Menos de um metro e meio de distância
Meu coração pulava violentamente enquanto eu atravessava a pequena vila até a casa de número 14, logo depois de Catarina liberar a minha entrada pelo interfone. No meio fio ali dentro, duas crianças brincavam com um filhote de cachorro e nem repararam em mim.
Ainda era estranho, aquilo. Estar ali. Poder estar ali sem nenhum problema. A casa de número 14 possuía flores crescendo sobre a grade pintada de branco que ladeava o muro baixinho, e a fachada era coberta de um azulejo laranja desgastado pelo tempo.
Ela já estava me esperando no portãozinho da entrada, os cabelos ondulados em um penteado semipreso, um leve delineador nos olhos e o sorriso mais bonito que eu já havia visto presencialmente em uma pessoa.
─ Oi, gata. ─ ela me deu uma piscadela, me arrancando uma risada.
─ Olá, Cat.
Ela ergueu a mão na minha direção e então pegou a minha. E assim que nossos dedos se tocaram foi como mágica. Sentir a pele dela contra a minha, o formato delicado da sua palma encostada na minha.
E sem qualquer cerimônia ela me puxou para dentro, com uma risada, fechando a porta logo atrás. A casa de Catarina era pequena, mas cheia de luz e plantas e livros. Muitos livros. Muitas plantas.
Mal entrei, Safira veio se esfregar aos meus pés, e eu me agachei para lhe fazer um carinho atrás das orelhas.
─ Olha só quem já está fazendo amizade! ─ ela implicou ─ Essa gata é carente que só, mas não dá muito confiança não senão daqui a pouco você nem vai me dar atenção mais.
Como que entendendo, a felina tirou a pata do meu joelho e miou para a dona.
─ Viu só?
Eu ri.
─ Eu nunca poderia te dar menos atenção do que você merece, Cat.
─ Isso só até eu começar a falar sobre linguística e as redações dos meus alunos. ─ ela falou.
Seus olhos me miravam, grandes, brilhantes. A primeira característica que eu havia captado nela. E logo abaixo estava seu sorriso contagiante, sua boca... Peguei a mão dela, puxando-a em minha direção.
─ Isso é um desafio, senhorita? ─ brinquei.
─ Sempre é.
E eu beijei, pela primeira vez, a minha namorada. Sem pensar muito, sem pedir licença. Ainda era engraçado pensar nela assim, mesmo depois de tanto tempo de namoro a distância. Só pensar naquilo fazia as borboletas voarem no meu estômago. E toda vez era um sentimento melhor saber que eu, dentre todas as pessoas, podia chamá-la assim.
─ Apressadinha. ─ ela brincou com meu nariz, um sorrisinho divertido nos lábios, e então completou ─ Vem, vou te mostrar a casa.
E foi me puxando pelos cômodos pequenos, coloridos e cheios de plantas. E eu fui com um sorriso no rosto. E pretendia ir com ela onde ela quisesse que eu fosse, por quanto tempo aquilo continuasse fazendo sentido para nós duas.
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Amor em tempos de pandemia [COMPLETO]
RomanceEm tempos de isolamento social, quando o recomendado é só sair de casa para atividades essenciais, Duda conhece Catarina no único lugar possível: o mercado.