Capítulo 10

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   Um dia de descanso, era o que aquela jovem garota precisava. Pela primeira vez em tempos ela se sentia segura, pois Miguel havia ficado doente e por isso não estava na escola.

    - Então turma, já corrigi as provas de vocês e algumas notas não foram agradáveis, mas a maioria foi bem. - Disse Jorge - Como o professor Miguel faltou hoje e eu estou substituindo sua aula, decidi passar um filme relacionado ao conteúdo da minha matéria. Sendo assim, todos para a sala de vídeo.

   Durante o filme, no fundo da sala, Luna dormiu. Ela não conseguia dormir desde que o professor piscicopata tinha tentado tirar sua roupa, e um dia sem ele na escola lhe trazia paz.

    - Luna! - Jorge disse sentando ao seu lado - Acorda.
    - Professor Jorge, me desculpe.
    - Não tem problema. Você está bem? Percebi você um pouco melhor hoje.
    - Sim, estou melhorando, mas ainda não estou nem 80%.
    - Quer conversar?
    - Acho que aqui não é o melhor lugar para isso.
    - Você tem razão. Venha comigo. - Disse levantando-se - Turma, eu vou ter que sair um instante com a senhorita Mendes. Por favor se comportem.

   Jorge a levou para a sala dos professores.

   - Estamos sozinhos, se quiser me contar o que aconteceu. - Jorge diz com a voz calma.
    - Tudo começou há uns 3 meses, quando o Miguel se ofereceu para me dar aulas extras de redação. - inicia mas é interrompida.
    - O que aconteceu com você tem a ver com ele? - Jorge pergunta.
    - Sim. Eu estava  animada no começo. No primeiro dia ele já começou me fazendo perguntas estranhas, me perguntou se tinha namorado, dos meus pais, dos meus amigos, da minha vida toda. Me perguntou quando eu namoraria e com quem. Dizia constantemente que o amor da minha vida estava na minha frente, mas eu não enxergava, se referindo à ele.
    - O professor Miguel te assediou?
    - Sim, até mais do que isso. Durante o primeiro mês era apenas isto, perguntas estranhas. Mas depois ele começou a tocar em mim. Primeiro foi a mão na minha perna, depois ele me abraçava e colocava a mão na minha cintura, depois de um tempo ele começou a passar a mão na minha bunda.
    - E por que você não falou pra ninguem?
    - No começo eu pensei que fosse coisa da minha cabeça, depois de um tempo eu falei com ele, disse que não queria mais as aulas. Ele me ameaçou, ameaçou meu pai. - Começou a chorar - Ele disse  que se eu contasse e acreditassem em mim, ele colocaria fogo na loja do meu pai. Eu tive medo.
    - Eu entendo, mas o que te fez falar agora?
    - Depois de dois meses, ele me deu uma carona para ir pra casa, no caminho ele me chamou pra sair, eu obviamente não aceitei. Criei vários motivos, ele disse inclusive que pagaria pra mim. No dia da tempestade, ele me deu outra carona. Mas em vez de me deixar em casa, me levou até  sua casa.
    - Você esteve na casa do Miguel? Foi lá que ele...!? - Não completou a frase
    - Ele mandou eu falar pra minha mãe que estava presa no trânsito, já que eu estava atrasada e ela ficaria preocupada. Ele me levou até o banheiro e me deu roupas secas, mas além disso, me entregou uma lingerie vermelha. Eu fiquei muito constrangida. Apenas vesti a roupa, que era minúscula. Depois que saí do banheiro, ele colocou minha farda molhada na secadora e me levou pro seu quarto alegando que iríamos assistir um filme. Eu estava a todo momento pedindo pra ir pra casa e que ele não precisava se preocupar comigo, mas ele era insistente e eu tinha medo do que ele pudesse fazer se eu o contrariasse.
    - Então vocês assistiram um filme?
    - Ele escolheu um filme, porém não chegamos a assistir. Ele tentou desabotoar meu short. - Disse deixando uma lágrima cair. - Eu fiquei pedindo que ele parasse e tentei sair de perto dele, mas ele era mais forte. Miguel ficou estressado e me cortou, não sei o que  ele tinha na mão naquela hora, mas  seja lá o que era, ele passou na minha barriga. - disse levantando um pouco da blusa e mostrando o corte.
    - Luna, isso tá muito feio. Não acredito que o professor Miguel foi capaz de fazer tudo isso com você.
    - Mas eu consegui sair do quarto. Dei um soco no rosto daquele piscicopata e corri. Peguei minha bolsa e fui até a secadora pegar minha roupa, mas ele me alcançou... - Parou por um tempo para enxugar as lágrimas. - Ele me pegou pelo punho, me arrastou até a sala e me jogou no chão.
    - Então foi isso que aconteceu com o seu punho. Essa foi a "queda"? - fez aspas com os dedos.
    - Sim. Eu estava chorando e com dor, medo. Até que em segundos Miguel se transformou. Ele sentou ao meu lado e me fez carinho, disse que eu não devia chorar que ele estava lá pra mim. Ele é realmente um piscicopata, aquela não foi a primeira vez que ele mudou de humor rapidamente.
    - E como você conseguiu sair de lá? Ele te levou em casa?
    - Eu chutei as partes íntimas dele. - disse com um sorriso breve entre as lágrimas. - Eu corri, o portão não estava trancado. Cheguei até um restaurante, onde uma mulher me ajudou. E de lá eu corri até minha casa.
    - Nossa, Luna! Eu nunca imaginaria que você estava passando por tudo isso.
    - Nem eu acredito que estou passando por tudo isso. Não consigo acreditar que deixei um louco se aproximar de mim.
    - Você não sabia o que lhe iria acontecer, você não tem culpa de nada.
    - As vezes eu me sinto culpada. Eu poderia ter acabado com tudo isso antes, mas  eu fui medrosa.
    - Você estava protegendo quem ama. Não se culpe. - Disse pegando a mão de Luna e colocando sobre a sua. - Agora tudo acabou e eu estou aqui pra te ajudar.
    - A história ainda não acabou.
    - Não? O que aquele imbecil fez mais? - Jorge disse com raiva.
    - Ele me mandou inúmeras mensagens. Ele me ameaçou, me chantageou. Ele disse que a lingerie estava na casa dele esperando por mim. Disse várias coisas indecentes. Ontem, durante a prova, ele me deu um bilhete. Se eu ficasse com ele, eu passaria sem precisar terminar a prova. Eu não estava mais aguentando. Eu fui até o banheiro e ele me seguiu. Entrou e já puxou meu cabelo, me ameaçou de novo e disse que eu deveria voltar para a sala como se nada tivesse acontecido e que se eu tivesse sorte ele poderia me dar uma carona novamente.
    - Ele te machucou de novo?
    - O puxão de cabelo não doeu mais do que tudo que eu estava sentindo. Eu estava com tanto medo. Ainda estou, mas com ele fora da escola, me sinto melhor. Pedi pro Alisson ficar comigo na parada e só fiquei tranquila quando cheguei em casa.
    - Você precisa denunciar esse louco para a polícia. Se você quiser, Eu vou com você.
    - Obrigada, mas não precisa. - Disse limpando as lágrimas. - Eu vou falar com minha mãe primeiro, me sinto mais a vontade indo com ela.
    - Tudo bem, se você prefere assim. Saiba que pode contar comigo. - Jorge diz enxugando as lágrimas que ainda haviam no rosto de Luna. - Se depender de mim, nenhum mal vai acontecer à você.

A Dor De Ser MulherOnde histórias criam vida. Descubra agora