capítulo 1

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"As notas musicais que ecoavam pelas cordas de aço do violão compunham uma melodia tão calma e tão bonita que foi quase impossível para Lilly Black não sorrir. Ela simplesmente amava música, era tão fascinada que conseguia identificar e nomear todos os acordes mesmo sem ver quem tocava o instrumento - e quem quer que estivesse tocando sabia exatamente o que estava fazendo, era fascinante, encantador e ela queria ouvir mais daquilo, queria ouvir mais de perto, mais alto, queria saber quem era responsável por tocar aquela melodia tão bonita.

- Venha, Lilly, ele está esperando por você.

Anna Black pareceu se materializar bem a sua frente estendendo a mão com um sorriso incentivador.

- Mãe? - Lilly perguntou confusa, sem entender de onde a mãe tinha surgido. Estavam no que parecia ser um grande corredor excessivamente iluminado.

- Estou com você, filha, venha...

Lilly aceitou a mão da mãe e entrelaçou seus dedos aos dela, encarando-a ainda sem entender.

- Você está ouvindo essa música?

Anna limitou-se a sorrir e acenou positivamente com um movimento de cabeça, começando a andar guiando os passos de Lilly até o fim do corredor.

- Ele está esperando por você.

O coração de Lilly reagiu imediatamente a sentença da mãe. Não precisou perguntar de quem estava se referindo porque de alguma forma inexplicável, ela parecia saber de quem se tratava. Era ele, tinha que ser ele.

Era o seu pai.

A ânsia para atravessar o corredor era tão grande que quanto mais Lilly andava, mais distante parecia chegar ao fim. Quanto mais pressurosos se tornavam seus passos, mais alta a música se tornava o que só fazia aumentar sua ansiedade e o ritmo de suas batidas cardíacas. Por um momento flagrou-se quase correndo, podia visualizar uma porta logo a frente, ele tinha que estar ali, precisava apenas atravessar... Estendeu a mão para alcançar a maçaneta, estava quase lá..."

Porém, antes mesmo que pudesse visualizar o rosto do homem que dedilhava as cordas do violão, Lilly Black acordou com uma batida na porta do seu quarto, franzindo a sobrancelha para a claridade incômoda que adentrava as janelas quase como se o sol estivesse aparecendo para saudá-la na manhã do seu décimo oitavo aniversário.

- Quem está fazendo DEZOITO anos hoje e já pode tomar um porre com a mamãe?

Lilly Black riu ainda sonolenta quando a voz de Anna a despertou nos primeiros momentos de consciência após um sonho estranho.

- Mãe, eu estou fazendo dezoito e não vinte e um, ainda estamos nos Estados Unidos, sabe - Lilly murmurou entre o riso, coçando os olhos para poder encarar Anna que se aproximava com uma bandeja de café da manhã e um sorriso enorme no rosto.

- Foda-se, você pode beber comigo em casa - Anna deu de ombros e colocou a bandeja em cima da cama antes de se debruçar sobre a filha para enchê-la de beijos e abraços entre os risos da adolescente.

- Mas eu não bebo! - Lilly protestou e Anna voltou a sua postura normal sentando-se na cama ao lado da filha roubando um dos morangos da tigela.

- Você é tão sem graça, Lilly. Na sua idade eu já tinha uma carteira falsificada, fumava um maço de cigarro por dia e transava com desconhecidos - Anna disse com um risinho ao ver Lilly rolar os olhos, sentando-se para se servir de um pouco de suco.

- Não é porque você era desequilibrada que eu tenho que ser também - Lilly respondeu e Anna riu com gosto.

- Sim, eu agradeço todos os dias por isso, inclusive. Sabe que eu só falo essas coisas de brincadeira porque você é certinha demais.

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