É VOCÊ...

Capítulo 9

Quando chegou em Itaipava Tereza Cristina viu um carro estacionado em frente sua casa, deduzindo ser do engenheiro.

Acionou o portão com o controle remoto e entrou, e logo desceu do carro para certificar-se de quem era e qual não foi seu espanto ao ver sair do outro veículo, trajando roupas sociais, impecável, a faz-tudo que a socorrera no dia do incidente no jardim.

Reconheceria aquele par de olhos azuis em qualquer lugar do mundo, sob qualquer disfarce e sem entender o porquê fora tomada por uma ansiedade e um arrepio correndo pela espinha ao ver tão radiante sorriso.

GRISELDA -Quem diria que iriamos nos encontrar novamente hein Tereza Cristina.

TEREZA CRISTINA -Pois é, confesso que estou bastante surpresa! – Foi só o que conseguiu dizer, piscando algumas vezes como se quisesse se certificar de que não era uma miragem.

GRISELDA -Uma agradável surpresa. Fiquei feliz em lhe reencontrar. Você é a esposa do senhor Paulo?

TEREZA CRISTINA -Imagina, o Paulo é meu irmão e eu vim para receber o engenheiro e...

GRISELDA -Que sou eu e como as vezes acontecem, acham que sou um homem só por conta do nome da minha empresa e acredito, pela sua cara, que também esteja estranhando me ver assim, tão diferente da primeira vez em que nos vimos, não é mesmo?

TEREZA CRISTINA -Me pegou senhora Griselda. Não sei disfarçar a minha curiosidade.

GRISELDA -Que tal lhe contar a minha história degustando uma boa taça de vinho e um bacalhau na brasa, mas primeiro o trabalho.

Tereza Cristina ficou ainda mais admirada com a naturalidade com que foi convidada para jantar por uma ainda, desconhecida.

Griselda vistoriou detalhadamente todas as estruturas da casa, deslizando as mãos por algumas paredes a fim de detectar algum tipo de imperfeição, fissuras, rachaduras. Anotou em seu ipad todos os detalhes que precisavam ser reparados, sua inspeção fora minuciosa. Pediu licença a dona da casa para trocar de roupa, substituindo o conjunto de saia e camisa pelo velho macacão, pois precisava subir no telhado e no sótão da casa para avaliar as condições do madeiramento, telhas, instalações elétrica e hidráulica.

A dona da casa ficara impressionada com a habilidade com que Griselda subiu no telhado e com medo de que pudesse cair daquela altura.

GRISELDA -Você deveria subir aqui comigo. O pôr-do-sol é muito mais bonito daqui de cima.

Tereza Cristina nunca tinha subido em um telhado em toda a sua vida e tão menos esperava uma proposta tão inusitada. Ela era uma mulher de natureza corajosa, tanto que essa era uma das qualidades que o marido mais admirava nela. Fazia hipismo, mergulho em alto-mar, altura não era o seu forte, mas estar diante de um convite tão incomum mesmo com medo subiu, a excitava, principalmente quando este convite vinha de alguém que sem saber porque lhe inspirava segurança e então estendeu uma das mãos para que a outra a pegasse.

Sentaram juntas no topo do telhado olhando atentamente para um dos maiores espetáculos da natureza e para Griselda assistir em tão adorável companhia só fazia tudo ser muito melhor.

Sem a menor vontade de saírem dali, as duas foram se envolvendo em uma gostosa conversa. Compartilharam um pouco de suas vidas e Tereza Cristina se viu cada vez mais admirada pela história de vida de Griselda. Aquela mulher realmente era fascinante.

Depois do pôr do sol, quem roubou toda a atenção da engenheira fora os olhos verde-oliva da senhora Velmont. Sentia seu coração se aquiescer só por estar perto dela. Não tinha a menor pretensão de tentar algo mais íntimo, pois sabia que a outra era casada e se contentaria em tê-la como amiga.

Se divertia com o seu senso de humor, sua espontaneidade, seu jeito todo empoderado. A voz firme e levemente rouca lhe aguçavam os sentidos e aquela dose de manha, acentuava ainda mais o seu charme.

De repente foram novamente agraciadas pela natureza com um banho de chuva. Os pingos grossos caiam-lhes sobre a pele, refrescando seus corpos naquele inicio de noite tão quente. Tereza Cristina até quis se abrigar da chuva, mas foi impossível resistir quando Griselda segurou uma de suas mãos e lhe disse: "Se permita, apenas se permita!"