Movimentos bruscos

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Centro Psicológico Integrado

Hospital de Konoha

Terça-Feira, 2 de Maio, 10:49h


A pior parte de retornar para terapia quando você a abandona por conta própria, é encarar todas as pessoas no caminho para o consultório. Todos os cumprimentos que recebi até aqui soaram para mim como: "Bom dia, Kakashi-sama! Voltando para a terapia depois de fazer a merda de parar sozinho?" e quando eu olhei para a recepcionista e para a psicóloga, o olhar delas eram completamente normais — como das outras vezes que estive aqui —, mas eu senti como se falassem pelo pensamento: "Deu merda e foi obrigado a voltar, hein?!".

Acho que por ser tão auto-depreciativo com tudo que envolva eu e a minha condição, eu decidi alimentar uma raiva sem sentido pela pessoa que, basicamente, me obrigou a estar aqui hoje. Sendo ela o motivo do meu desabafo do dia:

— E ela chega na minha casa como se fosse a dona! — gesticulo exasperado para uma doutora Saiko que me encara com uma sombra de diversão nos olhos, mas, sua expressão no geral, é bem séria — Já não bastasse, praticamente, me obrigar a retornar para a terapia — paro por um minuto e faço uma careta, reprovando a mim mesmo — Quer dizer... não é pessoal — digo para ela que apenas assente com a cabeça, a diversão ainda em seu olhar — Mas eu me sinto a porr... — limpo a garganta, engolindo o palavrão — Me sinto uma criança sob tutela e daqui a pouco ela vai querer me dar a mãozinha para atravessar a rua!

Me jogo no sofá, passando a mão direita pelo cabelo que, agora preso pela bandana, não cai em meu rosto.

A doutora assente mais uma vez e eu juro que ela dá uma repuxada de lábios, mascarando um sorriso, e então anota algumas coisas em sua agenda grossa de capa preta.

Ela cruza as pernas e me encara:

— Entendo, Kakashi — ela respeita o meu pedido de não me tratar formalmente — Mas a decisão de voltar para a terapia, estar aqui agora, foi realmente dela ou você só está criando em Sakura uma válvula de escape para jogar suas frustrações?

Abro a boca em choque pela — implícita — acusação e, por mais que venha várias palavras a minha mente dizendo que não quis falar isso, nenhum som saiu por entre meus lábios.

Ela me encara impassível — não demonstrando aguardar uma resposta, por mais que eu saiba que aguarda — e então reflito o dia anterior com cuidado:

Sakura deixou claro algumas coisas sobre como estava agindo comigo até ontem, mas eu, ainda inconstante em minhas emoções, decidi sentir essa raiva repentina e nem sei mais o porquê. Parece que o questionamento — no começo da sessão — sobre como foram esses últimos dias, acendeu uma chama incontrolável de uma fúria que agora parece boba e sem sentido.

Solto um suspiro rendido e a doutora parece notar, já que continua:

— Consigo entender o seu descontentamento — ela assente, enfatizando — Mas tente entender também o lado de seus amigos. Eles viram você passando por um momento difícil e se desesperaram. Não acha compressível? — ela para por um momento e, quando não respondo, diz: — O que você faria se fosse um deles em seu lugar?

Mexo minha cabeça devagar, absorvendo o significado de suas palavras e não gostando nada das imagens que se formam enquanto isso.

Parecendo muito satisfeita com o andamento da consulta, doutora Saiko se levanta e estende a mão em minha direção, em um aperto formal.

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