All About Future Days

capítulo 12

Eddie Vedder não conseguia pensar na última vez que tinha se sentido tão feliz e tão leve. Aqueles dias tendo Anna e Lilly em sua casa estavam sendo muito mais divertidos e menos constrangedores do que achou que seria quando pensou em convidá-las. No começo achou que a relação com Anna poderia ser estranha, de muitos silêncios, pouca conexão e tantos ressentimentos, mas a realidade era que, naqueles dias, Eddie estava conseguindo se identificar melhor com a mulher deixando de vê-la apenas como alguém que levou sua única filha para longe, mas como também uma mãe exemplar e uma mulher ainda muito atraente.

A parte de mulher atraente, Eddie já conhecia, embora não esperasse encontrá-la tão atraente assim. Mas convivendo tão de perto com a dinâmica Anna e Lilly, o homem passou a compreender um pouco mais da sua própria dinâmica com a filha e passou também a entender o porquê de achar tão fácil ser o pai de Lilly, o porquê de achar tão fácil aquela relação. Era fácil porque todo o trabalho duro já tinha sido feito. Era fácil porque os anos mais difíceis e trabalhosos foram assumidos por Anna. Observando Lilly mais de perto, Eddie descobria algumas coisas sobre a filha, não só sobre suas qualidades como também sobre seus defeitos e esses, em especiais, o faziam valorizar ainda mais o papel desempenhado por Anna ao longo daqueles anos.

Lilly detestava legumes. Sempre tentava mil argumentos diferentes para não comê-los. Era natural para Eddie tomar o caminho mais fácil e comprar outros alimentos para agradar o paladar dela, mas Anna mantinha-se firme obrigando Lilly a comer coisas saudáveis antes de se entupir de guloseimas. Essa atitude fez com que Eddie pensasse em como fora difícil para Anna lidar com uma criança cheia de vontades e pouco apetite para comida de verdade. Lilly odiava perder. Era extremamente competitiva e há alguns dias tinha se tornado irritadiça por ter perdido em uma partida de jenga. Eddie naturalmente escolheu algum jogo em que ela pudesse ganhar, mas Anna engatou em uma discussão com a filha por ser tão imatura.

Essas situações foram responsáveis pelo acréscimo de admiração dentro de Eddie, pondo Anna em uma espécie de pedestal merecedor de muito respeito: ela era a mãe da sua filha e tinha exercido sozinha a obrigação de criá-la. O argumento de que "foi a escolha dela, ela foi embora grávida porque quis" não estava mais funcionando, não quando recordações daquele passado vinham a tona. Mais do que ocasionalmente naqueles últimos dias, Eddie pensava em como teria sido se Anna tivesse de fato contado que estava grávida em 1990.

Ao longo da carreira de Eddie, o cantor foi repetidas vezes lembrado por seus posicionamentos políticos e sobre seus discursos pró aborto. Sempre acreditou nos direitos das mulheres de exercerem as escolhas sobre os próprios corpos... Isso o fazia pensar em como teria reagido na época, se teria sugerido isso a Anna, mesmo que a apoiasse caso decidisse continuar a gravidez. E se tivesse continuado, como seria, então? Certamente não seria tão famoso, não teria conquistado tantas coisas com a banda... E se tivesse, o relacionamento com Anna provavelmente não teria sobrevivido e Lilly não seria tão bem criada... Provavelmente seria mais uma dessas adolescentes que detestam os pais.

A história sobre o pai de Eddie não era mais segredo para ninguém. Ao saber que o verdadeiro pai tinha morrido, ele criou uma espécie de idolatria com o homem se perguntando se ele teria orgulho de quem estava se tornando e de suas decisões. Naqueles dias, observando Lilly e perguntando-se o que teria sido se tivesse exercido o papel de pai desde o primeiro dia, Eddie não pôde deixar de pensar sobre o seu próprio pai... E se ele não tivesse morrido? E se tivesse se tornado um bêbado idiota envergonhando-o na sua carreira? E se tivessem seguido caminhos opostos e terminassem se odiando? Então não seria mais fácil aceitá-lo como herói morto e seguir a vida? Talvez o mesmo se aplicasse a Lilly, então. O que teria sido se tivessem se conhecido antes não era algo que podia controlar e nem mudar... Mas podia viver o momento atual aproveitando-o com gratidão.