III - A curiosidade (não) matou o gato.

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"O pássaro sentiu pena da pobre criatura no chão, então se aproximou e submeteu-se a ouvir suas vontades. Não eram diferentes de todas as outras que já ouvira em sua vida, mas havia algo único na menina: uma mente muito sonhadora. Essa era a particularidade que ela menos aproveitava em si própria, e, ainda, a que mais assustava ao pássaro."

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A brisa gélida batia em seu rosto, fazendo seus braços se arrepiarem. O sol se escondia atrás de uma grande cortina de nuvens, e os prados até pareciam começar a sentir o frio também. Jungkook continuava apanhando as maçãs já muito maduras das árvores que ainda não tinham amarelado tanto quanto as que estavam ao seu redor. Logo, todas as suas folhas cairiam por completo, e os troncos corpulentos passariam de dias coloridos para alguns meses mais frios e tristes.

A bacia azul apoiada nos braços do garoto já estava quase cheia quando, enfim, ele se cansou e decidiu que aquela quantidade já era mais que suficiente. Segurou-a entre as mãos e arrastou o passo até a cerca branca em frente à casa azul vibrante. Quando se sentou, sentiu o peso deixar os seus ombros, permitindo-lhe respirar fundo e com mais leveza. O dia estava bonito. O outono finalmente começava a avançar. Provavelmente, ele já terá ido embora quando o inverno chegar ali. Imaginou o quão mais solitária Yangmagol conseguiria se parecer assim que a neve a cobrisse por completo.

Balançou as pernas para frente e para trás, pegando uma das maçãs e dando-lhe uma faminta mordida. Estava deliciosa. Sinae pedira para que Jungkook lhe fizesse o favor de colher tudo que conseguisse colocar naquela bacia, e ele o fez sem pestanejar. Afinal, mal podia esperar para experimentar a torta de maçã que ela prometera mais cedo naquele dia. 

Ao contrário do que você deve imaginar, a mente de Jungkook não esteve tão leve assim nas últimas horas. Quanto menos tentava pensar em adentrar aquele cômodo secreto ao lado do seu quarto, mais incessante esse pensamento parecia. Não era nada demais, mas em momentos de tédio, pôr sua curiosidade em prática sempre soava como algo intrigante. Além disso, ainda tinha a maldita conversa que tivera com o rapaz sem nome do dia anterior. Não é que realmente estivesse considerando encontrá-lo, mas não parava de pensar em que coisa era essa que ele queria lhe mostrar. 

Quando o sol saiu de trás das nuvens e encontrou sua pele novamente, Jungkook levantou os olhos semicerrados para o céu e sorriu. Estava pensando demais, como era de costume. 

Desceu da cerca e, antes que se aproximasse mais da área do celeiro, parou à porta da cozinha. Não havia ninguém, então apenas colocou a bacia sobre a mesa circular e saiu pela casa, procurando um sinal de alguém. Seu avô havia saído com a charrete pela manhã, apesar dos protestos de uma Sinae muitíssimo preocupada. Enquanto assistia a cena de sua janela, Jungkook ouviu a mulher comentar sobre a saúde debilitada do homem. Ele parecia bem. Deve ser aborrecedor ser impedido de sair da sua própria casa mesmo tendo uma idade tão avançada. 

Sozinho na sala, Jungkook sentiu uma enorme vontade de gritar só para ver qual seria o resultado. Conteve-se, mas não pôde evitar suas mãos ansiosas de abrirem todas as cortinas, finalmente deixando a luz entrar naquele lugar.

— Uau! — exclamou. — É como estar em um lugar totalmente diferente. 

As esculturas de gesso brilhavam com a luz do sol, os tijolos quadrados da lareira pareciam ganhar cor e, acima do grande sofá de madeira maciça, podia ver as minúsculas partículas de poeira voando brilhantes para todos os lados. O garoto riu e pensou em quanto tempo aquelas cortinas ficaram ali, paradas. Apenas esperando esse momento. 

O Dhole dos Campos [tk]Onde histórias criam vida. Descubra agora