Meu nome é Lucas, tenho 16 anos e nesse exato momento me encontro deitado sobre minha cama, onde estou contando coisas da minha vida para você, gravador. Bom, eu deveria estar contando essas coisas para uma pessoa, mas não confio nelas a fim de contar toda a minha vida.
O primeiro fato sobre mim, esse não é tão secreto como alguns dos que contarei futuramente, eu nasci no ano de 2001. Eu saí de dentro de minha mãe em uma chuvosa noite de sexta-feira, em uma cidade do interior de Minas Gerais.
As pessoas me decepcionaram desde cedo, no meu aniversário de 1 ano, meu pai chegou bêbado na festa e brigou com todos que estavam presentes ali, isso é o que me dizem, eu não me lembro dessa época, então não posso afirmar que isso aconteceu. Isso me leva ao segundo fato: tenho uma grande dificuldade em confiar nas pessoas.
Aos meus quatro anos eu presenciei uma briga dos meus pais, onde meu pai dizia que a única tarefa da minha mãe era fazer a comida, e nem isso ela fazia direito, depois disso ele deu um soco na cara dela, bem na minha frente, isso foi horrível pra mim, ele não tinha o direito de bater nela, e tudo isso por minha causa, eu havia me machucado e minha mãe havia ido me ajudar, ficou ocupada e comigo e a comida acabou queimando. Três anos depois eles se divorciaram. Isso me leva ao terceiro fato, não consigo me entregar emocionalmente a ninguém, tenho medo de acontecer comigo o mesmo que aconteceu com minha mãe.
Quando eu tinha quinze anos, enquanto andava sozinho por uma praça vi um homem morrendo, ele estava perdendo muito sangue e eu fiquei ali parado, apenas observando o líquido vermelho manchar todo o chão da praça enquanto o homem murmurava um pedido de socorro. Isso me leva ao quarto fato, eu não tenho medo da morte.
Bom, vou parar de gravar por aqui, minha mãe acabou de abrir a porta da sala e não quero que ela me veja chorar.
Gravador, estamos em 2018, tenho 17 anos agora, eu e minha mãe nos mudamos para uma cidade do Espírito Santo, eu sei que devia ter gravado para você antes, mas eu não queria relembrar tudo aquilo. Mas antes de continuar, ao escutar a gravação eu me dei conta de que não lhe disse nomes. Minha mãe se chama Alessandra, hoje ela tem 38 anos, tem longos cabelos loiros e olhos escuros. Meu pai se chama Alex, tem 40 anos, cabelos escuros e olhos claros. O homem que eu vi morrer, mais tarde descobri que seu nome era Roberto, tinha uma esposa e três filhos.
Bom, gravador, antes eu lhe disse quatro fatos sobre mim. Hoje, do segundo em diante não são mais reais. Um garoto de cabelos ruivos e olhos verdes, chamado Rodrigo, me fez destruir aqueles fatos.
Conheci Rodrigo enquanto andava pela orla de uma praia. Nós dois estávamos distraídos ouvindo música e acabamos nos esbarrando, fazendo com que nós caíssemos na areia e começamos a ter um ataque de risos, sim, realmente parece o enredo de um filme de sessão da tarde. Ele me ajudou a levantar e ficamos conversando durante um bom tempo. Isso aconteceu na minha primeira semana aqui. E depois desse esbarrão começamos a sair juntos várias vezes. Então ele destruiu o segundo fato, me fez confiar nele e contar todos os meus segredos.
Algumas semanas depois, quando estávamos em um parque juntos conversando sentados na grama, Rodrigo me deu um beijo carregado de sentimentos, isso me fez quebrar o terceiro fato, depois desse beijo eu me dei conta que estava totalmente entregue e ale e ao amor.
Bom, meses depois, quando estávamos andando de mãos dadas, apareceu um cara e nos espancou até quase nos matar, ficamos algumas semanas no hospital e durante aqueles momentos eu quebrei o meu quarto fato, eu estava com muito medo de morrer e nunca mais ver aquele que me deixava cheio de alegria, de nunca mais ver aqueles olhos verdes e de nunca mais beijar aquela boca.
Vou acabar a gravação agora, pois Rodrigo está aqui do meu lado me apressando para sair, depois eu volto aqui para te contar mais coisas, gravador.
Até outro dia.