17 Gael

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Ainda atordoado pelo que acabava de acontecer, me dirigi até ao estábulo. Eu precisava de Chocolate, para acalmar os sentimentos que invadiram meu peito.
Ele logo se agitou, sentido minha presença no escuro.

— Vem cá campeão. Preciso de você amigo. — o retirei da baia.

Já no exterior do estábulo, o montei e cavalgamos livremente pela fazenda. O ar fresco da noite, e o vento que batia em meu rosto, tinha um efeito anestésico em mim. Eu tentava não pensar em nada, apenas sentir a energia da natureza, e os movimentos do seu trote. Tentei controlar também minha respiração, eu estava alterado demais. Chocolate, parecia tenso, eu não tinha colocado a sela nele, e sentia o quão reteso seu dorso estava, como se meu mal estar passasse também para ele.

— Desculpe! Eu estou frustrado. — acariciei sua crina, como se ele pudesse me entender.

As palavras de Melanie, vinham novamente aos meus pensamentos. Minha cabeça martelava, a ponto de parecer explodir. Ela tinha me pego de surpresa, com sua proposta. Eu estava puto, por ter permitido que ela se sentisse tão desejada, ao ponto de me fazer uma proposta tão absurda.

Ela acreditaria mesmo que me tinha na mão?

Revolta fez meu peito bater mais forte e descompassado.
Ao mesmo tempo, flashes em minha mente, me recordavam do seu olhar triste, pungente, aflito, envergonhado, que não combinava em nada com a sua prepotência e ousadia.
Eu andava tão cego, com o tesão que eu sentia por ela, que me deixei cair num jogo, ao qual eu seria explorado. Não sei se o que mexia mais comigo, era a decepção de perceber que ela não era a inocente que eu acreditava, ao ponto de vender seu corpo, ou o fato de ela acreditar que eu pagaria para ter sexo com ela.

Duas horas se passaram sem que eu desse conta. Chocolate, já demonstrava cansaço. O dia tinha sido tão intenso para ele, quanto para mim. O devolvi ao estábulo.

— Descanse garanhão. Eu também ficarei bem. — acariciei seu dorso, tentando relaxá-lo um pouco antes de voltar para casa.

Era bem tarde quando deitei em minha cama. Eu me sentia abatido, chocado, frustrado. O turbilhão de emoções e pensamentos que invadiam minha cabeça, não me deixaram pregar olho a noite inteira.

***

Levantei bem cedo e me enfiei no duche. Água morna deslizava por meu corpo. Escorei meus braços contra a parede, deixei a cabeça tombar para a frente, enquanto deixava o jato de água, cair sobre os músculos tensos de minhas costas, esperando relaxar um pouco. 
Desci para o café da manhã, sem apetite algum.
Mas eu não ia ficar evitando aquela ninfetinha do capeta.

Sentei na mesa e esperei alguns minutos, até Melanie surgir no cômodo trazendo café e pão em uma bandeja.
Seu olhar vinha baixo, mas o meu focou nela, não querendo mostrar meu incômodo depois de ontem.

— Bom dia!— falou polida, enquanto colocava as coisas na mesa.

— Bom dia! — respondi, percebendo suas mãos trêmulas me servindo.

— Vai desejar algo mais? — viu-se obrigada a encarar meu rosto.

Percebi seus olhos inchados, vermelhos, perdidos. Parecia abatida, triste, atormentada. Provavelmente estava constrangida por ontem.
Senti um aperto no peito sem saber ao certo por que motivo.
Lembrei que já a tinha visto assim antes. No dia que me pediu carona para a cidade. Ela tinha o mesmo olhar perdido de agora.

— Não. Pode ir. — falei seco.

— Gael, eu...

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