Três: As Bonitas Palavras Vazias

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"Devo sonhar com as coisas que busco.

E eu busco a coragem que me falta"

A Noviça Rebelde

     A praça central da metrópole se encontra cheia, o grande espaço que normalmente é utilizado para feiras artesanais e brincadeiras de crianças, se encontra lotado de pessoas curiosas com a proclamação que seria feita pelos lideres. Jornalistas e repórteres com seus microfones e câmeras também se fazem presentes no local, prontos para transmitir ao vivo a coletiva.

     Um palco alto se encontra em uma das extremidades da praça, quatro cadeiras de diferentes cores estão atrás de uma mesa comprida. Cada líder tem o seu próprio microfone. Uma escada lateral dá acesso ao palco, sendo localizado estrategicamente para permitir que os lideres possam sair do carro que os levará até a praça e subir imediatamente lá em cima.

     Cassandra está indo em direção ao local da coletiva no carro Roccia, sendo acompanhada por Kenai. Os dois se cumprimentaram e trocaram amenidades rápidas, o rapaz ficou em silêncio revisando os papeis que iria levar ao reparar o incômodo da ruiva. A Vita desde que entrara no veículo de metal está com a respiração rápida e descontrolada, assim como sua pulsação. Seu povo sempre teve problemas com metais, mas a líder pôde perceber com o passar dos anos que ela tem mais receio do que os demais, mas nunca entendeu bem o motivo. Carros sempre foi um problema, mais até que elevadores.

     O percurso – graças às estrelas – é rápido, Cassandra desembarca do veiculo assim que ele para. A moça respira fundo, fechando seus olhos, sentindo um alivio gigantesco por estar fora daquela coisa. Kenai lhe oferece o braço e ela aceita o gesto do rapaz, deixando-se ser conduzida pelas escadas até o palco, podendo quase sentir os flashs das câmeras dos jornalistas os atingindo. Cass se solta do Roccia e senta-se em sua cadeira sentindo-se desconfortável com a atenção recebida, mesmo depois de quatro anos comandando seu distrito.

     Rafael já está sentado em sua cadeira, sua pontualidade é inacreditável. Kenai o cumprimenta com um aperto de mão, já que está sentado ao seu lado, Cassandra apenas acena rapidamente. A ruiva puxa – não muito – discretamente a gola de seu terninho azul, um tipo de roupa que, diferente dos outros, não é acostumada a usar. Pelo menos a calça social da mesma cor não é tão incomodativa. Rebecca chega desculpando-se pelos dois minutos de atraso e senta em sua respectiva cadeira.

     Rafael então tosse baixinho e se aproxima de seu microfone, iniciando propriamente a coletiva. A atenção de todas as pessoas da praça está sobre ele agora, mas o rapaz não se sente nem um pouco desconfortável, sempre teve muita desenvoltura em público. O discurso inicial é obviamente feito para tranquilizar a todos, com extensas frases expressando união e esperança em dias melhores.

     Cassandra deixa de prestar atenção na fala do homem nos primeiros minutos e começa a avaliar a praça e as pessoas nela. Analisa cuidadosamente as expressões dos ouvintes conforme escutam o comunicado. Ela observa as famílias se abraçando, os casais se dando as mãos e as crianças grudadas em seus pais até que seus olhos caem em uma pessoa com as vestes completamente vermelhas. E então percebe, que ao redor de toda a praça, na lateral e na frente do palco, há diversos pontos rubros. Soldados Fuoco. Os oficiais de Rafael já estão em campo.

     Rafael finalmente termina seu discurso e deixa o Roccia iniciar seu pronunciamento. A escolha de palavras é cautelosa e gentil, porém, independente do seu vocabulário, quando o rapaz conta sobre os quatro novos desaparecidos nada impede que o público reaja com exclamações assustadas, que os flashs voem na sua direção e que os jornalistas gritem todos ao mesmo tempos suas perguntas.

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