5. "ou morrerei tentando"

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Na hora do almoço, estávamos todos presentes, comendo aquela "inhaca" novamente.
Nem queria saber qual era o nome daquela coisa.

Estávamos comendo em silêncio, na nossa infeliz vida, quando mamãe apareceu no refeitório -cozinha- e largou:

-PARK JONG-SUK!

Gelei.

Mamãe nunca nos tratava pelos nomes falsos. Apenas quando tem alguém de fora aqui.

Não era o caso.

-Sim? - tentei manter a voz firme, mas não autoritária, poderia piorar a situação.

-O que conversou com Jennie Kim? - nem ao menos cinco segundos se passaram quando ela retornou a explodir - RESPONDA IDIOTA - gritou derrubando três cadeiras vazias, os bebês choravam alto agora, meus irmãos me encaravam. Ouve um estalo em algum lugar, mas não podia prestar atenção naquilo.

Sutilmente, levantei-me, fiquei frente à frente - mesmo de longe - com a mulher de rosto e cabelos vermelhos, a face maníaca.

Até ela, andei com a expressão impassível. Calma e um pouco inocente.

Passos longos, olhando diretamente para seus olhos que agora pegavam fogo. Me aproximava calmamente, esperava que mamãe não gritasse mais, não na frente dos bebês e das minhas irmãs, não queria vê-los preocupados e/ou assustados. Ela poderia me machucar no quarto das torturas depois.

Estava começando a gostar daquilo.

Mas meu sonho de toda noite ainda era ver mamãe queimando. Queimando junto de papai, mesmo que nunca tenha o visto, ele aceitava tudo aquilo.

Ela deveria queimar. E quem deveria colocar fogo era A1.

Frente a ela, respondi:

-Eu apenas respondi perguntas sobre mim. Aniversário, escola e essas coisas.

-Pois bem - não a convenci.

-Por Que a pergunta mamãe? - a olhei com inocência. Eu estava ficando bom e mudar as expressões para o que eu queria e quando eu queria.

-Porque, meu querido A8, ELA QUER QUE TENHAMOS UM TEMPO DE FAMÍLIA JUNTOS! - esbravejou ela no final da frase.

Já estava todo quebrado mesmo.

-Não vejo problema com isso, além do mais, não fui eu quem sugeri tal ato.

Seus olhos pareciam que sairiam das órbitas a qualquer momento.

-O problema é que: NÓS NÃO TEMOS UM MOMENTO ASSIM.

-Sempre é bom ter uma primeira vez.

-Mas daí, eu vou ter que parar o meu trabalho, fazer roteiros para vocês seguirem e...

-E? - ela não respondeu - bom, já que são tão poucos motivos, vamos começar, que tal amanhã?

A fúria dela finalmente explodiu. Levantou a mão, imaginei que fosse levar um tapa, seria bom, mas, não. Ela pegou meus cabelos e, com o outro braço empurrou-me em direção às cadeiras. Esfolei-me, quebrei-me e gostei disso. Era uma sensação boa não ter culpa de nada e salvar meus irmãos de algo pior, ou assim pensava.

Achei que ela me puxaria para o quarto torturante, mas ela simplesmente colocou uma perna de cada lado de meu corpo - atirado no chão, sobre as cadeiras - e começou a me dar socos na mandíbula e maxilar, com o polegar para dentro do punho.

Pelo menos se ela me batesse forte, deslocaria o dedo.

Eu não conseguia ouvir absolutamente nada, apenas o ruído estridente de minha mandíbula trincando.

Pelo menos se ela me batesse forte, deslocaria o dedo.

Não seria fogo... Mas ela se machucaria.

-Você... - nesse momento notei que estava sem um dente, quase afogado com sangue - Você não tem amor. Uma... Uma pessoa... Fria, vo-você - engasguei - Vai mo-morrer sozinha.

Por um momento ela parou, mas foi só imaginação.

Porque eu tinha apagado.

Não totalmente, porque tinha uma noção de que estava sendo carregado.

Doutor Kim saberia a verdade, estava tudo acabado.

  Mas eu ia tanto para aquele consultório que notei que fazíamos um caminho diferente.

  Começamos a subir uma escadas.

  Mas... não tinha escadas.

Quando juntei minhas últimas forças para abrir os olhos, uma luz apareceu, mas sumiu tão brevemente como apareceu.

  Entreabri os olhos, mas não pude ver nada, meus olhos estavam totalmente ensaguentados.

  Quando havia desistido de tentar ver alguma coisa, deixei meu corpo largado nos braços que seguravam-me. Quando pensei que morreria alí mesmo, senti o baque de mei corpo batendo contra o chão e o som de travas se trancando. Não era só minha visão ensanguentada, estava totalmente escuro. Fiquei atirado, pronto para morrer, não me restava mais nada.

Foi então que ouvi:

-Vai ficar bem - falou uma voz conhecida.

Conhecida de muitos tempo atrás.

Um tempo que mal me recordava até então.

O tempo que realmente vivi.

-Eu sairei daqui, rapaz - falou novamente a  voz conhecida, rouca, como se estivesse doente - ou morrerei tentando.

INIMAGINÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora