Prelúdio

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[18/10/1867]

Continuo no encalço da criatura durante todos os luares. Tenta fugir, mas é ela quem vem de encontro a mim. Quer que eu a siga e não se mexe até que eu o faça. Nas noites de lua cheia, ela vem até a minha janela e emite um som baixo de assobio. Sim, ela assobia para mim.

Papai tentou matá-la com um tiro de espingarda, mas o impedi a tempo. Não o culpo, não completamente. É assim que ele sabe lidar com o que não entende.

Eu sempre me ausento do meu quarto em silêncio. Ninguém nunca descobriu, tampouco um dia descobrirá. Sou quieta, como a criatura a qual aqui relato com tanto carinho.

Carinho, eu digo, porque ela é como uma amiga. Sinto que a conheço de gerações. Esgueira-se pelas árvores e então corre para dentro de um imenso milharal. Fui covarde nas primeiras noites e não tive coragem de adentrar a densa folhagem, mas agora sigo sem medo, apenas com mais e mais vontade.

Eu tenho um segredo. Da última vez, as luzes estavam mais fortes. Que bonito que era... Me enchia de energia, funcionava como uma bateria dentro de mim. Que lindo!

É um lugar mágico. Mágico a quem se permite ver.

Jeon Gajoo.

O Dhole dos Campos [tk]Onde histórias criam vida. Descubra agora