"O limite lhe era frívolo. Olhou para o céu e viu então que queria ser como uma ave. Aprender com elas, fazer parte de sua liberdade. Rezou para que um pássaro pudesse salvar-lhe da monotonia diabólica que a vida havia lhe entregado em mãos."
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Manhãs não têm gosto algum. As suas manhãs não tinham.
As tardes são os pratos principais e as noites são a sobremesa, fazendo com que a manhã seja apenas um aperitivo, é claro. Um gostinho inicial para te preparar. O cardápio é definido pelos acontecimentos, mas você nunca tem tempo de decidir exatamente o que vai querer, já que os cozinheiros são sempre muito ágeis. Às vezes os pratos são amargos, às vezes doces ou salgados. Mas as suas manhãs apenas não tinham gosto, e isso era em função do seu desprezo por situações matinais desafiadoras. É o que ele pensava desde pequeno. Estar livre de obrigações mais sérias não serve para aproveitar o tempo com coisas que você gosta, e sim para fingir que você não existe.
Hoje havia acordado cedo. Nada realmente lhe atrapalhava a dormir. Não havia qualquer incômodo sonoro ou algum excesso luminoso. Não havia nada imposto para si, ele estava perfeitamente livre para ficar deitado por horas. Mas não conseguiu. Era sua primeira vez despertando naquele quarto ainda estranho para si e, deveria admitir, pensamentos de curiosidade invadiram sua mente e não o deixaram dormir para além do que lhe era de costume. Então, se queria tanto um dia insípido, talvez devesse tentar numa outra hora, porque a julgar pelo cheiro que conseguia sentir mesmo estando no andar de cima, essa manhã teria gosto de café e ovos, a despeito do pequeno bolo repousando no batente da janela. Era agradecido ao seu avô, mas não teve apetite para um pedaço se quer.
Quando Jungkook saiu do seu quarto, olhou para os dois lados. Ninguém por ali. Estariam ainda dormindo? Respirou fundo e mordeu seus lábios com força, mas não conteve os seus olhos grandes e curiosos, que logo foram atraídos para as portas centrais. Aquilo não saiu da sua cabeça por um mísero segundo desde que abriu os olhos nessa manhã abafada de outubro. Como quem não quer nada, pôs-se em frente ao cômodo. O que havia de tão secreto ali dentro, afinal?
Olhou com cuidado a maçaneta de prata com flores entalhadas.
"É lindo" foi o que pensou. Sua mão levantou lentamente, como se fosse atraída por um ímã, uma vontade tentadora e, talvez, anormal.
— Não — repreendeu-se. — Não, Jungkook.
Balançou a cabeça em negação e recobrou a própria decência. Sinae havia deixado claro que aquele lugar era proibido. Não importava, não deveria ser nada demais, mas sua curiosidade travessa pulsava em ansiedade mesmo assim. Talvez não valesse a pena testar a paciência do seu avô. Afastou-se da porta dupla antes que alguém o visse ali. Adentrou o banheiro mais ao lado e fechou rapidamente a porta. Por um segundo, sentiu que seria capaz de engasgar com o próprio ar. Boquiaberto, deu um passo para a frente e olhou em volta, extasiado. O banheiro tinha, provavelmente, um tamanho ainda maior do que o seu quarto. Não, do que o seu quarto somado ao da sua mãe. Um apartamento médio facilmente poderia ser introduzido ali.
Era até que engraçado. Quer dizer, olhar o casarão pelo lado de fora já lhe dava a impressão de que era enorme, mas apenas pode-se ter noção ao adentrar e checar o tamanho de tudo, cômodo por cômodo. Que utilidade tem um banheiro tão grande assim?
Virou para trás e viu belas pinturas de anjos graciosos e mulheres de longos cabelos pintados à porta. Os detalhes em azul foram minuciosamente espalhados pela arte, fazendo com que parecesse algo verdadeiramente mágico. Bem, o resto do lugar era, assim como a sala de estar, decorada com pilastras de mármore e obras de arte em volta. Uma única janela circular próxima ao teto dava conta de iluminar todo o lugar com a luz pálida de fora.
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O Dhole dos Campos [tk]
Fantasy[Em andamento] Jeon Jungkook já estava acostumado à cidade, e apostaria a sua integridade para defender a ideia de que ali era o único lugar possível para ter-se uma vida decente. Quando problemas de saúde começam a comprometer os seus dias, é obrig...