Capítulo 3

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-Caramba... Por que isso é tão bom? - Murmurei para mim mesmo, enquanto mergulhava mais uma tirinha de peixe no creme de avelã.

-Posso experimentar? - Peguei uma das facas no faqueiro em cima do balcão e arremessei na pessoa que entrou na cozinha, sem realmente prestar atenção em quem era.

Shisui pegou a faca como se fosse nada e arqueou a sobrancelha.

-Desculpe.

Ele colocou a faca no lugar e veio se sentar ao meu lado. Empurrei o prato com o peixe e o pote de creme em sua direção. Ele mordeu um pedaço, sem esboçar nenhuma reação.

-Hum... É nojento. - Dei de ombros e continuei comendo. - Por que está acordado as duas da manhã? - Pisquei e apontei para o prato, enquanto mastigava.

-E você? Por que está acordado a essa hora? - Ele suspirou e olhou para o balcão. - Está pensando na sua irmã, não é?

-Não a vejo desde que fomos para Fenghuang. Estou preocupado.

-Ela está bem. Esqueceu de um certo lobo que nunca deixaria nada acontecer com ela? - Ele sorriu de leve, antes de franzir o cenho.

-Não é só isso. E se seu amigo não conseguir abrir um portal e eu ficar preso aqui? O que vai ser da minha irmã? - Virei meu corpo em sua direção, lhe dando total atenção.

-Ei, relaxa, isso não vai acontecer. Logo, logo Sai vai se recuperar. Ele abrirá aquele portal e voltaremos a Eldarya. Você não precisa se preocupar. - Coloquei a mão em seu ombro, em sinal de apoio.

-Tudo bem... Vou acreditar em você. - Sorri, voltando a comer.

-Bom. - Dei um olhar de relance para o vampiro e percebi que sua energia estava ficando mais fraca. Então me lembrei de um detalhe. - Ei, Shisui... A quanto tempo não bebe nada? - Ele desviou o olhar.

-Desde que saímos do hospital. - Dei um soco no ombro dele. - Ai!

-Seu imbecil. Isso foi a quatro dias. Não me admira sua energia estar tão baixa. Aliás, não sei como você ainda está de pé.

Me levantei e fui buscar meu celular, na sala de estar. Voltei para a cozinha, me sentando e comecei a digitar uma mensagem.

-O que é isso?

-Um celular.

-Um oque? - Ignorei sua pergunta e continuei digitando. Enviei a mensagem e uma resposta chegou dez segundos depois.

-Pronto. Vão te trazer sangue amanhã. Sei que está acostumado a tomar direto da veia, mas, não é assim que as coisas funcionam nesse mundo, então, vai ter que se contentar com uma bolsa de sangue.

Me levantei e fui lavar o prato que eu estava usando. Tampei o pote de creme e guardei na geladeira, pegando uma garrafa d'agua no processo.

-Como conseguiu uma... bolsa de sangue, as duas e meia da manhã? - Me debrucei no balcão, tomando minha água.

-Pedi para o meu cara do sangue.

-Seu cara do sangue? Isso é... alguém que te arruma sangue quando você precisa? - Perguntou, me olhando estranho.

-Sim.

-Ta... Por que?

-Se tivesse saído dessa casa, como eu estou te dizendo para fazer a três dias, saberia que metade das pessoas que moram nessa rua são vampiros.

-Isso ainda não explica por que você tem um cara do sangue.

***

-Por que é o trabalho dele. - Tomei um gole do meu mors, apreciando o gosto das cerejas.

-Como assim é o trabalho dele? - A raposa ruiva, Kurama, perguntou.

-Que tipo de trabalho envolve conseguir sangue para as pessoas? - A garota vampira, Hinata, se eu não me engano, questionou, franzindo o cenho.

-Conseguir sangue para quem? - Tsunade chegou, se sentando ao lado de Shizune na mesa do refeitório.

"E tudo que eu queria era almoçar sozinho."

Fazia vinte minutos que eu estava respondendo perguntas. Primeiro era só as da médica, depois, mais pessoas começaram a se sentar e perguntar também. Então, Hinata chegou, querendo saber sobre o irmão, como se eu soubesse.

-Acho que Naruto é uma espécie de vendedor no mundo dele. - Respondeu a sereia, cujo nome eu não sei.

-Não é isso. - Engoli um pedaço de torta e voltei a falar. - Ele não é um vendedor. É o nosso líder.

-Líder? Como Tsunade? - A médica perguntou.

-Por aí. Konoha, o lugar em que vivemos, é uma das cinco nações faerys. É semelhante a Eel, pensando bem. Uma vila cheia de fadas, vampiros, lobisomens, e por aí vai. Naruto, como líder, tem o dever de proteger e suprir a necessidade de todos os habitantes de Konoha. Daí, se alguém precisar de sangue, por exemplo, ele consegue.

-Mas... seu mundo é cheio de humanos, e o sangue deles deve ser delicioso. Não é só sair e pegar? Por que os vampiros de lá precisam de ajuda para conseguir sangue? - Questionou Hinata, sem entender.

-Não atacamos humanos. Estamos em paz com eles a três séculos. Não podemos correr o risco de sermos descobertos e entrar em uma guerra por que um vampiro quis seu sangue direto da veia. - Ela balançou a cabeça.

-Espera... Ser descobertos? Os humanos não sabem da existência dessas... nações de faerys? Perguntou Tsunade.

-Alguns sabem, obviamente. Konoha e as outras quatro nações são cercadas por uma barreira que as deixam invisíveis aos olhos humanos. Qualquer um que olhar em direção a cidade só verá arvores e montanhas.

-E se alguém tentar entrar?

-Vai passar direto, como se não tivesse nada lá. Humanos só conseguem entrar se tiverem o amuleto de Aradia.

-E tem muitos humanos na sua vila?

-Nem tantos, na verdade. Trinta, no máximo.

-E... - Me levantei, impedindo a loira de continuar.

-Com licença, mas preciso ver meus pacientes. - Saí antes que alguém me fizesse mais alguma pergunta, mas esbarrei em alguém antes mesmo de dar o terceiro passo. Olhei para baixo, vendo uma garota loira um pouco atordoada. Sorri e ela corou. - Desculpe. - Voltei meu caminho, ouvindo as pessoas na mesa conversando.

-Ino. Você voltou, finalmente.

-Huhum... Q-Quem é ele?

-Aquele é... - Parei de ouvir quando saí do refeitório. Suspirei, um pouco cansado, e fui para o meu quarto. Bom, do Naruto, na verdade.

Senti a presença familiar assim que cheguei na porta. Entrei no quarto devagar, observando Obito sentado no chão, encostado na cama.

Ele só percebeu minha presença quando eu pigarreei. Ele olhou para cima, com o olhar perdido e se levantou.

-Desculpe. - Pediu, passando por mim.

-Obito. - Ele parou, mas não olhou para trás. - Você está bem?

Ele se virou por alguns instantes, depois saiu sem responder.

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