capítulo 7

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- LILLY! - Anna gritou novamente, mas a filha já tinha dado partida no carro deixando a mãe boquiaberta e trêmula na porta da casa.

Sem nem raciocinar direito, Anna remexeu na bolsa em busca das chaves do seu carro para ir atrás da menina, mas foi impedida por mãos firmes que não a tocavam há anos. Eddie restringiu Anna e a surpresa quase a fez vacilar, mas ir atrás de Lilly era mais importante do que qualquer outra coisa.

- Eu preciso ir atrás dela!

- Anna, ela saiu! Ela vai espairecer, tá tudo bem! - Eddie disse, mas Anna se desvencilhou dos braços dele e o encarou com raiva, já nem fazendo esforço para impedir as lágrimas que caíam furiosamente por seus olhos.

- VOCÊ NÃO ENTENDE! VOCÊ NÃO SABE COMO É FICAR EM PÂNICO QUANDO UM FILHO SEU SAI DIRIGINDO A NOITE, NÃO SABE O QUE É NÃO CONSEGUIR DORMIR ENQUANTO ELE NÃO VOLTA PARA CASA, VOCÊ NÃO ENTENDE!

Aquilo magoou Eddie mais do que ela poderia mensurar, mas ele não quis continuar rebatendo que se ele não sabia disso era por culpa dela.

- Eu também me importo com a Lilly! - Eddie interviu ofendido - Mas você não vai fazer nada de bom dirigindo nesse estado! Você nem sabe para onde a Lilly foi! É melhor ligar para um amigo dela e...

Mas Eddie não conseguiu concluir sua linha de raciocínio porque ficou estático ao observar enquanto Anna ruia em sua frente. A mulher com a postura impenetrável e impassível dos últimos dias dava lugar a uma completamente fragilizada que tremia da cabeça aos pés ao chorar depois de jogar as chaves do carro no chão juntamente da bolsa colocando as mãos no rosto para esconder o pranto.

Naquele momento, Eddie percebeu que mesmo depois de dezoito anos o ponto fraco dele ainda era o choro de Anna. Jamais seria capaz de vê-la chorar sem se sentir mal por dentro.

- ELA É TUDO O QUE EU TENHO, TUDO! - Anna gritou entre o choro e o grito dela parecia conter tanta dor que ele apenas se calou, os olhos arregalados a encaravam com surpresa. Anna respirou fundo, mas as lágrimas continuaram vindo quando ela destapou o rosto olhando para Eddie com olhos vermelhos - Você pode me odiar, você pode me detestar pelo resto da sua vida, você pode me desprezar e eu aguento, dói, dói sim, dói muito, principalmente porque eu olho para você e não consigo dissociar do garoto amável que eu conheci, eu tentei, mas não consigo. Você pode me odiar e eu aguento essa dor sem problemas, mas uma dor que eu não vou aguentar é perder a Lilly! Isso eu não vou aguentar!

Eddie ficou paralisado, seu coração acelerando de um jeito estranho como há muito não sentia acelerar. Estava tão acostumado a achar que Anna tinha se tornado indiferente a ponto de não ter sentimentos que vê-la completamente vulnerável o deixou completamente desconcertado, principalmente por ouvi-la verbalizar que não conseguia dissociar da imagem dele do passado, quase como se... Quase como se ela também sentisse falta da versão do Eddie de dezoito anos atrás.

- Eu sobrevivi a morte do Nick, eu suportei isso! Foi difícil, foi terrível, mas eu suportei! Eu fui jogada em um hospício por minha própria mãe, mas eu sobrevivi, eu suportei! Doeu pra caralho, mas eu suportei! Eu fui depressiva, tentei suicídio, me mutilei, mas eu sobrevivi, eu transformei toda essa dor em arte e eu suportei. Eu achei que nunca mais fosse conseguir pintar de novo, achei que tivesse perdido meu dom, me perdido para sempre... Mas... eu sobrevivi - Anna falava tudo aquilo como se estivesse fazendo um desabafo do fundo do coração e Eddie não interromperia nem mesmo se quisesse, aquele discurso era tão profundo que chegava a ser visceral.

Anna ergueu o olhar para encarar Eddie e algo se partiu no coração dele quando ela o fez. Eram os olhos da Anna que ele conhecia, da sua Anna.

- E eu perdi você. Doeu, você não faz ideia do quanto doeu, de quantas noites eu passei chorando, do tanto que Gwen teve que suportar, do tanto que minha mãe teve que cuidar... Foi como se tivessem arrancado meu coração. Você acha que essa decisão foi fácil? Não foi fácil. Eu passei ANOS fantasiando em como seria se você fosse atrás de mim, QUERENDO que você fizesse isso... Mas... Eu... Superei. Eu sobrevivi, eu suportei.

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