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Nada resultava.

Por mais que tentasse, Caetana falhava numa simples tarefa que consistia em colocar os ornamentos de natal à volta do pinheiro grande. A pedido da sua mãe, tinha iniciado a colocação dos enfeites da época natalícia pela casa dos progenitores, começando na sala com a árvore, contudo não estava num bom dia para realizar tal tarefa; além disso, lembrou-se que João ficaria irritado com ela, se não o fizesse com ele, como já era tradição para os irmãos Ferreira. Por isso, largou as bolas de natal, acomodando-as no interior do caixote de cartão que guardava as decorações alusivas a época em questão durante maior parte do ano, e, somente, agarrou nas luzes que serviam para colocar à volta do alpendre. Pisou o exterior, logo, envolvendo o seu corpo com os seus braços pelas temperaturas baixas, mostrando que o casaco de pele não bastava para a aquecer do frio do exterior, e tentou, ao máximo, colocar as luzes de natal à volta do alpendre enquanto o seu pai colocava as luzes no telhado, com cuidado. Todavia, como era uma tarefa, habitualmente, efetuada pelo mais velho, as suas tentativas de fazer o seu melhor estavam a sair-lhe, totalmente, ao lado.

- Caetana Ferreira. - A evocação do seu nome próprio e sobrenome interromperam as suas ações.

De imediato, voltou o seu corpo em direção da voz familiar, deparando-se com a última pessoa que esperava encontrar durante a sua estadia na terra que a viu nascer e crescer e sair para novas experiências na capital.

- Fábio! - Um pouco surpresa, igualmente, evocou o nome próprio do jovem rapaz.

- Não esperava encontrar-te aqui, nesta época. - À medida a que os pés do loiro encurtavam a distância que os apartava, a morena questionava se devia permanecer ali. - Cansada da capital? - Mas, quando viu a mínima distância entre eles, soube que a sua decisão de desaparecer dali já não podia ser tomada.

- Nunca prescindi da época natalícia na minha terra. - Encolheu os ombros, um gesto com um único fim: afastar o seu nervosismo. - Ainda conheço as minhas origens e prefiro estar aqui, ao lado da minha família, sem dúvida alguma. - Esboçou um curto e educado sorriso para não mostrar a irritação que sentiu perante a questão colocada pelo estudante de medicina.

Os olhos verdes de Fábio contemplaram a sua figura de cima a baixo, concluindo com um lamber de lábios e um divertido sorriso, algo que a frustrou e trouxe ao de cima uma profunda irritação pela atitude do loiro.

- É servido de alguma coisa? Um chá, um chocolate quente, cerveja? - Inquiriu, recuando uns passos e subindo os pequenos degraus que elevam o terraço do espaço verde, agora branco pela neve, que adornava a vivenda, com a intenção de ocupar o interior da casa para preparar qualquer que fosse a escolha do universitário.

- Se for o chocolate quente da tua mãe, aceito. - Contrariando a vontade da rapariga, Fábio seguiu-a até à cozinha.

Para surpresa da sua mãe, o rapaz cumprimentou-a e iniciou um diálogo, no tempo em que a primogénita de Rui e Maria preparava o leite quente com chocolate, uma bebida ideal e adequada para a meteorologia que envolvia a região onde se encontrava. Prontos os preparados quentes, Caetana obrigou-o a acompanhá-la até ao exterior da habitação, repousando a bandeja que levava as bebidas quentas sobre a pequena mesa entre dois cadeirões de madeira no alpendre.

- Como estás? - Fora de presunções, o aspirante a neurologista perguntou.

- Bem. Dentro dos possíveis. - A estudante do ensino superior respondeu, murmurando as últimas palavras. - E tu? Como é que o Porto te tem tratado?

- A faculdade pessimamente. - O do sexo masculino brincou, após deliciar-se com um pouco da bebida, arrancando leves risadas à morena. - A cidade é ainda mais linda do que imaginava.

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