Capítulo 4

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Tereza Cristina estava dispersa, diante de seu notebook e a caneta na boca. Somente na terceira chamada que ouviu Crodoaldo chamando por ela.

TEREZA CRISTINA -O que é biba chata? Quer me matar do coração? – ralhou, atirando uma bolota de papel em cima dele.

CRÔ – Claro que não Nefertiti. Só gostaria de lembrar que hoje você tem uma reunião com o Paulo e a Ester no meio da tarde para decidirem a coleção de primavera desse ano e agendar a data do desfile, sem contar que o grande faraó acabou de ligar avisando que a sua mesa para atender sua cliente no Le Velmont já está reservada.

TEREZA CRISTINA -Com quem mesmo eu vou almoçar? – perguntou ante a uma crise de amnésia, para espanto de Crodoaldo que sabia a memória dela superior a um milhão de terabites.

CRÔ – Minha amnética de Tebas está tudo bem? Você parece bem dispersa hoje. Aconteceu alguma coisa?

TEREZA CRISTINA – Você não acha que anda assistindo séries policiais demais? O que é, vai ficar o dia todo me interrogando.

CRÔ – Claro que não! Só estou "preocupadinha" com você! Hum...Huuum...sua ingrata. Já que não sou bem vinda, vou cuidar dos meus afazeres. Com licença.

Ela respondeu com uma careta e depois acabou achando graça de tamanha criancice.

Sabia que ele tinha razão. Depois de ter conhecido Griselda tinha ficado realmente dispersa.

Achou todos os acontecimentos surreais demais para uma manhã tão comum, justo ela que há dias vinha reclamando com Crô que seus dias andavam monótonos demais.

Tereza Cristina era uma mulher visceral, amava coisas novas, inusitadas, sentir o sangue espanhol, correndo quente pelas veias. Era tão vivaz e impulsiva como sua avó, Maria Alonso Fernandez, uma espanhola que encantara seu avô Pedro Siqueira quando este a viu dançando numa festa em Madri, tanto que fora com ela que aprendeu a dançar e herdou suas castanholas, seus xales e leques os quais guardava com todo carinho do mundo. Se tinha uma coisa com a qual não sabia lidar era com a rotina e uns meses para cá vinha sentindo falta de algo que não sabia dizer o que era.

Sua relação familiar era muito boa. Ela e René quase nunca brigavam ou discutiam. Tiveram momentos de altos e baixos como qualquer casal que tem suas crises.

Por não ter o gênio dos mais fáceis, queria tudo do seu jeito, era um tanto mandona e intransigente. Sempre fora muito mimada pelos avós, pelos pais e até mesmo pelo marido e então quando as vezes ele a contrariava, era simplesmente briga na certa, mas com o passar dos anos e com a maturidade ela fora aprendendo a controlar seu gênio indomável.

A vida sexual não estava ruim, mesmo após mais de 20 anos juntos ainda se olhavam com tesão e desejo um pelo outro, as vezes propunham alguns jogos para apimentar a relação, mas reconhecia que estava diferente.

Tereza Cristina sempre fora um tanto insaciável, além de criativa e mesmo as vezes tendo que se esforçar um pouco para acompanhar seu ritmo, adorava o fato de ter uma mulher tão quente na cama.

Conhecer Griselda de fato fora um dos acontecimentos mais inusitados naqueles últimos meses e entendeu aquilho como um sinal de que deveria fazer algo. Se queria novidades, precisava tomar atitude.

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