capítulo 2

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Para todos os efeitos, Eddie Vedder tinha conquistado tudo e não podia reclamar da própria vida.

Aos olhos do resto do mundo, ele era um homem bem sucedido que tinha se consolidado no ramo musical através do patamar que conseguiu atingir com a Pearl Jam, banda que era vocalista há quase vinte anos. Para além da banda, Eddie também tinha uma das vozes mais reconhecidas e aclamadas e uma potencial carreira solo graças a trilha sonora de um filme de sucesso feita inteiramente por ele. Eram milhões na conta, reconhecimento a nível mundial e diversos fãs de várias idades.

Enquanto diversos artistas de sua geração tinham sido consumidos pelas drogas ou sucumbido ao suicídio devido a depressão, Eddie remou contra a maré e manteve-se são e ileso dos vícios, mas não se pode dizer que saiu sem sequelas dessa fase. O assédio da mídia tinha transformado aquele rapaz tímido e recluso em um homem desconfiado e raivoso, o excesso de exposição e invasão de privacidade tinham transformado aquele artista acessível que respondia cartas e saía para tomar cerveja com fãs em uma celebridade com aversão a fotos, entrevistas e até mesmo ao convívio com seus admiradores.

Foi preciso muita terapia e dias de surf para não deixar seu mundo desmoronar, mas Eddie Vedder sobreviveu. Sobreviveu ao ápice das drogas da sua geração, sobreviveu a fama súbita, sobreviveu a depressão, sobreviveu até mesmo a uma tentativa de homicídio por parte de uma fã desequilibrada, sobreviveu as mudanças constantes de baterista, ao quase fim da banda diversas vezes... Seu instinto de sobrevivência foi o que o manteve tão são e consciente ao longo daqueles anos de altos e baixos. Poucas bandas conseguiam chegar onde tinham chegado e ainda assim continuar na ativa, fazendo turnês com casas cheias... Tinha sobrevivido a tudo.

E era por isso que tinha tanta certeza que sobreviveria a ruína do seu casamento também.

- E então, Eddie, as coisas com a Beth estão melhores? - Jeff Ament, baixista de sua banda e amigo pessoal perguntou sentando-se ao lado dele na cadeira do ônibus da tour.

Eddie tragou um pouco do cigarro e coçou a barba antes de responder, seu olhar vago observando a paisagem pela janela.

- Não. - Respondeu simplesmente e expeliu a fumaça - Tenho medo que ela vá pedir o divórcio.

Jeff expressou seu pesar com um semblante de empatia.

- Eu sinto muito, cara, mas vocês estão juntos há tantos anos, eu tenho fé que vão conseguir passar por mais essa. - Jeff disse apenas por dizer, até porque não acreditava realmente que aquela situação fosse se resolver, muito menos torcia verdadeiramente já que o amigo não estava feliz há um tempo e duvidava que realmente fosse ser com ela, mas sabia que sua sinceridade não seria bem vinda naquele momento.

- São muitos anos... - Eddie comentou de um jeito melancólico, seu pensamento distante - São vinte e quatro anos de história, se você for contar do começo.

- Com algumas interrupções - Jeff pontuou risonho e Eddie soltou um meio sorriso inspirando a fumaça novamente.

- Eu fico me perguntando onde foi que nós erramos. Quando eu não vi os sinais que de as coisas iam chegar nesse ponto... E eu simplesmente... Eu simplesmente não sei o que fazer para ajeitar a situação, parece que nada do que eu faço é o suficiente, você já se sentiu assim?

- Alguns relacionamentos simplesmente não dão certo, Eddie. Na verdade, não é que não dão certo, é que duram exatamente o tanto que tinham que durar. Nós temos fases na vida e algumas dessas pessoas estão ali para sempre, outras por temporadas... Mas não quer dizer que não tenha dado certo.

Eddie ouviu em silêncio, concordando com um singelo maneio de cabeça embora sua mente estivesse projetando algo completamente diferente. Algo que seguia na linha de raciocínio que ele tinha nascido para ser infeliz e frustrado no amor, que teria que enfrentar uma separação no auge dos seus quarenta e quatro anos, momento da vida em que as pessoas normalmente já estavam estáveis, com filhos e não solteiras. Fazia tanto tempo que estava em um relacionamento que já nem sabia mais como ser sozinho, só o que sabia era que não tinha mais disposição e paciência para lidar com aquelas questões sentimentais, se seu divórcio com Beth fosse para frente ele estava disposto a desistir e seguir solitário pelo resto da vida.

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