capítulo 4

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Lilly Black não teve dificuldades em se aceitar enquanto homossexual. Sua mãe sempre se esforçou para pregar valores de caráter criando-a para ser uma pessoa empática com o outro, responsável com o meio ambiente, respeitosa consigo mesma e com o mundo ao seu redor. Para Anna, era muito mais importante que Lilly crescesse com esses valores do que com um padrão de heterossexualidade como a maioria dos pais conservadores de seus amigos. Por isso, aceitar-se não foi um processo tão doloroso quanto foi para outras pessoas e considerava-se privilegiada por saber que em casa tinha recebido apoio, principalmente quando essa realidade não era a mesma para os seus amigos mais próximos.

Mas isso não a isentava de sofrer por consequência das atitudes dos outros.

- Então ela simplesmente saiu correndo, sabe? - Lilly desabafou angustiada enquanto Fred a escutava com atenção ao comer um pouco de marshmallow deitado no tapete do seu quarto - Eu achei que estivesse tudo bem, nós fomos para o cinema, ficamos de mãos dadas lá dentro e a gente se beijou, mas eu fui pegar na mão dela na hora de ir embora e ela surtou, simplesmente surtou e foi embora.

- Eu estou indeciso entre ficar feliz que você e a Hannah finalmente ficaram ou incrédulo porque depois de tanto tempo eu não achei que fosse acontecer. Eu já estava começando até a acreditar que ela fosse hétero.

- Não sei o que eu fiz de errado... Se meu beijo é tão ruim assim - Lilly comentou com insegurança e Fred revirou os olhos.

- Cala a boca, Lilly, eu já te beijei e seu beijo é bom.

- Tão bom que depois dele... Bom, olhe onde nós estamos. Não é como se fôssemos o padrão de heterossexualidade aqui  - Lilly rebateu e os dois riram em seguida.

- Lilly, mas agora é sério, a Hannah vem de uma família super tradicional. Os pais dela são extremamente conservadores, eu a conheço há muito tempo e sei que essa questão na casa dela é bem complicada... Eu realmente desconfiava que ela estivesse interessada em você, mas parte de mim achou que isso nunca fosse se concretizar porque pra mim a Hannah ficaria incubada para sempre.

- Eu nem sei o que fazer, se mando mensagem, se deixo ela em paz...

- Deixa ela quieta por um tempo, acho que a cabeça dela tá bombando, é tudo muito novo para ela. Eu sei que comigo foi complicado e você sabe também.

Lilly e Fred eram amigos desde que se entendiam por gente e passaram por todas as fases juntos. Quando começaram a pré adolescência e a fase de descobertas, deram o primeiro beijo um no outro e riram com nojo disso por semanas, a sensação que tinham era de estar beijando um irmão e uma irmã. Mas não era só por isso e sim porque nenhum dos dois se sentia confortável com o sexo oposto. Com Lilly foi fácil de aceitar, mas Fred sofreu em casa, chegou a ser expulso pelos pais e passou a morar com a avó por meses antes das coisas se normalizarem e ele ser aceito novamente pela família.

- É ridículo que a gente tenha que viver em um mundo em que a sua sexualidade é mais importante que seu caráter. - Lilly resmungou chateada - Eu só tenho medo que a Hannah se afaste até mesmo como minha amiga.

- Eu não acho que isso vá acontecer, de verdade. Deixa ela quieta e vai focar em outras coisas... Sua mãe já parou de te evitar?

Lilly deixou o pensamento em Hannah ser distraído pela perspectiva de outro assunto que a interessava igualmente.

- Sim, mas eu fui sair com a Hannah ontem. Quando cheguei e minha mãe já estava dormindo e eu sabia que ela precisaria passar o dia fora hoje. Espero que a gente tenha a chance de conversar a noite.

- Lilly e se seu pai for um desses conservadores homofóbicos? - Fred perguntou e o estômago da menina se revirou.

- Duvido muito que minha mãe fosse se relacionar com alguém assim...

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