SEIS

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Junho

-Alessandra, você está me ouvindo? – Disse Alexia, colocando a mão na frente do rosto da irmã, chamando sua atenção.

Estavam as duas sentadas no sofá, com um balde de sorvete sendo compartilhado entre elas. Alessandra vestia um suéter azul, e calças de moletom, e Alexia estava com um moletom com capuz, e calças de pijama. Já se passava de meio dia, mas ambas não estavam com um pingo de disposição de agir com a vida naquele momento. Assistiam um filme romântico extremamente clichê e levemente entediante. Alice havia saído com Pedro, provavelmente para ver algum detalhe do casamento que aconteceria em outubro. Sim, eles estavam noivos. Pelo que Alice contara, ela simplesmente perguntou quando casariam, Pedro engasgou com a pergunta, quase morreu, e depois de ficar de todas as cores possíveis, pediu ela em casamento decentemente. Essa era Alice, e as coisas eram simples em sua mente, diferente da irmã mais velha.

-Oi? – Alessandra se virou para a irmã caçula, tentando se lembrar do que ela havia dito. A verdade é que não tinha a mínima ideia do que Alexia estava falando. Em seus pensamentos, só pensava no que Alice havia dito sobre ela entrar com André em seu casamento, e isso significava que ele estaria de volta até outubro. Mas outubro parecia distante demais em sua mente, e sobre isso divagava hora ou outra.

-Céus! Você está horrível. – A mais nova comentou, sorrindo em complacência.

-Poxa, que consolo, Ale. – Riu Alessandra com o espanto da mais nova.

-Sério San, você é a mais atenta da casa, e parece viver em outro mundo ultimamente. – Brincou a caçula.

-Para de implicar Alexia, afinal estamos tomando sorvete ao meio dia por sua culpa, não minha. – Replicou a mais velha.

Sim, Alexia havia sofrido outra desilusão amorosa. Isso já era de se esperar quando o assunto era a caçula entre as Ribeiro. Alexia era mais intensa que as demais, em tudo. Não tinha medo de se entregar, ao que fosse. Era assim no trabalho, na família, na família, e no amor. Enquanto Alice era intensa com a vida, mas precavida com o amor, e Alessandra era cautelosa em praticamente tudo, a mais nova não tinha medo de se entregar. Talvez fosse pelo fato de ter sofrido duas vezes com uma doença que havia tirado um pouco de sua adolescência, ou simplesmente por ter uma personalidade intensa demais. Já era o terceiro ou quarto desapontamento em dois anos, mas ela não parecia se importar.

Na verdade, Alessandra a invejava nesse ponto. Queria superar com a facilidade de Alexia, e seguir em frente sempre com o coração aberto, mesmo sabendo dos riscos de se frustrar novamente. A seu favor, a desilusão da irmã a ajudava a afogar suas próprias "mágoas". A saudade estava fazendo estrago em seu coração, e olhar para a foto de André no WhatsApp, sem ter coragem de enviar uma mensagem, não ajudava a melhorar em nada. Então, tomar sorvete de balde, assistindo comédias românticas clichês com a irmã, era uma boa saída e nem precisava confessar seu próprio sofrimento.

-Sei que você está fazendo isso apenas por mim. – Ironizou a mais nova, espremendo os olhos como se estivesse analisando a primogênita. –Ah, qual é, San, você nunca vai confessar para gente o que está acontecendo com você?

-Vou, mas não agora. – Disse Alessandra, tranquilamente, enfiando a colher no balde de sorvete outra vez.

-Então quando? Porque é mais que óbvio que você está na mesma situação que eu, ou não estaria comigo tomando sorvete e assistindo um filme romântico totalmente sem graça... e chorando. – Alexia completou a frase totalmente assustada ao ver as lágrimas da irmã escorrendo pelo rosto. – Não acredito! Alessandra, a sensata, está chorando. Nem sabia que você chorava. – Entre assustada e divertida, Alexia continuava, claramente surpresa com a reação da mais velha.

Homens que Sonham (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora