Capítulo 1

420 22 16
                                    

Já passava das 9h00min da manhã quando Griselda acordou afobada por ter dormido além do habitual, justo ela que sempre acordava antes das 6h00min da manhã. Aquilo sem dúvida foi uma das raras exceções, pois havia dormido tarde após um jantar com um casal de clientes que contratou sua empresa para fazer a reforma de sua casa no condomínio Marapendí Dreams, um dos condomínios com o M2 mais caro do Rio de Janeiro.

Ela que começou a vida profissional como faz-tudo, após anos de esforços conseguiu graduar-se em engenharia civil e abriu sua própria empresa cuja equipe era composta apenas por mulheres de diversas áreas, paisagistas, arquitetas, pintoras e até mesmo "faz-tudo", como ela fora em outrora. Por esse motivo, sua empresa era uma das mais requisitadas da capital por saber que ela oferecia um trabalho de excelência e empregar tantas mulheres em meio a um mercado extremamente machista.

Griselda não tinha o hábito de ficar até tarde fora de casa e só abriu uma exceção porque o casal em questão era Juan Guilherme e Letícia, filha de uma de suas melhores amigas, que a convidou para o jantar em comemoração a casa nova.

Assim que saiu da cama, tomou um banho rápido, vestiu com seu velho macacão e foi para o condomínio ao encontro de duas mestres de obras que certamente a estavam esperando para vistoria, assim como Juan e Letícia e poderem acertar todos os detalhes da reforma.

No local ela vistoriou detalhadamente cada cômodo, as paredes estruturais, colunas, fiação elétrica, encanamento, na companhia de suas funcionárias, Bartira e Roberta. Juan e Leticia estavam ansiosos por um parecer técnico e terem a certeza de que haviam feito um bom negócio e para a alegria do casal não havia nada comprometido, todo o material utilizado anteriormente na obra era de primeira qualidade e no dia seguinte uma equipe de maridas de aluguel começariam com as reformas, atendendo os desejos dos novos proprietários.

Na mansão dos Velmont Tereza Cristina, caminhava pelo seu jardim com seus filhotes de maltês Dolce e Gabana e se irritou ao ver seu gramado seco e algumas plantas murchas por falta d'água. Naquele calor escaldante do Rio de Janeiro a regagem precisava ser redobrada. Sua vontade naquele momento era de esganar Crodoaldo, já que era dele a função de cuidar do jardim.

TEREZA CRISTINA – CRODOAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALDO!!!

CRÔ -Chamou minha rainha das terras férteis?

TEREZA CRISTINA -Que ironia de tua parte me chamar assim quando o meu jardim está mais seco do que solo nordestino.

CRÔ – Mas Pitonisa de Tebas, você se esqueceu que ontem mesmo lhe avisei que era preciso chamar um torneiro mecânico para dar uma olhada aqui nas torneiras do jardim que estavam com vazamento? Inclusive foi por ordem sua que deixei o registro desligado.

TEREZA CRISTINA – E posso saber por que o senhor ainda não chamou alguém para resolver esse probleminha tão simples?

CRÔ – Eu chamei e o bofe, quer dizer, o senhor torneiro mecânico da nossa confiança, o seu Antero só poderá vir hoje à tarde.

TEREZA CRISTINA – Bando de incompetentes! Como já dizia meu pai, "aquilo que quer bem feito, faça você mesmo!" – esbravejou enquanto foi ligar o registro e para seu azar estourou na sua mão, deixando-a toda encharcada.

Ela gritava histericamente tentando inutilmente conter aquele vazamento, para não dizer uma cascata e Crô andava sem sair do lugar com um filhote em cada um dos braços sem saber o que fazer ao mesmo tempo que se esforçava para não rir daquela cena tão inusitada.

Não demorou muito para que os gritinhos de Tereza Cristina invadissem os ouvidos de Griselda que estava a duas casas da dela e se dirigiu imediatamente em seu auxílio.

Em sua natural agilidade e habilidade, pegou a caixa de ferramentas e colocou um tampão para resolver momentaneamente aquele vazamento.

Tereza Cristina não conseguia articular uma única palavra, seus olhos vidraram naquela mulher de macacão e coturno que utilizava as ferramentas com tanta maestria.

GRISELDA – Pelo jeito alguém tomou banho extra não é mesmo? O bom que com esse calor, refresca. – disse sorrindo para a outra, boquiaberta – pela sua cara deve estar estranhando uma mulher lidando com ferramentas.

TEREZA CRISTINA – Estou é estranhando tudo! Você simplesmente me aparece do nada e em segundos me salva dessa enrascada com uma habilidade ímpar. Quem é você? De onde surgiu? Do céu é que não foi, porque não estou vendo nenhuma capa.

GRISELDA – Você tá bem humorada para quem até agora a pouco gritava de raiva! Eu sou Griselda e vim aqui da casa vizinha mesmo, onde está aquele casal.

TEREZA CRISTINA – Você conhece o Juan? Fiquei sabendo que ele viria morar aqui no meu condomínio, inclusive foi meu marido quem indicou o imóvel para ele e sua noiva.

GRISELDA – A noiva do Juan, a Letícia é filha de uma de minhas melhores amigas e comadre e a pedido deles, vim vistoriar a casa para que possam começar com as reformas.

TEREZA CRISTINA – Agora está explicado o porquê de tanta habilidade com ferramentas.

GRISELDA – Pois é, a madame descobriu minha identidade secreta e eu ainda nem sei o seu nome.

TEREZA CRISTINA -Me desculpa! É que fiquei tão surpresa. Me chamo Tereza Cristina e por favor, como posso pagar e/ou recompensar o que fez por mim. Não quer entrar e se secar, afinal ficou toda molhada por minha causa.

GRISELDA – Não se preocupe com isso. Não fiz quase nada, apenas coloquei um tampão, mas você vai precisar de um registro, até você chamar um profissional de sua confiança. Se você tivesse um novo trocaria num instantinho.

TEREZA CRISTINA – Imagina, vou pedir ao Crodoaldo que providencie para mim o quanto antes. – respondeu um tanto tímida, o que era inédito. Tereza Cristina não se intimidava diante de nenhuma circunstância, mas aquela mulher à sua frente lhe despertava uma sensação inusitada, indefinível.

CRÔ – Com licença, se não for muito abuso e já está com a mão na massa, ou melhor, na chave de grifo não é, ontem mesmo comprei o registro novo.

GRISELDA – Então já é! – Brincou, sorrindo de volta para a socialite, sem saber o porque queria estar ali, conversar um pouco mais. Algo a impedia de sair ao mesmo tempo que não conseguia parar de olhar para Tereza Cristina.

TEREZA CRISTINA – Por favor, não quero abusar de você, mais do que acredito que já tenha abusado não é mesmo meu bem?

GRISELDA – Não tem aquele ditado que diz, "gentileza gera gentileza", - a outra apenas concordou com a cabeça - pois então, estou sendo gentil contigo e depois vou deixar o cartão da minha empresa caso seja de seu desejo e necessidade para serviços futuros. Entenda isso como a propaganda do meu trabalho e você sabe melhor que ninguém que a melhor propaganda ainda é a boca a boca.

As duas riram fartamente enquanto Crodoaldo vinha saltitando com um novo registro nas mãos, o qual Griselda trocou em instantes.

TEREZA CRISTINA – Será que poderia ao menos lhe oferecer um café, um chá, um suco, sei lá, qualquer coisa.

GRISELDA – Com esse calor todo e para você se sentir melhor vou aceitar um suco.

Antecipando suas ordens da senhora Velmont, Crodoaldo foi até a cozinha, voltando rapidamente com uma jarra de suco de frutas vermelhas.

GRISELDA – Bom, acho que já terminei o que precisava e agora não terá mais problemas com o registro. Garanto que meu serviço é de qualidade. Foi um prazer Tereza Cristina e se precisar, não hesite em chamar. Já tem o meu cartão. – disse estendendo a mão e foram surpreendidas por um choque. Após o susto as duas riram muito daquele episódio tão inusitado.

É VOCÊ...Onde histórias criam vida. Descubra agora