3. Covardia

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       (Não se esqueçam de deixar uma estrelinha ;) me motiva muito ♥️)

-Você quebrou duas costelas - falou dr. Kim enquanto me mostrava os raios x.

- Legal - resmunguei sem emoção. Estava lá à dias.

-Senhor Park, você vem aqui quase duas vezes por mês com algo quebrado, seu veredito é que caiu ou alguém esbarrou em você, nem chega a reclamar da dor, imagino que seja por "costume" - ele fez aspas - e, sinceramente, como médico, geralmente tenho umas noção de como os pacientes se fraturam. Não há como ter quebrado a bacia por comer doces de mais, Park.

  Permaneci em silêncio, doutor Kim estava lá como médico particular da família, mas não sabe como é nossa "família". Sua sala - e ele não fazia ideia - era anti-som, as paredes, claro.
Acordei desses devaneios com duas batidas leves de um punho na mesa

-Park? Você me ouviu?

-O quê?

-Eu disse que vou te indicar para um psicólogo. Na verdade, falarei com sua mãe quando você sair. Jong-suk, posso lhe fazer uma pergunta... Pessoal?

-Claro. -

-Bom... Percebo que você não costuma falar muito, isso não é ruim é claro... Mas seria bom você conversar com alguém e...

-faça sua pergunta, doutor.

-Você sofre Bulling na escola?

"Quem dera poder ir à escola, doutor"

-Na verdade, tenho professores particulares em casa, nunca fui à escola.

- Ah... Você conversa com alguém, sem ser seus pais e irmãos?

"Talvez conversasse, se pudesse sair daqui, doutor"

-Tenho alguns amigos online, conversamos pelo celular - que eu não tenho - todo dia.

-Por acaso você... - interrompi, levantando minha mão para ele se calar.

-Posso ir agora?

-ah... Claro, vou receitar alguns analgésicos para dor... Caso tiver - antes dele ter terminado, destranquei a porta de seu consultório-improvisado e saí de lá.

Mamãe está no batente me esperando. É claro.

-Doutor Kim quer falar com você, mamãe.

-E você acha que eu já não sei? Há-há, como se eu nao tivesse câmeras de vídeo e som por toda a casa.

-Então eu realmente vou num psicólogo?

-Humm... Talvez, você quer?

-Óbvio que não! - franzi o nariz.

-Ok... Então, vou ver qual o dr. Kim me indica.

-Mas eu...

-Calado. Vá para seu quarto.

-Sim, mamãe - baixei a cabeça e fui.

Ao entrar pela porta de meu quarto, larguei o bastão que me ajudava a ficar de pé e cambaleei até minha cama.
Quando sentei nela, partículas de pó voaram, aí eu notei que meu quarto tinha teias de aranha. Que ótimo.

Eu não ia lá havia muito tempo... Geralmente estava no quarto escuro ou sendo punido.

Me deitei rápido de mais, minhas costelas ainda não estavam completamente curadas, recebi uma pontada.
Coloquei as mãos no rosto e tentei relaxar. Mas tudo que consegui foi lembrar do meu fracasso total na conversa com A3.

"O que você acha do impossível?"
"De quê? Do você ta falando? - susurrou- ."
"De... Bom, será que seria muito difícil entrar na cozinha e roubar uns pãezinhos?"
"A8, para disso, você tá quebrado, vamos pra sala do doutor."
"Ok, ok."

Fracasso. A palavra que mais combina. Minha ideia era sugerir que... Fugíssemos, mas quem eu estava enganado? Como eu ia simplesmente chegar nele, com uma ideia absurda, sem um plano e achar que ele concordaria?

Fugir era uma ideia fracassada, arruinada, terrível.

Têm razão, A8... Primeiro faça um plano... Coloque as pessoas contra a parede para não poderem negar... Execute o plano... Se chegar ao extremo... Bom, mate!

Eu estou ficando completamente louco.

Depois de meu pensamento suicida, só o que me recordo é alguém abrindo a porta. Tinha dormido, isso era bom, mas ainda estava completamente cansado.

-Bom dia amorzinho da mamãe, você não vai tomar café da manhã hoje, ok? Primeiro vai se apresentar para sua nova amiga, Jennie.

-Jennie? O quê...? - estava no modo zumbi ainda, será que podiam me dar um tempo? Não, é claro que não podiam.

-Sua psicóloga. - falou simplesmente.

-Olá, Park Jong-suk, espero que sejamos amigos, não só paciente e psicóloga. - ela estendeu a mão para mim, fiquei olhando incredulamente até que ela desistisse. Deu certo.

-Cumprimente ela. Agora. - eu sabia que era uma ordem, mas... Acordei com cobiça pelo desobedecimento.

-Você vai ser psicóloga de nós dez? - ela balançou a cabeça, negando. -Bom, me chamo A... Jong-suk. Oi.

Park Jong-suk, coitado dele, bom, quando alguém vem aqui, para verificar, ou psicólogos e tal, não podemos nos apresentar como A2, A4, etc. Então temos um nome falso.

Não era tão ruim. Mas eu estava com fome.

Ela parecia me olhar com curiosidade, até medo, então me aproveitei disso, deu meu sorriso mais maníaco possível.

Como se fosse louco.

Talvez eu fosse.

Talvez eu quisesse ser.

Talvez eu até gostasse dessa psicóloga, podia me fingir de louco desvairado até ela desistir de me tratar.

Ela parecia fraca.

Não tinha nada melhor para fazer mesmo, por que não vê-la sofrer?

INIMAGINÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora