas com mudanças de humor anormais...? — perguntou, com incerteza.

— Tudo bem, vou te explicar. — ela lhe olhou, virando todo o seu corpo. — Bem, Claire me disse que o meu nível de bipolaridade está entre, digamos, os medianos.

— Como assim?

— Não é extremamente afetivo ou exagerado. Às vezes me sinto depressiva, mas consigo sair da cama e fazer minhas atividades normais, mas tem dias que estou sem vontade e não consigo fazer absolutamente nada. É bem complicado... Ela me deu alguns remédios para regular os meus hormônios, e para ser bem sincera, estou com medo do resultado.

— Não fique. — ele colocou as mãos em seu joelho, com a maior inocência do mundo; o que fez com que Lola se assustasse um pouco, e distanciasse sua coxa de sua mão. Denis percebeu e logo se desculpou. — Ah, desculpe...

— Não tem problema. — ela escondeu um pequeno sorriso e ajeitou o cabelo para trás da orelha, puxando as duas pernas para se cruzarem em cima do assento.

— De qualquer jeito, Lola, não pare de tomar os remédios. O bom de estar aqui é que não precisamos pagar por esse tipo de tratamento...

— Sim, é claro. Essa é a melhor parte.

Os dois riem baixo.

— Sabe o que eu gosto daqui? — ela pergunta.

— Não, o quê?

— Gosto de ver todos esses rostos alegres e mesmo que eu não conheça ninguém, sei que é um ótimo lugar. Ficar rodeado de pessoas, crianças, que respeitam o seu espaço e que te ajudam com qualquer coisa. As pessoas daqui são muito solidárias, diferente do mundo lá fora.

— Às vezes até esqueço que você esteve lá fora por tanto tempo... Deve ter sido difícil. — Denis disse, olhando-lhe de canto enquanto mexia em uma pequena pedra ao seu lado.

— Bom, nem queira saber... O mundo lá fora parece ser terrível, mas é injusto generalizar porque eu apenas vivi com as pessoas erradas... Pelo menos com a ajuda de alguns, conseguiram me trazer para cá. Eu não sei o que aconteceu com o meu tio depois disso.

— Seu tio? — Denis pergunta, surpreso.

— Sim. Minha vida foi complicada... — ela fala, abaixando a cabeça.

— Se você tiver vontade de falar com alguém sobre isso, você sabe que pode confiar em mim. — Denis freneticamente também abaixa a cabeça para tentar vê-la, e Lola levanta a cabeça lentamente para fazer o mesmo. Os dois trocam olhares e Lola sente ser a hora de se abrir, pelo menos um pouco, para deixar que os sentimentos ruins fossem embora. Foi uma tentativa que ficou disposta a correr.

— Denis, se eu te contasse, você provavelmente sentiria muita pena de mim. Provavelmente, não iria mais olhar para mim desse mesmo jeito...

— Então está bem. Você não precisa, mas eu quero te contar a minha.

— Sério? — ela soltou um grande sorriso. — Eu gostaria de saber...

— Bom, então... — ele mudou de posição e sentou-se de frente a ela, como se fossem dois amigos íntimos — Eu vim aqui desde bebê, praticamente. Então não sabia de muito até conseguir falar e entender o que os outros estavam dizendo. Quando eu tinha uns cinco anos, lembro-me de estar na sala do berçário e ouvi uma conversa de duas freiras, que minha mãe foi uma drogada perversa.

Antes do EntardecerOnde histórias criam vida. Descubra agora