Donatello Masen
Ainda criança perdi a capacidade de sonhar, geralmente dormia com dificuldade por curto espaço de tempo. Totalmente agitado, acho que era por isso que as vezes enchia a cara.
Descia as escadas que davam para minha oficina no andar de baixo, que por sinal já estava aberta graças a Thereza e seu puritanismo de não beber todas as noites durante a semana. Mas como hoje já era a tão amaldiçoada segunda-feira e minha saideira de ontem foi uma dose de conhaque potente além, é óbvio de fechar a noite na cama da Thereza, no que ela disse ser nossa ultima transa. Merda, porque as mulheres não entendiam que determinadas convenções são para serem ignorados, pelo visto aquele nazista estúpido conseguiu cessar o único sexo honesto que eu tinha.
– Que palhaçada é essa Thez?! - tirando a camisa e jogando com violência no chão - tá de sacanagem ou por acaso ficou louca de vez? –rasgando a camiseta azul céu que ela usava.
–Não vou sair com um cara casado! Isso de ser destruidora de lares não combina comigo... –beijando o peitoral nu dele- por mais que seja tentador demais... Acabou Masen.
–Acabou?! –gargalhando enquanto passava os dedos entre os cabelos soltos dela- Deus Thez! Você falou como se tivéssemos alguma coisa pra terminar. Mas... –deslizando a língua sobre o contorno do sutiã dela- vamos fazer serviço completo...
Descia as escadas em espiral ainda com os cabelos ensopados da ducha rápida que tive que tomar depois do banho de baba que a Cérbero me deu quando me acordou hoje mais cedo. Usava apenas a mesma calça jeans cinza claro um pouco justa como eu gosto e meu All star todo preto.
O vento frio que entrava bateu no meu peito nu ajudando a sair da letargia de uma semana agitada. Parei no ultimo degrau tentando reconhecer as vozes que tagarelavam sem parar alguns passos da entrada. O sol machucava meus olhos, então levou um segundo para que eles entrassem em foco. Era a Thez que falava com a senhora Jones como quem fala com uma criança, claramente já no seu limite. A senhora Jones agora me devorava com os olhos ao invés de prestar atenção no que a Thereza falava com ela.
–Masen!... Olá, bom dia... – enrolando uma mexa do cabelo preto enquanto mordia o lábio inferior.
–Esqueceu onde fica suas roupas por acaso?! – sarcástica cruzando os braços claramente nervosa.
– Não. Mas acho que esqueci na sua cama a minha melhor camisa, que tal devolver o souvenir?! - irônico, com um sorriso vitorioso nos lábios - cadê o imbecil do Mattheo? - olhando em volta.
– Ainda não deu as caras, igualzinho a você! – pegando sua prancheta e olhando nervosa para ela - como estava te falando, não temos vaga para dar um revisão no seu Toyota pela quarta vez esse mês senhora Jones.
– Você é mais útil quando usa essa sua língua para outras tarefas – passando por elas e pegando uma xícara de café e indo até o seu escritório.
Pelo começo do dia já dava para se prever como ele terminaria. Meu maldito prazo termina hoje e isso significava que meu mal humor atingiria níveis estrondosos. Vi quando o inútil do Mattheo chegou na oficina uns minutos depois, queria socá-lo! Por mais que soubesse que não ajudaria em nada, era isso que eu mais queria por que a culpa era dele.
Joguei meus pés na mesa de madeira velha enquanto tomava o café forte da Thereza. Uma semana! Bebi e farriei mais do que nunca para não ter que pensar que ela acabaria e eu seria obrigado a jogar aquele jogo estúpido. Mais ainda havia uma saída, se a tal garota não fosse estúpida de embarcar nessa com a família de lunáticos dela. É até confesso que a falta de telefonemas e da perseguição daquela manada me deu esperança de que a mini pé grande tenha mostrado as garras e mandado tudo pro inferno.
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Vikings do Asfalto
Romansa(+18) Minha religião é o Rock n' Roll, só o abandono quando eu morrer. Ele me mantém livre, um forasteiro tatuado em meu próprio bairro. A doce arte de ser um ferrado aclamado, o rei do asfalto e mesmo assim, ser um fiel prisioneiro do rock. E eu so...