Sexta-feira (tarde) - Conversando

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"Acho que a gente ficou em desvantagem tendo que tirar essas fotos aqui no sítio, cê não acha?", falou Gizelly para Marcela. No momento, ela estava se preparando para a sessão do final da tarde.

"Claro que não, tá louca?!", respondeu Marcela.

"Pensa bem", argumentou Gizelly, enquanto fazia escova no cabelo, "nos outros dias, a gente saia daqui depois do almoço, lá pro meio dia e meia. Eles faziam aquela maquiagem basiquinha na hora mesmo e tirávamos as fotos. Como tinham mais fotógrafos, o serviço acabava bem rápido. Não dava nem oito horas da noite e a gente já tava de volta em casa." Marcela confirmou com a cabeça para que ela prosseguisse com o raciocínio. "Hoje, a gente tem que ficar pronta até dezoito horas pra aproveitar a luz natural e tirar uma foto do grupão. Como só teremos dois fotógrafos, vamos ter que fazer fila pra ir tirando uma a uma. E fora que nós mesma temos que fazer nossa maquiagem pra festa, que precisa ser mais elaborada, por ser noite."

"É, olhando por esse ângulo...", falou Marcela. "Mas, tipo, você tá considerando só as horas gastas; tem outros fatores. Vamos poder aproveitar a festa... e encontrar o pessoal importante ligado a campanha."

"Grande coisa! Olha pra minha cara e vê se eu vou ficar babando ovo para gente que eu nem conheço. Eu, hein!", retrucou Gizelly, fazendo com que Marcela risse. "Inclusive já era pra você ter começado a se arrumar, viu!"

"Ah, nada!", falou Marcela. "Pretendo hidratar minha pele ainda, depilar o buço..."

"Se eu fosse você já começava, porque daqui a pouco todo mundo vai se amontoar nos banheiros", falou. "Prevejo esse povo todo se arrumando desesperadamente nos últimos minutos."

"Menina, não tinha pensado nisso", disse. "Vou começar os preparativos." Marcela pegou a toalha e sua malinha de cosméticos e foi para o banheiro. Chegando lá, agradeceu mentalmente por estar vazio; o único no momento. Ela colocou suas coisas sobre o banquinho que ficava no canto e tirou da bolsinha um creme esfoliante. Espalhou o produto sobre o rosto e começou a fazer movimentos circulares. Olhando pelo espelho, tomou um susto ao ver Bianca aparecendo atrás de si.

"Caralh*, mulher, quer me matar do coração?!", gritou Marcela, com a mão sobre o peito.

Bianca estava com uma toalha de banho jogada sobre o ombro e o cabelo preso em coque. "Desculpa", disse rindo. "A porta tava aberta... fiquei toda felizinha pensando que tinha encontrado um banheiro disponível", falou.

"Não, relaxa!"

"Cê vai usar só a pia?", perguntou Bia.

"Sim."

A resposta era exatamente o que a morena queria ouvir, então, com um sorriso traquina no rosto, ela falou: "Posso tomar banho enquanto você fica aqui, então?". Ela perguntou e ficou encarando Marcela até que ela ficasse sem graça.

"Claro", a loira respondeu.

"Ai, que ótimo!", disse Bianca, fechando a porta do banheiro atrás de si. Ela pendurou a toalha no gancho da parede e se despiu rapidamente. Marcela continuou fazendo sua esfoliação, ignorando o corpo nu de Bianca ao seu lado e olhando apenas para o espelho a sua frente.

Bianca entrou no box e fechou a porta de aspecto fosco. De onde estava, Marcela podia ver apenas a silhueta da amiga, o que incitava sua imaginação.

"Menina, o papo das duas hoje mais cedo foi um fiasco, cê viu?!", falou Bianca, assim que ligou o chuveiro.

"Sim!", respondeu Marcela. "Se não fosse a gente lá, acho que elas teriam ficado em silêncio."

"Eu tenho vontade de trancar as duas num quarto e jogar a chave fora", zombou. "E falar que elas só saem de lá se falarem o que sentem uma pela outra."

"Se é que sentem, né?!", respondeu Marcela. Ela ligou a torneira da pia e lavou o rosto, aplicando, logo em seguida, uma máscara marrom sobre a pele.

"Ah, eu tenho pra mim que a Rafa é doidinha nela", segredou Bianca.

"Oi?", gritou Marcela, não entendendo o que Bianca havia dito, por causa do barulho do chuveiro.

"A Rafa, mulher! Eu acho que ela é caidinha na Gi", falou mais alto.

"Não entendi nada que você disse."

"CHEGA MAIS PERTO, porque eu não vou ficar esgoelando o nome dos outros", gritou. Marcela se aproximou e, quando estava colada com o vidro do box, Bianca cochichou: "Eu disse que eu acredito que a Rafa gosta dela também... Eu não sei exatamente as intenções da Gi, porque você não quer jogar na roda, né!", brincou. "Mas agora é sério, hoje a gente tem que fazer dar certo, hein?!"

Marcela concordou e falou: "Bianca, eu te conheço bem, então, só pra ficar bem claro, eu só aceito participar se você prometer que não vai pressionar elas a fazerem nada".

"Pode deixar, eu vou ficar comportadinha! Mas não se esqueça que vamos ter bebidas; elas vão fazer o serviço de deixar nossas meninas mais desinibidas", falou.

Com o rosto tão próximo do vidro, Marcela podia ver Bianca com mais clareza. Sua mente se inundou de pensamentos libidinosos, então ela se afastou. Foi para a pia do banheiro lavar o rosto e, quando ligou a torneira, escutou Bianca dando um gritinho dentro do box. "O chuveiro desligou, eu acho", disse a pequena.

Marcela riu quando se deu conta que isso foi causado pelo fato de ela mexido na torneira. Ela lavou o rosto rapidamente e fechou a água, tentando se manter séria. Não conseguiu se segurar e caiu na gargalhada quando Bianca falou: "Ué, voltou! Que bom...".

Terminando de se banhar e se enxugar, Bianca disse: "Boa sorte para nós hoje à noite". Fechou o punho e apontou para Marcela para que ela desse um soquinho de despedida. Assim que foi correspondida, abriu a porta do banheiro e saiu.

Marcela enxugou o rosto e saiu pouco tempo depois, voltando para o quarto. Assim que a viu, Gizelly falou em tom brincalhão: "E você e Bia no banheiro, hein? Hmm".

"Primeiramente, como você sabe? Segundamente, eu tava fazendo meu skin care e ela tomando banho, ué", respondeu. "E conversando."

"Hmm, sei! Conversando sobre o quê?", perguntou Gizelly, querendo colocar a amiga contra a parede.

"Nada que seja da sua conta", disse de um jeito curto e engraçado, fazendo com que Gizelly risse ainda mais.

"Tô falaaando...", zombou Gizelly, "... vocês estão escondendo alguma coisa". Aproximou-se de Marcela e cochichou: "Se vocês estão de rolo, conta pra mim, por favor. Sou sua amiga, vai!", implorou, juntando as mãos e fazendo uma carinha de cão pidão.

"Minha filha, não tenho nada com a Bia, não! Tá doidona?", falou, sentando-se na cama da amiga. "Pra que eu mentiria pra você?"

"Mah, agora é sério, você já foi péssima comigo quando me deixou de lado por causa do sabugo de milho", lamentou-se.

"E você já me perdoou, certo!", protestou Marcela, apertando as bochechas da amiga.

"Se você fizer isso de novo, nem ouse olhar na minha cara, tá, sua sonsa?!"

"Ih, relaxa!"

"Não ligo de você ficar com qualquer pessoa, mas, se me abandonar de novo, eu te mato." Teatralmente, Gizelly cruzou os braços e apertou os olhos como uma criancinha.

"Pode deixar que quando eu ficar com a Bianca eu te falo."

"Hmmm."

"SE... SE eu ficar", corrigiu-se.

"Hmmm."

"Para, garota!", falou rindo, dando um empurrãozinho em Gizelly.

Sete DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora