Domingo (tarde e noite) - Sobre Amores e Gatos

797 71 18
                                    

"Diz pra ela a verdade, ué! Que o que tivemos não significou nada."

"Não posso mentir novamente."

Bianca olhou nos olhos de Rafa, que estava séria, e deixou escapulir de seus lábios uma gargalhada. "Quê?", questionou, ainda rindo. "Que viadagem!"

Ao perceber que não tinha sido levada a sério por Bianca, Rafa deu um riso amarelo e fingiu que o que tinha acabado de dizer era brincadeira.

"Até na bad cê faz piada", falou Bianca, dando um soquinho no braço da amiga e se levantando da cama.

Abriu sua mala, pegou o protetor solar e foi para a frente do espelho. Enquanto espalhava o produto pelo rosto, sentia Rafaella encarando suas costas. "Caramba! Era só o que me faltava...", pensou, "como se já não bastasse todas as outras coisas que temos de lidar". Ela sabia que o que Rafa falou era sério, mas preferiu fingir de boba para não tornar aqueles últimos dias no sítio ainda mais complicados.

"Eu tô indo dar uma volta", falou Bianca, enquanto colocava o tênis, "quer ir comigo? Seria bom pra você espairecer um pouco."

"Não, eu prefiro ficar aqui", respondeu Rafa, recostando na cabeceira da cama e fazendo cara de paisagem.

Apesar de saber que seria melhor para Rafaella sair pra caminhar um pouco, Bianca agradeceu mentalmente por ela ter recusado seu convite. "Seria ainda mais estranho", pensou. Pegou seus fones de ouvido e, antes de sair pela porta, falou: "Tá bem! Vou indo... daqui há uma horinha devo estar de volta."

Assim que Bianca desapareceu pela porta, Rafa voltou a se enrolar entre as cobertas. Relaxou o corpo, fechou os olhos e ficou na mesma posição por muitas horas. No final da tarde, não saberia dizer se dormiu e teve sonhos ou só entrou em devaneios. Basicamente, usou seu tempo deitada para refletir sobre suas experiências dos últimos dias. "Minha vida amorosa em uma semana foi mais conturbada que no meu ano inteiro. Já fiquei com duas mulheres e briguei com uma", pensou, conseguindo achar graça da situação.

Quando abriu os olhos, a primeira coisa que viu foi o copo d'água sobre a mesa. Olhou em volta e sentiu sua solidão ser acentuada por causa do silêncio da casa. Espreguiçou-se, suspirou fundo e se levantou. Riu ao se lembrar da espontaneidade de Bianca ouvindo sua declaração. "Eu disse que ela significou pra mim e ela me deu como resposta 'que viadagem'. Que ótima", pensou. "Será que ela não entendeu minhas intenções ou me ignorou propositalmente?"

Enquanto dobrava as cobertas de sua cama, ponderou: "Se bem que a Bianca não nasceu ontem, né! Provavelmente eu levei um fora educado".

Rafaella bebeu um pouco de água e seu estômago roncou, fazendo com que ela se desse conta do quão faminta estava. Antes de ir preparar algo para comer, pegou, em sua mala, o livro de poesias que sempre carregava e abriu na página 57, sua passagem favorita. Aninhou, nessa folha, a flor que havia ganhado de Gizelly, juntamente com as pétalas que haviam se soltado. "Ai, Titchela", sussurrou consigo mesma, nostálgica.

A missionária se encaminhou à cozinha para fazer seu lanche da tarde. Ao balançar a garrafa de café, e ver que não tinha mais da bebida, pegou no armário uma caneca de alumínio, encheu de água e a colocou no fogo. Enquanto esperava o líquido ferver, foi para a varanda e se escorou no corrimão, relaxando e sentindo o vento correr pelo seu cabelo.

Depois de alguns poucos minutos, quando a água estava na temperatura ideal, passou o café, colocou um pouco em sua xícara e guardou o restante na garrafa de uso da casa. Pegou alguns biscoitos salgados, com a mão, e voltou para a varanda, sentando-se na escada.

Enquanto saboreava seu café, de repente, inquietou-se com algo. "Caramba! Cadê a Bianca? Ela disse que voltaria rápido e daqui a pouco já tá escurecendo". Colocou a xícara de café ao seu lado, sacou o celular do bolso e conferiu a tela. "Nenhuma notícia dela. Acho que deveria me preocupar".

Sete DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora