Capítulo 2

277 14 7
                                    


Griselda seguiu para sua casa trocar seu velho macacão molhado por um tailleur, pois naquela tarde tinha uma reunião importantíssima agendada.

Tereza Cristina, ainda confusa com os acontecimentos inusitados daquela manhã foi tomar um banho quente e dar andamento aos seus trabalhos.

Ela era uma das consultoras de moda mais requisitadas do Rio de Janeiro, sócia com seu irmão e cunhada da empresa Fio Carioca, cuja marca era conhecida em todo território nacional e até mesmo em alguns outros países. Seu horário era bastante flexível, lhe permitindo trabalhar home-office, assim poderia ter mais tempo para o marido e para os filhos, principalmente o caçula René Junior, que vinha lhe arrancando os cabelos em decorrência de algumas notas baixas no colégio ao passo que Patrícia, sua filha mais velha, estudante do oitavo semestre de Psicologia só lhe enchia de orgulho, sempre tirando as notas mais altas e se sair muito bem em seu estágio.

Tereza Cristina tinha muito orgulho da família que formou ao lado do marido. Os dois se conheceram quando ela foi estudar moda em Paris e ele era chef em um pequeno bistrô próximo a universidade em que ela estudava.

Foi paixão à primeira vista. Se viam praticamente todos os dias, pois ela fazia questão de almoçar onde ele trabalhava e aos poucos foram estreitando a relação.

Nos dias em que tinha folga René que já residia na cidade-luz desde a adolescência lhe apresentava os lugares mais incríveis da capital francesa.

Namoraram por dois anos até o dia em que Tereza Cristina precisou voltar para o Brasil, já que todos os seus projetos de vida estavam aqui. Não queria se separar dele e até cogitou a possibilidade de residir nos dois países o que não foi preciso, pois René largou tudo para voltar com ela para o Brasil e começarem uma vida nova juntos.

Ele perdera os pais muito novo, filho único, não tinha nada que o prendesse lá e certamente com toda a sua bagagem na culinária francesa o impulsionaria para uma carreira promissora por aqui.

Com todo o dinheiro que juntou ao longo dos anos, que ao contrário dela filha de Antônio Buarque e Catarina Siqueira, um dos casais mais ricos do Rio de Janeiro, tubarões do ramo têxtil, com tecelagens espalhadas por várias capitais brasileiras, sua família havia falido.

Henri Velmont era viciado em jogos e perdeu toda fortuna da família nas mesas de pôquer, os levando a ruína e não demorou muito para que sucumbisse tamanha tristeza e derrota. No ano seguinte, sua mãe Alice, morrera de câncer e em um ano René estava sem família, sem dinheiro, recém formado em Gastronomia, agarrou com unhas e dentes a oportunidade que recebeu de Leon, dono do bistrô em que trabalhou por anos até vir para o Brasil.

Se casaram poucos meses depois a chegada ao país e somente três anos após ao casamento, veio Patrícia.

Os dois estavam tentando a bastante tempo ter um bebê e se frustravam algumas vezes quando a menstruação de Tereza Cristina atrasava, soando alarme falso.

Passaram por alguns médicos a fim de saber se havia algum problema com o casal e todos foram categóricos em dizer que o problema dos dois era ansiedade apenas, que quando menos esperassem o bebê iria chegar.

Depois de uma viagem para o México, ela voltou a viagem toda passando mal, mas atribuíram o mal estar ao vôo, tempero acentuado demais e não deram importância aos sintomas que duraram aproximadamente dois dias.

Ela que também não tinha a menstruação regular e em decorrência de frustrações anteriores nem cogitou a hipótese de finalmente estar grávida e num almoço na casa de seu primo Álvaro, no decorrer da conversa enquanto os dois casais estavam à mesa, Zambeze disse categórica:

-Olha isso Álvaro, a Tereza Cristina está tão linda grávida! Está com a pele mais bonita, olhar radiante e olhando essa barriguinha chuto que deve estar de uns três meses.

O casal olhou para ela assustados. Zambeze que era massoterapeuta, tinha um lado todo místico, além de ser extremamente intuitiva.

Eles não queriam criar falsas esperanças e somente após alguns dias daquela conversa, Tereza Cristina foi fazer teste de gravidez e não conseguiu conter as lágrimas assim que leu POSITIVO.

René ao saber da notícia, fechou o restaurante por uma noite para comemorar com os amigos mais queridos e familiares.

Ele que a mimava antes mesmo da gravidez, passou a mimá-la muito mais e Tereza Cristina não lhe deu pouco trabalho durante a gestação.

Numa madrugada acordou com desejo de comer pizza de bacon com leite condensado e ele rodou por alguns bairros para encontrar uma pizzaria aberta as 4h00 da manhã.

Sem contar as crises de ansiedade e o choro constante. Qualquer coisa poderia ser um gatilho para ela chorar e René tinha toda paciência do mundo em pegá-la em seus braços e acalmá-la.

Outras vezes seu apetite sexual era voraz e não foram poucas as vezes que o marido saiu do restaurante só para satisfazer suas necessidades. Ele não reclamava, pelo contrário, adorava receber as mensagens provocativas que ela mandava em seu pager.

Patrícia nasceu no início de dezembro, tão linda e solar quanto o verão que se aproximava. Presente de natal antecipado, o amor personificado e os dois não se cansavam de babar na pequena cria.

René Junior chegou quando Patty já estava com 5 anos. Ao contrário da irmã, nasceu no inverno e de surpresa.

Tereza Cristina estava brincando com a filha no quarto de brincar quando sentiu fortes dores, bem diferente da primeira gestação. Sabia que havia algo errado pois o parto do garoto fora marcado para setembro e ainda era julho. Para sua sorte, Paulo e Ester fora lhe visitar e imediatamente ele a levou para o hospital, enquanto Ester ficou cuidando de Patricia.

Não demorou para que René aparecesse no hospital, pálido, desesperado, querendo saber de sua mulher e seu filho.

Ele e o cunhado andavam de um lado para outro no hospital e ninguém lhes dava notícia. Cada minuto parecia uma eternidade e então a obstetra de sua mulher disse que o bebê havia nascido prematuro, que seu quadro era estável e que precisaria passar por algum tempo no hospital, até ter condições de ir para casa. Quanto a Tereza Cristina, ela estava bem, apenas sedada e dormindo.

René precisava desesperadamente veros dois e se emocionou ao ver o seu filho tão frágil e pequeno, com suporteventilatório e os olhinhos cobertos por uma máscara. Pensou em sua mulher quecom certeza ficaria bastante impressionada e ele sabia que precisava estarforte para dar a ela todo o suporte necessário e enfrentarem juntos aquelemomento tão difícil e passaram, mais unidos do que nunca se amando e cuidandocom todo amor do mundo de seus herdeiros. 

É VOCÊ...Onde histórias criam vida. Descubra agora