Segunda-feira (noite) e terça (madrugada) - Cê me esquenta

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"Bianca ataca novamente", falou Rafaella, rindo e se virando para Gizelly. A pequena, que estava sentada em sua cama e tirava a maquiagem com um algodão, retribuiu o gesto. Parou com a mão no ar e encarou Rafa, como se esperasse que ela lhe dissesse mais alguma coisa.

"Eu já estava querendo conversar com você mesmo...", disse a alta finalmente. Afastou-se da porta e foi para perto da janela do quarto. "...só me faltava coragem." Ela sentia um nó se formando na garganta, mas se manteve firme. "Eu vim pra, basicamente, pedir desculpas."

Aproximando-se de Gizelly, tomou coragem e pegou sua mão com delicadeza. "Sério, me perdoa."

Recebeu como resposta apenas o silêncio; não como uma forma de punição de Gizelly, mas porque a pequena ainda não sabia o que dizer.

"Eu nem ligo que você não converse comigo mais, só quero que me dê seu perdão..."

Rafa nunca foi do tipo de pessoa que implora por algo, e a expressão facial de Gizelly entregava seu espanto por presenciar isso.

"Mesmo que a gente não se veja nunca mais, queria sair desse sítio sabendo que está tudo bem entre nós. Eu sei que fui péssima mentindo pra você."

Buscando tirar alguma reação da advogada, Rafaella sentou-se na cama dela e segurou sua mão com mais firmeza. "Eu poderia dizer que eu ter ficado com a Bianca foi uma coisinha à toa, só pra fazer nós duas ficarmos bem." Ela fez uma pausa em seu discurso para abrir um parêntese: "E a propósito, foram só beijos, eu acho que não deixei isso muito claro. Não que isso faça alguma diferença, porque eu sei que você ficou chateada não foi com isso... enfim." Respirou fundo ao perceber que havia fugido do tema. "Voltando... foi legar ter ficado com ela, mas, tipo, foi coisa de momento. E eu e ela concordamos."

Gizelly se espantou pela sinceridade da outra, de forma que deixou escapar um riso nervoso. Rafa quis contar tudo de uma vez, pois achava as meias verdades tão ruins quanto as mentiras. Já teve que lidar com as consequências de ter omitido fatos e não queria ter que fazer isso de novo. O arrependimento de não ter falado o que sentia no dia em que levou Gizelly até seu apartamento, há alguns anos, assombrava-a até os dias atuais. Se tivesse sido sincera naquele momento, se tivesse dito pra Gizelly que queria ser mais do que sua amiga, muita coisa teria sido diferente.

"Bom, dei essa volta toda pra retornar lá no começo da nossa conversa... Vim pra te pedir desculpas e só."

Gizelly sorriu e falou: "Calma, eu não com TANTA raiva de você, nem precisava disso tudo. A gente só precisava conversar mesmo." Rafaella, que demostrava pelo seu rosto estar tensa, rapidamente se tranquilizou. "E você tava tão bonitinha empenhada no seu discurso que eu não quis interromper."

"Ah, sua vaca!", falou Rafa, largando a mão de Gizelly e se levantando. "Já tava toda preocupada."

Enquanto a mais alta praguejava, a outra se acabava de rir. "Ué, mas estamos bem, não está feliz?", zombou.

"Claro que sim", respondeu Rafa, ficando séria de repente. "Tenho sentimentos muito fortes por você, tipo...", interrompeu-se. Começou a gesticular para tentar se explicar, mas, vendo que estava falhando, completou: "...muito, MUITO mesmo."

Gizelly riu novamente ao perceber a dificuldade da mais alta de se expressar. O mais engraçado de tudo é que, quando elas eram só amigas, declarações de amor não faltavam. Era "eu te amo" pra cá, "eu te amo" pra lá, o tempo todo; sozinhas ou na frente dos outros.

"Também gosto muito de você", falou, puxando Rafaella pela mão para que ela voltasse a se sentar à sua frente. "MUITO."

"Você tava muito linda hoje", afirmou Rafa. Antes de ter uma resposta, ela se corrigiu: "Aliás, você É linda, mas hoje eu me senti até intimidada com a sua beleza".

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