TREZE

586 22 35
                                    

A última peça era colocada sobre as restantes, já, acomodadas no interior da mala de viagem, no momento em que Maria bateu, levemente, na porta, praticamente, fechada do quarto da filha mais velha. De imediato, Caetana cessou os seus movimentos, suspendendo a sua tarefa por meros momentos, e voltou a sua atenção total para a progenitora, sentando-se na beira da cama e dividindo o espaço com o trolley vermelho.

- Quero que leves estes tupperwares com as sobras para que te alimentes bem. – A de vinte primaveras aceitou os objetos estendidos pela mais velha e, logo, procurou por um lugar disponível para os guardar. – O João já transporta, também, tupperwares com as sobras e comida para partilharem durante o percurso de volta a Lisboa. – A mulher de Rui indicou.

A estudante ofereceu um sorriso que se manifestava longe daquele típico belo sorriso, o que alertou à habitual preocupação de mãe.

- Não estás feliz por retornares a Lisboa? – A morena abanou a cabeça, de modo a mostrar o contrário.

- Não é isso, mãe. – Num murmúrio, respondeu. – Uma parte de mim, não quer voltar devido à faculdade, prefiro a quietude daqui, sem dúvida alguma. No entanto, a faculdade não é o motivo da minha apatia.

- É a Isabel, certo? – Sem deixar o rebento concluir, a apaixonada pela cozinha inquiriu, ainda que conhecesse a resposta à questão. – Pensei que, já, estivesse tudo resolvido nessa cabecinha. – Maria aproximou-se da mais nova e as suas mãos viajaram para os cabelos castanhos, iguais aos seus, penteando-os, num gesto carinhoso, o qual foi respondido com um fraco sorriso por parte da universitária.

- Eu acho que ela sabe, mãe. – A irmã de João supôs. – Desde o dia em que me encontrei com o Rúben, nunca mais tive contacto com ela, apesar das inúmeras tentativas da minha parte. – Explicou a sua suposição. – Tenho receio. Receio de a perder, quando essa nunca foi a minha intenção, mas sim o meu maior medo e obstáculo à minha felicidade.

Invés de responder, a sua progenitora, apenas, abraçou-a. Envolveu-a naquele abraço que tanto necessitava, manifestando a certeza de que, independentemente do que possa vir a acontecer, ela teria sempre a quem voltar. Aos braços da família. A única constante da sua vida. Maria depositou um longo e carinhoso beijo nos cabelos da filha e ofertou um largo sorriso, de modo a tranquiliza-la e mostrar-lhe que tudo ficaria bem.

Com essa pequena certeza, Caetana prosseguiu com a sua tarefa. Concluiu a preparação da mala de viagem e, de seguida, deambulou pela habitação em busca do irmão a fim de procurar saber se já se encontrava tudo pronto para iniciarem a viagem de retorno à capital portuguesa. Quanto mais cedo ela voltasse, mais cedo todos os pontos se uniriam e ela conseguiria perceber a situação em que se tinha mergulhado. Ao encontrar João, inferiu que este, também, já se encontrava pronto. Retornou ao seu espaço pessoal, buscando os seus pertences, e, com o auxílio do pai, levou-os para o interior da viatura deste. Como o seu progenitor os levaria até à cidade da zona centro de Portugal, a primeira pessoa que teve o prazer de receber as despedidas da dupla fora Maria. Num caloroso abraço, a mulher despediu-se dos filhos e, embora não fosse a primeira vez e nem seria a última vez, esse momento de calorosos abraços e palavras carinhosas segredadas nos ouvidos de cada um manifestava-se cada vez mais difícil para a mais velha.

A seguir das despedidas, a mais velha dos irmãos Ferreira ocupou o lugar do pendura, enquanto o mais novo ocupou os bancos traseiros do automóvel, logo, ligando a rádio que lhes faria companhia durante o longo percurso que tinham pela frente. A sua atenção estava, completamente, vidrada na paisagem provinda do exterior, a única forma que ela conseguiu arranjar para se abstrair do único problema a ocupar-lhe a cabeça. O seu pai e irmão partilharam conversas de diversos tópicos embalados pela música comercial de fundo, mas ela era incapaz de se concentrar nos temas e participar na conversa. O único que ainda lhe conseguia capturar a atenção era Frodo, deitado ao lado do defesa-direito com o focinho descansado no colo do mesmo, capaz de lhe arrancar leves gargalhadas pela sua posição e comportamento. Afinal, seria, para sempre, Frodo a sua maior e melhor companhia, uma vez que, sempre, foi o animal que a acompanhou nos seus piores momentos.

cedo | ruben dias ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora