Realidades Paralelas

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"Merda!" Gerard exclamou, tombando para trás ao sentir o peso pungente de sua carne recaindo sobre o seu corpo mais uma vez. Era uma sensação tão esquisita... precisamente como se sua massa corporal se subdividisse em pedaços microscópicos para então emergir do nada como um vaso quebrado recém concertado, lentamente se fragmentando no ar com cola quente, até que sua cabeça por fim repousasse em seu lugar de costume, para lhe dar sentido ao mundo. Tudo isso acontecia tão rápido que era difícil mensurar a exatidão do tempo. Num piscar de olhos todo o cenário mudava, fazendo com que qualquer criatura detentora de ouvidos sofresse de uma sensação infernal e nada divertida de labirintite. O enjôo vinha junto, é claro, encravado em seu estômago como um balão de ar quente que felizmente não parecia estar prestes a estourar como das outras vezes.

"Me desculpe, eu deveria ter segurado você." Frank se retratou, guardando o relógio de forma automática na bolsa. Gerard não o respondeu, ao invés disso, observou o novo ambiente. De cara, ele pôde ver, era uma praia.

"Achei que estávamos indo para a sua casa espacial." Murmurou, afundando os dedos na areia pastelarizada.

"Casa espacial?" Frank riu, claramente desnorteado diante daquela sugestão estóica.

"Tipo em Zathura, uma casa flutuando no espaço." Esclareceu. Estava abismado, para dizer o mínimo. Havia um mar azul e profundo diante de si, com uma linha horizontal na longitude tocando o céu azul celeste; uma lua brilhante e minúscula despontava no centro de tudo e uma espuma branca dançava num vai e vem sobre a areia molhada, quase esbarrando em seus sapatos; o cheiro do oceano e seu som acolhedor retinindo contra si mesmo encheu graciosamente os seus ouvidos, tão calmante, tão dessabida de sua própria beleza, clareando sua mente como uma grande borracha branca. "Com... planetas e asteróides..."

Frank gargalhou, e estendeu uma mão para ajudá-lo a se levantar. Gerard aceitou a gentileza, estalando sua palma direita com a de Iero. "Uma casa no espaço? Não me parece muito viável." Ele grunhiu, impulsionando-se para trás a fim de puxar Way para cima de uma vez por todas. "E o oxigênio? Nós estaríamos mortos agora."

"Em Zathura isso não importa." Gerard resmungou, olhando para trás como se lembrasse de repente que á sua retaguarda haveria de ter alguma coisa. Mas não havia nada lá, quer dizer, nada além de uma casa praiana comum, daquelas que se vêem nas costas da Califórnia á beira mar, e uma floresta esverdeada, tropical, logo atrás. Um suspiro evaporou de sua garganta, estava surpreso com a imagem banal (apesar de bonita) uma vez que a sugestão da palavra 'espacial' o fizera fantasiar acerca de algum tipo de casa suburbana flutuando no meio do espaço sideral...

"É, mas nós não estamos em Zathura, seja lá o que isso for." Frank revirou os olhos, firmando uma mão ao redor da mala de Gerard.

"Nunca assistiu Zathura? Era um dos meus filmes preferidos na infância." Gerard falou, empurrando a mão dele, para que pudesse segurar a sua própria mala, o homem, no entanto, o afastou. "Eu posso segurar a minha-"

"Não seja chato, só aceite a gentileza." Frank o cortou, caminhando decisivamente em direção à casa. "Por que as pessoas do seu tempo tem essa mania insuportável de... de serem modestas o tempo todo?" As pessoas no seu tempo. Way sacudiu a cabeça e alinhou seus passos com os dele.

"As pessoas são modestas quando não querem parecer arrogantes." Sibilou, cruzando os braços. "E não acredito que me chamou de chato, e nem respondeu a minha pergunta. Que tipo de pessoa nunca viu Zathura quando criança? Onde você vivia, pelas pirâmides do Egito há mais de mil anos atrás?"

Endless † FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora