A vida da filha de um traficante(pensamentos de Isabella)

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Versos da autora:

Por vezes ter tudo não basta, o nada faz falta, e que falta meu amigo!

Daisy Charifo

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Todos os dias da minha vida estão resumidos à uma ida para escola e a volta para casa, isso deve-se ao facto de que eu tenho poucos amigos, mas o que realmente faz-me totalmente diferente é o facto dos meus pais serem traficantes. Todo o México e até o FBI e a CIA sabem disso, mas sem provas concretas as coisas não passam de mexericos.

Durante os 18 anos da minha vida, eu nunca tive um amigo verdadeiro, alguém com quem eu pudesse partilhar a minha dor e não estivesse interessado em ganhar um desconto na mercadoria ou comer-me nas traseiras da faculdade, excepto Carolla Martínez, que sofre do mesmo mal que eu, pois o seu pai é o maior fornecedor de mercadoria colombiana.

Desde os meus 3 anos que só presencio discussões entre os meus pais por dinheiro, poder, e por parte da minha mãe uma grande frustração pelo facto de ter abdicado de uma carreira tão promissora para viver nas sombras do poder e da frieza do meu pai. Mas uma coisa eu garanto-vos, eles são completamente apaixonados um pelo outro, entretanto o poder e o dinheiro estão acima dos sentimentos.

Acabou-se, vou dormir, pois amanhã tenho um teste de medicina legal. Sim, eu estou no primeiro ano da faculdade de direito, pode parecer loucura o facto da filha de um traficante estar a fazer o curso de direito, mas se um dia a CIA ou o FBI consiguirem argumentos e provas concretas para prender os meus pais, eu estarei lá e obviamente não existe melhor advogado do que aquele que conhece muito bem o negócio do seu cliente, nada melhor que a filha do cliente seja a advogada.

Fortaleza Vargas, Sinaloa- Estados Unidos Mexicanos.
[10.03.2018(06:59:57)]

Acordo exactamente às 7:00 e corro para o duche, levo 10 minutos por lá, amarro um belo rabo-de-cavalo no cabelo, pronto, exagerei um bocado, um rabo-de-cavalo medíocre, visto uma blusa rosa e calças jeans azuis e calço os meus all-stars brancos enquanto procuro pelo meu Código Penal, desço as escadas à correr e passo pela varanda onde o café-da-manhã costuma estar posto, pego numa maçã verde e despeço-me do meu pai.

No caminho para faculdade pego-me a pensar em como seria a minha vida se o meu pai tivesse seguido a sua vida como fazendeiro e de seguida surgem várias perguntas: "Eu estaria aqui?", "O casamento dos meus pais seria um mar de rosas?", mas de imediato o meu subconsciente volta à realidade. O motorista para o carro em frente à escola, desço, caminho pelo corredor, e esbarro no professor de literatura. Bem, não preciso entrar em detalhes, basicamente passei vergonha....

Sendo filha de traficantes a maior parte do tempo eu era o centro das atenções, de forma negativa, claro.

A filha de um traficanteOnde histórias criam vida. Descubra agora