QUINZE

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De frente para o espelho, Caetana acomodava a larga camisola alusiva ao Sporting Clube de Portugal, ajustando-a as suas curvas, que utilizaria como forma de demonstrar o seu apoio à sua equipa de coração durante os noventa minutos do dérbi lisboeta. Michel, sentado no cadeirão do quarto da rapariga, observava-a completando a sua observação com comentários estilistas a fim de a ajudar, tal como ela lhe tinha solicitado quando irrompeu no quarto do colega.

- O Rúben sabe que vais com a camisola do rival? – O francês inquiriu.

- Se não sabe, vai ficar a saber. – A irmã de João encolheu os ombros. – Não troco o meu Sporting por ninguém e ele sabe-o melhor que ninguém. – Com um sorriso vitorioso nos lábios, a de vinte primaveras concluiu.

- Tenho uma leve sensação que o vais compensar. – O natural de Bordéus sugeriu, conquistando o divertido sorriso da amizade próxima.

- Depende do resultado no final da partida. – A morena colocou o cachecol à volta do pescoço e voltou em direção do rapaz, rodando o seu corpo, lentamente, a fim de obter alguma reação – positiva, claramente – do mesmo.

Com o polegar elevado, Michel aprovou o vestuário da universitária que consistia num par de calças pretas combinadas com a camisola principal dos verdes e brancos no interior das mesmas, cuja apresentava, na parte de trás, o nome daquele que ela considerava ser o melhor jogador da sua equipa, o capitão Bruno Fernandes, e, para concluir, as suas Air Force 1 brancas. A campainha soou pelos cantos da casa e, num instante, João já se encontrava no interior da mesma visivelmente pronto para a partida que tinha tudo para ser carregada de intensidade. A estudante de direito despediu-se do estudante internacional e abandonou os aposentos ao lado do irmão mais novo.

O caminho para o Estádio José Alvalade mostrou-se demorado pela hora de ponto caracterizada pelas enormes filas de carros num sistema do pára-arranca. A perna da morena não parava de tremer, certamente, pelo nervosismo, tanto pela partida, uma vez que ela viva demasiadamente o desporto-rei, como também pela reação de Rúben à sua indumentária. Tinha-lhe prometido estar presente no estádio para lhe prestar o seu imenso e eterno apoio, contudo ocultou-lhe a sua ideia de envergar os acessórios alusivos à equipa da casa.

Já se tinha passado duas semanas desde a última vez que trocou contacto com Isabel, através da ácida conversa sobre o seu envolvimento com o ex-namorado da loira, e, por mais que na altura achasse que o melhor fosse manter-se afastada do futebolista, mostrou-se incapaz de o fazer, acabando por se entregar ainda mais ao sentimento que a unia a ele.

- Ainda te vais encontrar com ele, antes do início do jogo? – Caetana assentiu. – Queres que te acompanhe?

- Queres fazer de vela? – Num tom interrogatório, retorquiu. – Não precisas, João. Vai andando para os nossos lugares. – Apontou para o corredor que dava acesso às bancadas. – Não demoro muito. – Antes de o deixar ir, deixou um leve e carinhoso beijo na bochecha do mais novo.

Um assobiar no fundo do espaço onde se encontrava captou a sua atenção e, rapidamente, voltou o seu corpo na direção do som, deparando-se com a figura do amadorense, já, trajado com o equipamento principal da equipa da Luz e, evidentemente, pronto para entrar dentro das quatro linhas. Num ápice, a de Póvoa de Varzim correu para os braços dele abertos, deixando-se ser envolvida pelos mesmo num apertado abraço.

- Esqueceste de me dizer alguma coisa? – Ao reparar na indumentária da morena, o irmão de Ivan inquiriu, não ocultando o largo sorriso.

- Não vejo o que poderá ser. – As palavras da jovem arrancaram altas gargalhadas ao central. – Apesar destas cores não te favorecerem nada, continuas demasiado atraente. – No ouvido do benfiquista, sussurrou, mordendo, subtilmente, o lóbulo da orelha do mesmo, um gesto que provocou o arfar do jogador e o seu sorriso vitorioso.

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