*Eileen contando*
Quando a escola acabou eu passei a viver mais na casa de J.O do que em minha própria casa, não sei explicar, mas lá eu me sentia bem mais segura. Eu sempre saia muito cedo e voltava no final da tarde, tinha sempre que está em casa quando a caísse a noite, pois se meu pai chegasse mais cedo e não me visse em casa ele me machucaria muito, lembro-me da única vez que cheguei depois dele, abri a porta da sala e ele estava me esperando sentado em uma poltrona em frente a porta, quando entrei ele me perguntou aonde eu estava, inventei uma desculpa qualquer e ele me agrediu muito naquela noite, me deu murros e chutes na barriga e no rosto, eu nunca entendi de fato o motivo da agressão, mas eu evitava que ela acontecesse de novo.
Comecei a usar aplicativos de relacionamentos e frequentar bares para atrair pessoas para a casa de J.O, com o tempo fui ficando mais confiante, antes, durante e depois de fazermos as coisas no quarto eles e elas me chamavam de linda, diziam que eu era espetacular, me cobriam de elogios, J.O também me elogiava muito pelo meu bom trabalho, eu nunca tinha sido tão colocada para cima em toda minha vida, me sentia bem comigo mesmo toda vez que me elogiavam, eu amava esse "trabalho", me sentia mais amada.
Os abusos sexuais do meu pai ainda eram constantes, desde a primeira vez que aconteceu não havia um sábado sequer que não ocorressem, mas eu aprendi a lidar muito bem com tudo que eu passava naquele quarto, acho que está sempre chapada ajudava muito, quando descobri as drogas, todos os sábados ficaram mais fáceis, então acho que no final não foi de fato algo ruim, entretanto eu sabia que não queria aquilo para sempre, eu sabia que precisava me libertar daqueles sábados, estava me planejando para sair de casa desde que terminei o colégio e assim que fosse possível, sairia sem nem olhar para trás.
As drogas já faziam parte de mim e eu não conseguia viver sem elas, quando eu estava limpa por muito tempo vinha tudo que eu já passei com minha mãe e o que eu ainda passava com meu pai, e quando eu menos esperasse me dava falta de ar, quase desmaiava, eu surtava por estar presa em um corpo com minha própria mente, então será que alguém pode me julgar por ser assim? Por fazer isso? As drogas me ajudaram a superar tudo que antes me causava tanta dor e me ajudam a não perder a cabeça, me ajudam a viver.
Pouco depois de completar 20 anos eu acabei recebendo uma notícia maravilhosa, minha avó iria me dar um emprego em uma loja dela, eu receberia muito bem, tão bem que eu poderia alugar um apartamento e me sustentar, eu conseguiria viver por conta própria. Quando passaram-se algumas semanas eu entrei no emprego, trabalhava como uma espécie de atendente, mas não me importava, daria minha vida naquele trabalho se fosse necessário para sair de casa e assim que meu terceiro pagamento chegou tomei finalmente a decisão de sair, procurei vários apartamentos no meu orçamento, o mais longe possível da casa do meu pai e quando achei já fui alugando, fui comprando aos poucos moveis essenciais e colocando no apartamento, demorei meses para isso, quase um ano completo, mas quando finalmente o deixei habitável fui fazendo minhas malas e levando as coisas aos poucos para lá, não podia retirar tudo do meu quarto, só o essencial, já que eu não estava pronta ainda para contar para o meu pai que eu estava indo embora, acho que era medo do que ele poderia fazer ou medo de magoa-lo com minha partida.
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O mundo das maçãs
FantasySinopse: Eileen tem uma vida complicada desde seu nascimento, mas um dia encontra um mundo fantástico denominado "mundo das maçãs", ela descobre sobre uma profecia envolvendo-a. Após alguns anos ela retorna a esse mundo para cumprir seu destino e te...