Criança

139 11 4
                                    

  - Aí está o senhor, Mestre Falcon - Kayn se aproximava do mais velho - tenho assuntos urgentes a tratar com o senhor.
  - Pois não, jovem?
  - É sobre um novo membro que foi admitido. - desabafou - É um otário que me assaltou uma vez em Fae'lor. Não entendo o que um tipo como aquele está fazendo em nossa irmandade. É como se nossos padrões de admissão estivessem ficando cada vez mais baixos.
   Dito isso, o professor Khuno, do qual Kayn possuía um total de nenhum afeto apareceu no corredor a tempo de ouvir parte da conversa.
   - Senhor Kayn pode se dirigir ao encarregado da admissão de novos irmãos pessoalmente. - interrompeu o recém chegado, referindo-se a si mesmo.
  - Como mestre khuno salientou, ele é o responsável. - Acrescentou Falcon - Eu apenas o auxilio, portanto passe a ele diretamente seus descontentamentos.
  - Kubo... - O mais novo transbordava veneno. - Agora entendo o motivo de estarem chamando qualquer ladrão e mendigo para a Ordem, é você o responsável!
  - Mestre Khuno para você, senhor Kayn. - sua voz era ríspida - creio que seu passado com o novo membro não seja problema meu.
  - Ah sim o grande Mestre Kubo se desviando de suas responsabilidades e ignorando problemas sérios, nada de novo sob o sol.
  - Caso haja um assunto pertinente a tratar, sabe onde me encontrar. - Sua indiferença inflou o ódio do menor. Continuou andando em direção ao seu destino, seja lá qual fosse. Entretanto, Kayn não desistiria fácil.
  - Você é o mestre na arte, do equilíbrio e controle corporal não é? Sabe, seu nome até que faz sentido, em partes - Falava ironicamente - você é quadrado igual um cubo, só não é tão equilibrado nem tem base estável quanto um. - Ok foi uma piada péssima, sabia disso, entretanto seu objetivo não era necessariamente fazer humor, e sim, provocar o professor.
  A dupla havia um passado não muito amistoso. Khuno apenas parou.
   - Não dê atenção a ele, professor Khuno - uma voz grave, imponente e furtiva chegou aos ouvidos do trio- Kayn teve uma infância conturbada e só está chegando à puberdade agora.
   Um sorriso de satisfação se abriu no rosto do professor. Kayn sentiu seu rosto esquentar. Ajeitou sua postura, tomou uma posição mais séria e deu um soquinho de leve no braço de Khuno.
  - Que isso, mestre Zed, eu e Khuno fazemos essas brincadeiras há tempos e ninguém leva para o pessoal. Não é mesmo?
   Khuno permaneceu duro com uma carranca na face enquanto afastava o corpo de Kayn.
   - De qualquer forma fico feliz que esteja aqui, Zed. Assim posso tratar desse assunto com alguém mais... Qualificado.
   - Eu assumo a partir daqui, podem voltar aos seus afazeres, senhores. - Zed dispensou os dois professores, que após uma reverência se afastaram. - Será que é demais eu pedir a você para parar de drenar a sanidade mental do professor?
   Zed falou calmamente enquanto caminhava, olhando o mais novo pelo canto do olho.
  - Não se preocupe com ele, mestre. Sanidade mental ele tem de sobra, mas não posso fazer nada se ele opta por não usá-la.
Em seu rosto estampava um sorriso despreocupado. O mais velho tinha dificuldade de entender o que se passava na cabeça do pupilo. Como conseguia fazer piadas e se apresentar relaxado em um momento de tanta tensão que viviam? Dois dias atrás o menor escapara da morte por pouco, estavam sob a ameaça constante de guerra contra Noxus e, ainda assim, era capaz de brincar e permanecer inerte a maior parte do tempo. Não que Kayn fosse estável, longe disso. Só era curioso os motivos que o desestabilizavam, estes eram os mais aleatórios possíveis e sem sentido aos olhos do mestre.
   - O senhor chegou a ouvir nossa conversa sobre o ladrão?
   - Sim, eu ouvi. Darei um jeito nisso, Kayn.
   Zed parou de repente, fitando o ceifador, os olhos escondidos atrás da máscara perfuravam o jovem no estômago como lâminas. O coração de Kayn começou a acelerar, odiava esse sentimento. O silêncio, que durou alguns segundos, pareceu que ali ficou por uma eternidade.
   - Não vai entrar? - foi então que o ceifador se deu por conta de onde estavam. A porta atrás de si levava à sala para o treinamento infantil. - As crianças já estão te esperando. Fui informado de sua nova aluna. Se houver muita disparidade de habilidades seria bom dar algumas horas a mais de aula solo a ela.
   - Ah certo. - Obrigou a própria mente a se recompor da confusão mental - Obrigado e até mais tarde. - Arrastou a porta para o lado, entrou e a fechou atrás de si como se deixasse para fora os seus próprios sentimentos, que eram como anomalias para Kayn e deveriam ser desintegrados.

Ordem Das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora