Instinto fraterno.

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Alcatéia do norte, Casebre dos Kim.

O ômega tinha dedinhos minuciosos e atentos a qualquer movimentação dele, vindo de lá pra cá com a agulha na perna esquerda do homem um ato bonito apesar de estar fechando um ferimento enorme enquanto o esterilizava com álcool.

Um chá de ervas foi a primeira coisa que o curandeiro veio a oferecer, por mais delicado que fosse a dor dos pontos ou de álcool em um machucado certamente era agoniante, o cômodo tão calmo seria preenchido por gritos de dor, apesar de que algo dentro de si avisava o quão aquele alfa deitado era forte em qualquer quesito que fosse.

A destra enorme dele acarinhava seus cabelos, Jimin não se prontou a reclamar. Se fosse algo que o acalmava e o distraía dos pontos não era incômodo, nem um pouco. Estaria mentindo se dissesse que o cafuné não o satisfazia,sinceramente. Nunca teve alguém para chamar de pai, sua mãe sempre foi seus dois e ele seguiu contente com isso. Soaria estranho se contasse que o via de forma fraternal? Queria ronronar sobre seus carinhos e deitar em seu colo, recebendo rosnados em contento com o filhotinho manhoso.

Tossiu constrangido quando o pensamento o traiu e se tornou realidade, o barulhinho rouquinho e dengoso saiu dentre seus lábios cheios que foram imediatamente tapados em um gesto tímido.

— Não. — O macho rosnou bravo, se encantando com o som fofo.

— O quê?

— Deixe-me ouvir por favor. — Seus olhos carregavam dor, algo que Jimin nunca conseguiria distinguir em palavras o tamanho. Parecia que o alfa cada vez mais se afogava em lembranças, a fêmea queria descobrir o que lhe aflingia.

Com um aceno mínimo, afirmou. Continuando seu trabalho enquanto os sons fofos preenchiam todo o cômodo iluminado apenas por velas.

— Você sabe quem é seu pai? 

O garoto recuou, incomodado com o assunto ser abordado tão abertamente.

— Não. Mamãe foi abusada por muitos alfas após ter recusado Hanbin, ela pensou várias vezes em me tirar afinal eu era o fruto daquele momento horrível que ela teve que passar. — Taehyung continuou com os carinhos e Jimin seguiu com os pontos apesar que contasse com dificuldade parecia que o alfa compreendia, estranhamente aparentava já saber. — Outrem o amor que sentiu por mim foi mais forte e ela me deu todo carinho e esforço que poderia.

— Qual é o nome dela?

— Sun-hee, Park Sun-hee. A conhecia? — Riu, brincando com a situação.

— Sim. — Sua resposta fora firme, o olhar felino observando suas reações de espanto.

O ômega catatônico, esperava até que ele começasse a rir e lhe disser que era brincadeira.

Não aconteceu.

O olhar incisivo ainda permanêcia e suas mãos imediatamente pararam, afastando a agulha do homem em completo choque. Era impossível! Não existiam mestiços, ou você era do norte, sul ou do oeste. Nenhum homem ou mulher poderia atravessar a divisa, onde você nasce é o sangue que vai parear por suas veias.

Ao contrário de ômegas.

Sucediam-nos a isso, miseravelmente tratados como mercadorias e trocas. Nos olhos dos homens éramos apenas um ventre fértil o suficiente para dar herdeiros, prazer, e um prato lavado.

E Taehyung certamente não era uma fêmea.

— Conheci sua mãe quando ainda era um bebê, Jimin. Ela me pediu para o cuidar quando não pudesse o fazer mais. Tive um imprinting por ti, tão forte que por nenhum momento tardei a esquecê-lo. Sei que é estranho, sou apenas um homem velho dizendo baboseiras, mas eu queria muito te ter como filho. — O cheiro inebriante invadiu o cômodo, o ômega nunca pensou que o café fosse ter um efeito contraditório com seu corpo. Sentia sono e uma extrema carência que alastrava por cada terminação nervosa.

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