Capítulo 45.

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| Luan |

Não podia ser assim, não desse jeito, não com a sua família toda na sala, não agora.

— Eu acho melhor a gente parar. — minha voz denunciava que eu estava mentindo.

Eu não queria parar, eu queria mais, eu ir até o final e fazê-la minha, mas minha parte racional me lembrava de tudo o que ela havia passado nos últimos três dias.

— Desculpa. — Júlia murmurou e eu neguei com a cabeça.

— Não me peça desculpas por ter me deixado duro. — seu rosto corou ainda mais e eu lhe dei alguns selinhos. — Mas eu sei que sua família está na sala e se brincar, seu pai está do outro lado da porta. — ela sorriu timidamente e eu me apaixonei um pouco mais nesse instante. — Já passou da hora de você conhecer o meu trailer. — eu estava tentando conversar com ela, para tentar controlar a ereção que a própria causou. — Sabe como é, cama de casal, ninguém para nos atrapalhar... — deixei o final da frase no ar e ela negou com a cabeça, segurando um sorriso.

Daqui por diante era assim que eu queria vê-la: sorrindo.

— Eu juro que sou um cara arrumadinho. — ela me deu um selinho e eu sorri das suas bochechas coradas.

Eu gostava de vê-la tomando atitudes em relação a nós dois, gostava quando ela me surpreendia de uma maneira boa e isso incluía suas iniciativas em me beijar.

— Vou pensar no caso. — ela arrebitou o nariz e eu sorri.

— Não seja cruel, aposto que você vai amar. — murmurei e ouvi algo do outro lado da porta.

— Sai daí, Vitor. — ouvi a voz de Beatriz e arqueei as duas sobrancelhas. — Não seja idiota. — a caçula dos Johnson's falou e nós dois rimos.

— É hora de ir? — perguntei e Júlia fez bico. — Não faz assim. — murmurei e mordi o seu lábio, desmanchando o seu bico lindo. — Que tal ir no circo amanhã? Você não sabe, mas eu disse aos meus pais que você iria jantar com a gente. — dei de ombros e ela arregalou os olhos.

Meus pais haviam feito o convite antes de tudo acontecer e eu nem sequer lembrei de falar com ela sobre isso, mas eu adoraria que ela fosse até lá de novo.

— Eu preciso fazer uma coisa amanhã, mas eu vou. — sua frase me deixou surpreso e curioso. — Eu preciso agradecer a sua família por todo aquele cuidado. — assenti, sorrindo.

[...]

Depois de estender a toalha no box do banheiro e vestir a minha camisa, eu olhei pela quarta ou quinta vez cada detalhe do meu trailer só para ter certeza que nada estava fora do lugar.

Eu iria buscar Júlia em casa, já que ela estava de licença do trabalho, e pretendia deixar tudo arrumado para quando ela chegasse.

Era estranho eu estar nervoso e até ansioso para vê-la, mas a verdade era que eu nunca tinha ido tão longe assim. Nenhuma outra garota veio conhecer os meus pais ou jantar aqui.

Meu cérebro tinha total consciência de que nós dois estávamos indo muito longe, mas eu não iria parar mesmo sabendo que na hora de ir embora, nós dois sofreríamos.

Balancei a cabeça, evitando pensar nisso agora, e sai do trailer, indo na direção do espaço em que a minha família e todos os funcionários do circo jantavam. Como era uma Segunda, todos estavam de folga e isso deixava o 'Vikings' apenas para nós.

— Ele está nervoso para o seu primeiro encontro. — minha mãe disse quando eu parei ao seu lado e eu semicerrei os olhos na sua direção.

— E eu ansioso para conhecer a minha nora acordada. — Amarildo disse e eu o olhei, dando um sorriso de lado.

Minha família sempre me apoiava em tudo e era admirável ver como eles estavam acolhendo Júlia tão bem. Ela era importante para mim e eu gostava da forma como eles estavam a tratando.

Eu já tinha recomendado a todos eles que ninguém tocasse no assunto da sua tentativa de suicídio. Eu não queria que ela ficasse constrangida ou se sentisse mal.

— Eu vou buscar ela em casa e... — comecei a falar, mas a voz de Alexander me fez parar.

— Vejam só que eu encontrei na entrada do circo. — ele disse e eu me virei, dando de cara com Júlia e Beatriz.

Franzi as sobrancelhas e ela sorriu. Um sorriso tímido e lindo, que quase me fez esquecer tudo ao nosso redor.

Júlia usava um calca jeans, uma blusa amarela que deixava os seus ombros a mostra e os tênis brancos que eu já estava acostumado a vê-la usar. Ela nunca usava muita maquiagem e eu gostava disso, porque assim eu conseguia ver todos os detalhes do seu rosto, desde as pequenas sardas no nariz até os lábios naturalmente avermelhados.

— Fecha a boca, bonitão. — meu irmão disse e eu revirei os olhos lhe dando um soco no ombro.

Júlia colocou uma parte do cabelo atrás da orelha e eu sorri, me aproximando.

— Oi. — como era possível sentir meu coração acelerar com apenas uma pequena palavra?

— Oi. Eu ia te buscar. — murmurei e ela tombou a cabeça para o lado.

— A gente decidiu vir mais cedo, espero que não se incomode. — nada nela me incomodava. — Meu pai estava trabalhando e minha mãe teve que ir ajudar na missa de hoje. Vitor tinha uma última prova para entregar e por isso vínhemos apenas nós duas. — ela se explicou e eu segurei a sua mão, piscando um dos olhos na direção de Beatriz.

Os dois membros mais importantes da família estavam aqui, não tinha como ficar melhor.

Durante o jantar eu vi Beatriz ficar encantada com os segredos e truques que minha mãe e meu irmão contavam e vi também ela compartilhar que queria ajudar os soldados em guerra quando crescesse e como um irmão mais velho, eu senti muito orgulho dela. Júlia deu vários sorrisos tímidos durante todo o jantar e eu não saí do seu lado por um único momento.

— Qual é o seu sonho, Júlia? — meu pai perguntou e as bochechas da minha namorada coraram.

— Bom, eu tenho muitos. — ela colocou o garfo em cima da mesa e eu dei um sorriso de lado. — Eu quero ver essa garotinha aqui crescer, quero vê-la se tornar um psicóloga e ajudar aqueles homens. — ela disse e olhou na direção da irmã. — Eu quero ajudar as pessoas, quero conhecer vários lugares. Sabe, o mundo é tão grande pra gente ficar para sempre em um só lugar. — ela sorriu e meu coração se aqueceu.

Olhei na direção da minha mãe e vi aquele olhar que ela lançava sempre que estava pensando em alguma coisa.

— Mas principalmente, eu quero descobrir o que eu vim fazer aqui. — voltei a olhar na direção de Júlia quando ouvi a sua voz. — Eu acredito que todo mundo tenha uma missão aqui, eu só não descobri a minha ainda. — aos poucos o sorriso foi se desfazendo e eu segurei sua mão quando ela abaixou o olhar.

— Mas vai descobrir, querida. — minha mãe disse e eu dei um sorriso de lado.

— Obrigada. — o sorriso que ela deu ao falar não foi sincero e eu torci a boca.

O criador de sorrisosOnde histórias criam vida. Descubra agora