Dia 1
-Quem é você?
-Acredite se quiser, não sei meu nome, garoto. - a voz ri, sem graça nenhuma.
-Não me chame assim.
-Prefere A8? Achei que ficaria incomodado.
Arregalei os olhos. Como...?
-Você realmente existe? - era oficial, estava completamente doido. Conversando com vozes. Ótimo, próximo passo era comer as paredes.
Novamente a voz ri sem emoção.
-Não ria, responda-me.
-Existo, você percebeu que não respondeu nada que eu lhe perguntei?
-Não é da sua conta.
-Finalmente alguma resposta.
-Sabe pelo menos sua idade?
-Tenho pelo menos uns cinquenta... Não sei contar muito além dos sessenta e oito, então espero não envelhecer tão rápido.
Um enorme ponto de interrogação rondava meu cérebro. Que diferença fazia xingar,contar minha vida e desgraças se era só uma voz imaginaria mesmo?
-Ok, recapitulando, você literalmente não existe, meu cérebro está completamente fora de ordem, me mostrando vozes imaginárias para eu aceitar que estou mesmo louco, você é um velho, sem nenhum respeito, que não sabe contar e eu estou preso com você. - resmunguei uma última parte - que sala é essa?
-Hã?
-Que cor é esta sala? - falei tocando na parede? Na cinza nós somos torturados... Na verde musgo mamãe conversa com meus irmãos...na sala preta ou Quarto Escuro, ficamos sentados no escuro... Na sala amarela, rezamos... Mas essa... Não tem cor, nem luz, o que é?
-Esta, meu rapaz, é a Última Sala.
-Ok, Cérebro. posso te chamar de Cérebro, né? O que é "A última sala"? - debochei fazendo aspas com os dedos, mas logo desisti, eles doíam exorbitantemente.
-Eu tenho certeza de que não estou na sua cabeça, mas pode sim. - ele sorri - Sabe A Casa? Onde você viveu a vida inteira, onde você dorme come e...
-Sei, sei, vá direto ao ponto. - falei seco e grosso, odiava aquele lugar. Não mais do que mamãe, claro.
-Conheço cada lugar dela.
-Humm. E? - era impossível ele saber tudo sobre a casa, meu cérebro conhecia várias daquelas salas, mas nem todas, não conhecia nem mesmo o quarto de alguns irmãos, por mais parecidos que deviam ser com o meu.
-Você não vai confiar mesmo em mim?
-Por que eu confiaria em minha cabeça? Você sabe melhor do que ninguém dos meus pensamento homicidas e suicidas.
Ele riu, não sabia como meu cérebro lembrava daquela risada, mas buscou de volta do fundo do poço. Não que eu estivesse muito acima dele.
Nem eu lembrava de quem era essa risada até então, mas agora... Tinha uma pequena fração de memórias querendo voltar a si dentro de mim, voltar a fazer parte do cotidiano... De um cotidiano muito antigo...
-Você... É o senhor dos meus sonhos... O estalo que ouvi naquele dia... Foi você. Sempre foi, não é?
-Não eram sonhos quando se escuta acordado, A8.
-Mas... Sempre que eu me machucava, eu te ouvia, ouvia sua voz... Eu nunca o vi... Mas eu senti, não sei como e-eu - estava em êxtase. Totalmente perdido.
-Primeiro, eu não estou em sua cabeça, Park. Segundo, não se desespere. - olhei-o com os olhos confusos, suplicantes por uma explicação, olhos sem vida ganhando finalmente algum tipo de emoção - Eu não estava em seus sonhos, não sou nenhum tipo de deus, mas, se eu realmente parar para explicar, você vai ouvir?
Assenti freneticamente.
-Você lembra de ter me visto alguma vez?
Balancei a cabeça, negando.
-Via você todos os dias quando era pequeno. Antes Dela me trancar aqui.
-Dela? Mamãe?
Foi a vez dele assentir.
-Você não é filho dela, nem um de vocês é. Os bebês não são também. Apenas um era.
Queria ouvir cada palavra e guardar, prestar atenção em silêncio, mas não consegui me conter a perguntar:
-A1? - ele me encarou.
-A1? - repetiu.
Assenti.
-Ela o chamava assim?
-Ela nunca falou dele, mas eu penso bastante enquanto estou aqui, e falta um e nós de acordo com as idades. Presumi que fosse o A1.
-Ela o chamava de Tae. Kim Taehyung.
-Taehyung? Mas o que aconteceu? Ele morreu?
-Vou te contar toda a história, mas você tem que ouvir sem interromper.
Assenti novamente.
-Eu tinha acabado de me casar - falou sorrindo, um sorriso triste - eu e Eun-ji estávamos tão felizes, até que alugamos uma pequena casa no interior, eu trabalhava em uma lojinha vinte e quatro horas alí perto, ela trabalhava dando cursinhos on-line para crianças da segunda série. Quando eu melhorei de cargo, nós decidimos adotar, tínhamos tudo que fosse preciso, queríamos uma criança de três ou quatro anos. Adotamos o pequeno Tae. - ele parou por um momento, olhou a parede, recordando, então deu um longo suspiro e continuou.
"Ele era precioso, o bebê mais lindo que já tinha visto... Queria mudar a vida dele, dar o que não pude ter, estudo, principalmente... Mas aí ela disse que queria outro, achou Taehyung esquisito. Falei que descordava, que ele era lindo, mas ela não aceitou."
"Foi então que Eun-ji me mandou sair de casa, mas eu a conhecia bem de mais para saber que ela não faria isso se estivesse plenamente bem. Saí de casa com Taehyung nos braços. Dirigi por horas procurando um hotel. Pensando em como falaria com Eun-ji quando ela se acalma-se."
-Mas... - lembrei que não podia interromper, tarde de mais, quando pensei que ele me mandaria calar a boca, ele se virou para mim, sentado no chão (até porque no quarto não haviam cômodos) e disse-me:
-Pergunte, está tudo bem. - seus olhos estavam levemente vermelhos.
-Eun-ji é mamãe? Taehyung é...era A1?
-Eun-ji não estava em plena consciência quando faz aquilo, e não se preocupe, vou chegar lá.
Assenti para que ele continua-se.
-Após achar um hostel bom o bastante para taehyung dormir, liguei para ela, mas quem atendeu não foi minha mulher.
-Sabe quem foi?
-Foi a pessoa cuja eu prezo todos os dias pela morte.
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INIMAGINÁVEL
Fiksi Penggemar"Sozinho" Essa é uma boa definição de mim. Uma pequena palavra que define uma única pessoa. Completamente sozinho, sem apoio, sem possibilidades. Todos tiraram o que puderam do meu ser, tanto que ele nem é meu. Mas eu tenho uma coisa, talvez a única...