Você foi aquele meu primeiro "amor", daquele mais puro que a gente tem quando ainda somos crianças indefesas, sem nenhuma maldade e até mesmo sem saber quem nós realmente somos.
Eu gostei de você por muito tempo, meu amigos viviam fazendo piadinhas sobre isso, e pasme, até hoje fazem. Você nunca correspondeu aos meus "sentimentos", bom, parece que naquela epóca eu já estava fadado ao amor platônico que vem ocupando minha vida até hoje.
Acho que desde aquela época eu já sabia que eu não era igual aos outros meninos, nunca consegui fazer parte do grupinho deles, então eu sempre estava isolado em meus próprios pensamentos ou conversando com as meninas. Sinceramente, eu nem sei o que me fez criar todo esse sentimento por você na época, talvez tenha sido uma tentativa de autossabotagem por não aceitar aquilo que eu já sentia sobre mim desde sempre.
M, você era péssima comigo, sério, até hoje não entendo como eu consegui gostar de alguém que me desprezava tanto, que claramente não queria nada comigo, nem mesmo uma amizade, na verdade acho que sei sim, tendo em vista que essa padrão voltou a se repetir no futuro com outros "amores".
Depois que saí da escola que nós estudávamos você nunca mais falou comigo, nem mesmo um oi, apesar de a gente ter se visto várias vezes depois disso, eu também não fazia questão de falar com você, acho que por vergonha de tudo que já tinha acontecido entre a gente. Na verdade acho que eu fui um detalhe tão insignificante na sua vida que você nem mesmo se lembra de mim, contudo até hoje eu ainda lembro daquele menino tímido, com medo do mundo, que era louco por você.
Acho que foi aí que começou a minha insegurança, coisa que vem me perseguindo até o exato momento em que escrevo essas palavras. Porém nada disso foi culpa sua, você não tinha obrigação nenhuma comigo, todos nós sabíamos que eu era gay, apesar dessa palavra ainda não existir na minha vida, é um daqueles casos que primeiro você conhece o significado da palavra, para então conhecer a própria palavra. Como eu já mencionei, acho que criar sentimentos por você foi uma forma de criar uma barreira em mim, me protegendo do que eu realmente sentia, porque no fundo eu sabia que você nunca iria corresponder aos meus sentimentos, e era exatamente disso que eu precisava.
Eu ainda espero que nesses encontros e desencontros do universo a gente se esbarre e caramba, vai ser ótimo poder rir com você daquelas crianças tão bobinhas que a gente era. Quem sabe da próxima vez que eu te ver eu não consiga criar coragem e te dizer: — Ei M, lembra daquele garoto que era louquinho por você no Ensino Fundamental? Pois é, era eu! Você ainda me reconhece?