Cinco: A Primeira Pista

14 1 3
                                    

"Essa é a minha família. Eu achei. Sozinho. Eu que achei. É pequena e incompleta. Mas é boa. É, é boa"

Lilo e Stitch

      Toda a rua 29 do distrito Roccia foi fechada já pela madrugada, quando a central de proteção da metrópole recebeu a ligação de um cidadão informando que havia visto uma jovem – durante o toque de recolher – entrar em um dos becos e não sair mais.

      A descrição feita da moça pelo cidadão posteriormente não foi de muita ajuda, a distância em que foi vista não auxiliava na caracterização da mesma de maneira muito detalhada ou com características que pudessem diferencia-la de outras diversas garotas. Porém, foi muito fácil saber de quem se tratava porque enquanto durava o depoimento, uma mãe muito desesperada ligou para a central para afirmar que sua filha não havia voltado para casa desde o dia anterior.

      Tiana de Mello. O nome, junto com uma foto, estampa o cabeçalho inicial dos documentos que Kenai analisa, enquanto viaja para a cena do crime. Ele examina cuidadosamente todas as informações que são apresentadas; o depoimento do cidadão é o que mais lhe interessa, mas em suas mãos se encontra tudo o que há para saber da moça desde a escola em que estudou até os nomes de amigos próximos.

      O carro chega ao local, ele sai e caminha até a rua, sendo cercado por jornalistas e repórteres que o atacam com seus flashs e microfones. Ele passa por baixo da fita amarela que cerca toda a estrada e circula o beco, deixando curiosos bem longe para que não atrapalhem o trabalho da perícia que está no local desde ás oito horas da manhã. O lugar em que o celular se encontrava, agora está marcado por um circulo branco feito de tinta. Kenai avista Ector, o delegado superior da central de proteção, vindo em sua direção.

      "Bom dia chefe. O aparelho celular já foi mandado para ser analisado. A testemunha ocular nos disse que a vítima segurava uma bolsa, mas não encontramos nada no beco." O homem diz calmamente com uma voz controlada, seus olhos, porém são mais agitados, inquietos; olhando para diversas direções enquanto fala. "Não podemos reclamar na verdade, pela primeira vez foram descuidados em deixar algo para trás."

      "E a perícia? Conseguiram achar alguma coisa no beco?" Questiona o líder sério.

      "Estão aí há quase quatro horas e não encontraram nada" Fala o delegado, passando a mão na testa um pouco suada devido ao sol forte.

      "Vou dar uma olhada lá, mas quero que continuem por mais algum tempo". Kenai pega as luvas que lhe são estendidas pelo seu companheiro e vai em direção ao local do desaparecimento. Para na abertura e começa a analisar.

      O beco é um retângulo comprido e vazio, inacreditavelmente vazio. Os únicos elementos que fazem parte do local é uma lata de lixo velha e uma torneira pingando na lateral de um dos dois prédios que fazem aquele lugar existir. Um muro de tijolos com mais ou menos 6 metros de altura faz uma pequena sombra devido ao sol das onze horas. A única saída possível do lugar é a que dá para a rua, onde ele está apoiado.

      O conteúdo da lixeira está espalhado por uma lona no chão. Kenai adentra o beco e começa a avaliar a situação, seus passos são calmos e lentos para ele poder observar muito detalhadamente tudo o que o pequeno espaço de paisagem urbana pode lhe oferecer. Antes de ser escolhido pelas Estrelas para ser líder ele era delegado, o mais jovem a conseguir ocupar esse posto. Ganhou fama e estima por ter a habilidade de ver e perceber pequenos detalhes que o faziam desvendar um caso.

      O chão do beco não é regular, percebe enquanto caminha para perto do muro, para poder analisa-lo em uma perspectiva lateral. Ele consegue escutar a água do pequeno riacho batendo nas pedras atrás do beco, se começasse a prestar atenção nesse som, o barulhinho irritante da torneira pingando não conseguia mais ser ouvido. Kenai simplesmente deixa de lado o muro e vai em direção a esse – aparentemente insignificante – detalhe. A torneira está torta, voltada para a entrada do beco. Sua boca parece um pouco mais aberta do que estaria se fosse nova, como se tivesse dilatado. Entretanto, não lhe fornece nenhuma pista.

SPLENDERE O iluminarOnde histórias criam vida. Descubra agora