III

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Nota: (1) – Harry Potter e seus personagens não me pertencem. E sim a J.K. Rowling.
(2) – Essa é história contém relacionamento Homem x Homem. Se não gosta ou se sente ofendido é muito simples: Não leia.

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Era uma bela manhã de sol, como outra qualquer, mas a Dra. Elizabeth Owens não tinha tempo para apreciá-la com passeios no parque ou caminhadas na orla de uma praia, pois ser a diretora chefe do Departamento de Psicomagia de St. Mungus requeria alguns sacrifícios. Mas ela não se importava com isso. Não se importava em passar a manhã toda em seu escritório analisando a ficha de um único paciente, porque este paciente era Harry Potter, seu mais novo e peculiar desafio.

Naquele exato momento, então, na solidão de seu sóbrio e imaculado escritório adornado de tons pastéis, ela analisava os apontamentos clínicos que a psicomaga que o assistira em Hogwarts havia registrado na ocasião. E os dados não poderiam ser mais curiosos:

Paciente: Harry James Potter.
Dra: Olivia Spencer.
Primeiro dia:
"O paciente apresenta claros sinais de desespero e transtorno de ansiedade. Insiste em querer voltar para o cativeiro. Às 20h07min precisou ser sedado, momento em que foram administradas também poções Oclumentes, por recomendação do Diretor Alvo Dumbledore".

Intrigada, a Dra. Owens continuou a leitura:

"O paciente acordou, mas continua com os reflexos lentos devido às poções sedativas. Ele chama desesperadamente pelo nome do captor, Tom, implorando que o venha buscar. Seus olhos estão fora de foco, o desespero é palpável em sua voz, e em menos de quinze minutos é preciso aumentar os sedativos outra vez, pois ele estava a ponto de ter uma parada cardíaca".

Sem conseguir conter o desconcerto em seus olhos, Elizabeth continua a leitura e percebe que o desespero será um traço incisivo em Harry durante suas primeiras semanas de volta a Hogwarts, até chegar ao comportamento agressivo:

Paciente: Harry James Potter.
Dra: Olivia Spencer.
Décimo sétimo dia:
"O paciente continua a expressar uma conduta desesperada, mas agora de forma violenta. Há algumas horas, Hermione Granger e Ronald Weasley apareceram no quarto do paciente – um quarto particular ao lado da enfermaria – e foram recebidos com insultos e objetos atirados em cima deles, a magia do paciente estava descontrolada e precisou ser rapidamente contida".

Então a magia de Harry havia se descontrolado mais de uma vez? Pensou a Dra. Owens, lembrando-se do episódio da visita de Draco Malfoy ao hospital.

"O paciente, ao receber a visita do Diretor e do Professor de Poções, recebeu-os aos gritos, exigindo que o deixassem voltar para o seu captor, e aproveitando um momento de distração do Professor de Poções, furtou-lhe a varinha e lançou uma maldição proibida no Diretor, que por sorte não o atingiu. O paciente, então, precisou ser contido outra vez com poções calmantes, mas não parou de insultá-los e de exigir voltar para 'casa' até adormecer sob o efeito das poções. Horas mais tarde, à noite, ao passar pelo quarto do paciente, pude ouvi-lo chorar desesperadamente chamando pelo nome de seu captor".

Naquele instante, a Dra. Elizabeth se encontrava indignada consigo mesma por ainda achar tal relato impressionante. Depois de contemplar a cena da violação na própria memória de Harry e a seguir, ouvi-lo sussurrar o nome de seu violador com tamanha devoção e amor, nada mais deveria surpreendê-la. O quão ela ainda se surpreenderia ao longo do tratamento do menino, porém, ela não sabia. E assim, continuou a leitura, percebendo que desgastantes semanas se passaram até Harry passar do estado da violência e do desespero para a total apatia:

Paciente: Harry James Potter.
Dra: Olivia Spencer.
Trigésimo nono dia:
"O paciente se encontra completamente apático – não fala, não anda, não come, não se levanta da cama, sequer move o olhar da parede –, não esboçou reação alguma ao estar na presença do Diretor e nem mesmo com a visita de Granger e Weasley. Não fala mais comigo de seu agressor, da saudade que sente dele e nem mesmo da vontade de voltar para 'casa'. Ele não fala nada. Não reage a coisa alguma".

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