Capítulo 1

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Eu estava sentindo muita raiva.

Mamãe havia decidido que eu iria embora do interior para morar com um primo, que já não via a algum tempo, na capital.

Que saco! Logo agora que estava ficando divertido pegar os machos da região na encolha. Na encolha entre aspas, porque desde que eu comecei a me aventurar com homens o boato se espalhou, e eu tinha certeza que a decisão familiar de me tirar de circulação tinha uma estreita relação com isso. Mas a desculpa era de que já tinha passado da hora de eu prestar vestibular e entrar numa universidade de renome.

Tomei o meu banho vagarosamente, como uma criança que faz birra quando não quer alguma coisa. Mamãe lá de dentro já gritava:

- Otávio, para de enrolar! Quer perder o seu ônibus?

- Quero! – Pensei.

Ai, que ódio! Eu sabia que na cidade grande seria difícil achar uma piroca à altura do Wagner, o caseiro. Fora o beijo doce de meu vizinho Caíque e os sarros quentes feitos com meu amigo de colégio,Diogo. Como eu sentiria saudades.

Joguei a toalha molhada propositalmente em cima da cama e me olhei nu de frente pro espelho. Meus pelos loiros nas pernas brilhavam, iluminados pelo sol de fim de tarde. Fiquei de perfil para observar meu bumbum, que estava cada vez mais duro e empinado. Os exercícios do youtube, enfim, estavam dando resultado.

- Modéstias a parte, eu sou bem gostoso, viu. A capital ficará pequena para mim. – Afirmei, cheio de auto-estima.

Ajeitei meu cabelo castanho e continuei a me encarar no espelho, ao mesmo tempo que lambuzava o meu corpo liso com um creme perfumado.

- Otávio! Eu vou ter que ir aí te preparar a força! Nem parece que estou falando com um homem de dezoito anos!

- Calma, mamãe. Já estou quase pronto.

Mamãe me levou para a rodoviária dirigindo a sua veraneio prata. Fiz questão de não abrir a boca pra falar um "a". Queria deixar claro que aquela ideia de me mandar para fora do interior era desumana e sem necessidade. Mas como mamãe era mandona e agressiva nas palavras, nem adiantava retrucar.

- Um dia você vai entender que é para seu bem, Otávio. Você precisa garantir o seu futuro e independência. Já protelou demais. Seu primo Rômulo é um rapaz bem sucedido e um grande exemplo para você se inspirar. Vai te ajudar com tudo. Te ligarei todos os dias para saber como está sendo.

Ouvi as palavras dela com certo tédio. Eu não estava a fim de ter exemplo algum. Ele era ele. Eu era eu.

Durante a vida inteira me compararam com meus primos. Rômulo era só um deles.

Ah, o fulano é estudioso.

Ah, o fulano é educado e não se comporta assim

Ah, o fulano é da sua idade e já conquistou isso e aquilo.

Muitas vezes saía de perto para não virar os olhos diante dessas ladainhas.

Descemos do carro. Não precisou que mamãe me ajudasse com as malas. Não era muita coisa. Meus outros pertences seriam mandados depois.

Assim que o ônibus chegou a abracei friamente e me despedi.

Entrei no ônibus. Minha cadeira era a última da fileira. Sentei-me confortavelmente e fechei os olhos. Poucos minutos depois o veículo seguiu adiante.

- Tomara que essa mudança valha a pena de alguma forma. – Torci.

Meu primo, Rômulo Minatto, era um advogado recém formado, mas já tinha emprego garantido num conceituado escritório de advocacia, pertencente à seu sogro. Era noivo da filha única desse advogado renomado. Eu sabia de todos esses detalhes porque as minhas tias fofoqueiras davam notícia de tudo.

Fazia alguns anos que eu não o via. Desde que ele tinha se mudado para a capital, suas idas para o interior eram cada vez mais raras.

Aquela viagem já estava me deixando cansado. Ainda faltavam algumas horas.

Quando cheguei, Rômulo já me esperava no terminal.

Demorei a reconhecê-lo. Estava com tanto mau humor que mal queria olhá-lo. Mas a mudança brusca de aparência que ele tinha sofrido ao longo dos anos foi mais forte que qualquer coisa. Meu primo tinha triplicado de tamanho. Agora era um homem másculo e atraente. O reparei e fiquei muito impressionado com aquilo, mas disfarcei. Ele então me abraçou fraternalmente com um sorriso largo no rosto. Não fiz questão de demonstrar o mesmo. Sempre fui muito fiel aos meus próprios sentimentos.

- Que cara é essa, Otávio. Não está feliz de vir morar na cidade grande?

- Não, Rômulo. Eu vim contra a minha vontade. – E fechei o semblante.

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