Sete Dias

Quarta-feira - Máscara de Gatinho Idiota

"Bianca, pelo amooor de Deus, apaga essa luz...", disse Rafa, "...preciso dormir."

"Mal passou da meia noite", retrucou Bianca. "Só vou acabar de arrumar essas coisas." Ela estava reorganizando suas roupas na mala.

"Minha Nossa Senhora, só coloca essas maquiagens dentro da necessaire e pronto", falou. Se virou para o lado contrário à luz e colocou uma toalha sobre o rosto.

"Toma, fica pra você", disse Bianca, jogando uma máscara de dormir para Rafa. "E não enche o saco." O objeto caiu sobre a cintura da moça, assustando-a.

"O que é isso?", gritou, removendo a toalha da face. Quando percebeu o que era, jogou de volta para Bianca e disse: "Eu não quero essa máscara de gatinho idiota. Quero que apague a luz".

"Se eu fosse você aceitava minha oferta", disse, novamente jogando o objeto. "Eu durmo todo dia depois da meia noite."

Sabendo que havia perdido a batalha, Rafa colocou a venda e tentou relaxar. "Obrigada. Boa noite!", disse.

"Nada. Boa noite!"

Após alguns minutos, vendo que a respiração da companheira de quarto estava mais calma, Bianca deduziu que ela estava quase dormindo. Tentou acabar de guardar suas coisas com pressa, mas em silêncio. "Até que ela fica bonitinha assim", pensou. "Quando não está falando demais, ou passando sermão, ou querendo dar uma de sabe tudo... Aff, é irritante como ela fica fofa dormindo, com o cabelo espalhado e esse pijama brega."

Assim que acabou de juntar seus objetos, Bianca levantou da cama com cuidado para não fazer barulho e apagou a luz. O recinto não se fez um breu por completo dado o fio de luz passava pela cortina. Daquela forma, podia ver o perfil de Rafaella, o que fazia com que ela se lembrasse de outro momento.

A situação havia ocorrido há quase 4 anos, durante uma festa de despedida de solteira de uma de suas amigas em comum. Havia muita bebida e os únicos representantes do sexo masculino eram os gogo boys. Eles fizeram uma pequena apresentação e, assim que foram embora, as mulheres começaram a falar de safadezas. Muitas perguntas eram direcionadas para Bianca e Patrícia, as únicas bissexuais do recinto.

Devido à fartura na bebida, depois de algumas horas, o local se tornou uma confusão de gente falando ao mesmo tempo. A luz estava baixa, o que contribuía para que as mulheres ficassem desinibidas para conversar e dançar. Num dado momento, a noiva chegou perto de Bianca para compartilhar todos os seus temores com a nova vida. Tinha medo de parar no tempo e virar uma dona de casa. Suas queixas faziam sentido, mas estavam muito mais dramáticas por causa do álcool.

"Eu não acredito que vou me casar sem nunca ter ficado com uma mulher", lamentou a noiva. "Me conta como é, Bianca."

"Ah... sei lá. Você quer saber, tipo, em relação a beijo ou... hm... sexo?"

"Os dois."

"Bom, acho que tem mais a ver com o grau de atração que você tem pela pessoa. Beijo é mesma coisa e sexo é quase mesma coisa."

A noiva ficou desapontadíssima com a resposta vaga. "Ah, não, me fala mais, por favor!"

"Não me pede mais detalhes que eu não saberia explicar. Só vendo ou fazendo."

"Me beija então."

Bianca a olhou desconfiada. "Quê?"

"Na brotheragem", brincou, "só pra eu poder dizer que dei mais do que um selinho numa mulher. Nada mais que isso." Ela falou já aproximando seus lábios dos de Bianca, que não resistiu. No começo foi meio tenso, mecânico, mas rapidamente ficou bom. Foi então que Bianca puxou a amiga para uma parede próxima e continuou a beijá-la. Quando se largaram, alguns minutos depois, Bianca se assustou com um belo par de olhos verdes encarando-as do outro lado da sala.