paranoia da madrugada

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A vida é escrota, aleatória e arbitrária, até que se encontre alguém que faça isso fazer sentido, mesmo que apenas temporariamente. - Matthew Quick


Depois de conseguir o que queria na casa de Zayn, sigo direto para meu quarto e tranco a porta, em seguida me jogando da cama e tirando a foto da cintura. Estou no meio dos dois garotos fazendo bico para a câmera, Steve tem sua cabeça apoiada em meu ombro e olha pra câmera sem interesse, e do meu outro lado Leonard faz careta. Tiramos essa foto quando saímos de casa para trabalhar em um projeto de artes, mas acabamos no parque central, bebendo atrás das árvores e atormentando os gansos que tentavam passear. Nós três precisávamos de pontos em Artes, mas nenhum de nós ligava o suficiente para correr atrás. Por isso ficamos no parque até ser tarde e estarmos embebedados, voltando para casa correndo e gritando pelas ruas como se fossemos os donos do mundo. Pensar nisso faz meu peito pesar. Não consigo lembrar quando foi que meus dois melhores amigos se tornaram os monstros que todo mundo conhece agora. Talvez eles sempre tivessem sido, mas eu nunca fui capaz de enxergá-los assim, mesmo depois de tudo. É difícil pensar que eles realmente machucaram todas aquelas pessoas, e que eu supostamente deveria ter feito o mesmo. Mesmo depois de todo o tempo isolada para pensar e de toda a terapia, ainda é difícil entender que Leonard e Steve estão mortos, e que ninguém sente muito por isso, mas que na verdade, estão aliviados.

...

- Podemos mudar a pintura do quarto? - pergunto na mesa de jantar, o que atrai três pares de olhos para mim.

- Quer mudar a pintura do seu quarto? - pergunta minha mãe, nitidamente surpresa, assim como Mike e meu pai, mas esses disfarçam melhor.

Dou de ombros.

- Estou cansada de olhar pra aquele branco pálido. - admito - A luz bate e deixa o cômodo claro demais, eu não gosto.

- Claro, claro que podemos. - meu pai engole o que está mastigando e me observa.

- Já tem alguma cor em mente? - minha mãe parece animada.

- Azul? Escuro, de preferência.

- Azul vai ficar ótimo. - Mike comenta, bebendo seu suco.

- Certo, podemos sair para comprar a tinta e os materiais na quinta.

- Mas vamos precisar de alguém pra pintar, porque nessa casa ninguém faz isso. - lembra meu irmão.

- O papai não pode pintar? - mecho as sobrancelhas.

- Ou você e o Mike. Eu tenho meu trabalho. - Paul remexe sua comida. Mike me olha com uma feição de desespero que é engraçada.

- O Zayn é ligado nessas coisas de arte e pintura, talvez ele possa ajudar. Não acho que a Tessalia e eu somos capazes. - diz ele.

- Pintura em tela não tem nada a ver com pintura de parede. - retruco.

- Cale a boca, estou tentando aliviar para nós. - meu irmão ergue as sobrancelhas ao me reprimir.

- Tudo bem, podemos ver com o Zayn então, mas garanta que ele vá aceitar um pagamento. - meu pai encerra o assunto alternando o olhar entre Mike e eu. Meu irmão assente, mas eu fico quieta.

...

Na manhã seguinte acordo novamente por causa de barulhos externos e reviro na cama várias vezes. Não adianta: a claridade não ajuda e, apesar de ter ido dormir tarde na noite passada, não consigo pegar no sono outra vez. Praguejando eu me levanto e vou até a janela, ainda descabelada e com a cara amassada, usando uma blusa masculina grande demais que costumava pertencer a Steve.

Stained PastOnde histórias criam vida. Descubra agora