Parte Seis

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O dia que teve brigadeirão, fofoca e uma live do Sorriso Maroto

Não paramos de nos falar um dia que fosse, sempre respeitando os horários em que Catarina estava disponível: geralmente o horário do almoço e após às 21h. O que, no fim das contas, nos fez madrugar todos os dias daquela semana no celular. E, consequentemente, me fez acordar por volta das 10h todas as manhãs seguintes.

Por conta do trabalho, Catarina costumava ser a primeira a dar bom dia e sumir por muitas horas até mandar mensagens engraçadinhas por volta do meio dia. Mas não naquele sábado. Principalmente depois de ter dormido no máximo umas seis horas por noite durante toda aquela semana. Por mais que eu soubesse disso, não pude evitar ficar checando celular o tempo inteiro, esperando aparecer uma mensagem com o nome dela nas minhas notificações.

─ Por Deus, menina, você vai quebrar esse botão. ─ minha avó enfim disse, tirando os olhos da TV.

Eu tomei um susto, deixando o aparelho cair sobre a minha perna e se acomodar entre meu pé e a almofada do encosto, olhando-a com os olhos arregalados. Eu não achei que ela estivesse prestando atenção. Para falar a verdade, eu nem tinha percebido que eu havia repetido aquilo tantas vezes.

─ Você não vai me contar mesmo, Maria Eduarda? ─ ela não foi agressiva e nem incisiva. Era uma pergunta tranquila, eu podia escolher não a responder, se quisesse. Mas quem eu estava tentando enganar? Porque a minha avó é que não caía nas minhas mentiras...

Senti minhas bochechas ficarem vermelhas e desviei o olhar por um instante, dando uma risadinha mais para mim mesma do que para ela, tomando coragem para abrir a boca.

─ Bem, é que tem essa garota...

Minha avó deu um gritinho animado como o de uma adolescente, pegando o controle e desligando a TV tão rápido que quase me assustou.

─ Mas, eita! Haja interesse na vida dos outros assim, ein! ─ brinquei, rindo daquela reação espontânea dela.

─ Eu estou velha, Maria Eduarda, não morta. Estou há meses trancada nessa casa sem ver os meus amigos do bingo, estou doida por uma fofoca interessante. ─ e então ela se aconchegou o sofá, me olhando com expectativa ─ Vai, me conta.

Eu ri. Ri e contei toda a história. Começando com o atropelamento da pilha de leite longa vida UHT semidesnatado Fazenda Maria Fernanda, da primeira vez que a gente se viu. E contei de como eu gritei quando a Catarina pegou a maçã que eu estava olhando e de como ela havia rido da minha cara e pedido meu número.

E de como ela era inteligente, de como gostávamos dos mesmos filmes e dos comentários engraçados que fazíamos no chat do Netflix Party ─ no que tinha se tornado nossa sessão diária de cinema, naquela última semana.

Falei tudo que eu não tinha falado até aquele momento, com um sorrisinho bobo no rosto. Até mostrei para minha avó a quantidade interminável de fotos da Safira que Catarina havia me enviado ao longo da semana ─ a maioria com uma cara assassina sem precedentes ─, e que arquivei todas numa pasta na minha galeria destinada só para aquilo.

Por mais que só conseguíssemos nos falar durante algumas poucas horas do dia e que aquela dinâmica tivesse se instalado havia apenas uma semana, a quantidade de coisas que havíamos compartilhado naquele período fazia parecer que nos conhecíamos há muito mais tempo.

Terminei a narrativa bem mais leve que a havia iniciado, aliviada de não estar mais fingindo esconder da minha avó o que estava acontecendo. Porque, convenhamos, não era como se eu tivesse conseguido fazer aquilo de verdade.

Minha avó ouviu tudo atenta, e deu uma risada adorável quando percebeu que eu havia terminado.

─ Finalmente você vai me apresentar uma namoradinha, Maria Eduarda!

Amor em tempos de pandemia [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora