Gael Durand
Se passou um mês que tenho tentado esquece-lo. Eu nem falo mais seu nome ou penso nele.
Ele tentou vir até aqui me trazer o quadro que havia pintado para mim.
"Por favor, mesmo que não queiras mais me ver, fique com ele. Eu imploro Gael"
Ele pareia tão doente, olhos fundos e rosto sem cor, tão magro que mal parecia ter carne.
"Eu não quero, adeus"
Eu tenho dormido com diversas garotas tentando me distrair. Puxo papo no bar, flerto, levo para o apartamento e transo. Mas toda vez que elas estão de costas, ou dormindo ao meu lado, ou quando fecho meus olhos
Eu o vejo,
com o cabelo escuro derramado nas costas e a pele branca como neve. É horrível como ele não sai da minha cabeça até nos meus momentos mais íntimos.
Eu parei de agir como um babaca com Marcos, mas ele ainda não fala direito comigo. Ontem nós fomos no bar, mas não foi a mesma coisa sabe? Ele não fazia piadas nem bebia tanto.
Hoje de madrugada ouvi uma ambulância passando, eu não sei o que aconteceu. Não sei se ela estava indo para a casa dele ou para outro lugar, mas senti uma angústia forte. Pela manhã ouvi Marcos chorando no celular falando com alguém. Decidi ignorar.
Agora me encontro no bar, falando com uma garota de cabelos escuros que nem sei o nome, porém flertando com ela.
—Agora é sério... você é muito fofo! Como você não tem uma namorada?
—Ah... infelizmente minha namorada terminou comigo faz uma semana, ela achou outro cara.
Elas sempre caem nessa chantagem emocional. Flerto, digo que acabei de terminar, ela fica com pena, vamos pro meu apê ou o dela, transamos e depois vou embora, sem ligar no dia seguinte.
—Que pena, ela não sabe o que está perdendo.
—O quê ela está perdendo? —Digo com um ar malicioso.
Depois de mais um pouco de conversa começamos a caminhar, eu a beijo e nós vamos até o apartamento dela.
Quando fui entrar no apartamento dela vejo um quadro enorme, meu corpo congela e fico sóbrio quase que instantaneamente.
—De quem é este quadro?
—Ah eu comprei em uma feira de arte a uns dois meses atrás... lindo não é? O nome do artista é Arthur García.
Assim que ouço o nome, começam a me vir lembranças dele.
Bebendo no bar.
Bêbados na praia.
Assistindo o sol se pôr.
Segurando minha mão.
Conversando no balanço.
...Chorando na minha porta.
Eu finjo que recebi uma ligação e digo que preciso ir embora, me desculpo e saio. Saio correndo o mais rápido possível. Eu passo pela casa dele devagar e penso em entrar, mas eram 2 horas da manhã então seria impossível ele me atender.
Volto a correr a caminho do apartamento, pensando no quê eu tinha feito. Eu fui tão burro, tão idiota. Me deixei levar pela ideia de ser aceito pelo meu pai e acabei fodendo tudo!
Chego no apê e tomo um banho, eu me sinto sujo pela primeira vez. Sujo de ter dito aquelas coisas, sujo de ter mentido, sujo de ter dormido com todas aquelas mulheres e sujo de ter fechado a porta na cara dele quando ele veio me trazer o quadro.
Eu queria fazer tudo diferente, queria ter falado para ele entrar, o abraçado e elogiado a pintura. Mas eu só fechei a porta, sem mais nem menos.
Eu tento dormir para amanhã fazer algo mas não consigo. Acho que vou escrever uma carta a ele me desculpando.
Pego um papel e uma caneta e começo.
"Arthur García..." não, muito formal.
"Arthur..." seco de mais.
"Querido Arthur..." pode ser.
"Querido Arthur, sinto muito pelo o que fiz..." não. Não! Eu não consigo escrever! Que ódio!
Jogo todo o meu caderno no lixo com força. Minutos depois pego ele de volta.
Mas e se eu listar as coisas que eu gosto nele? Seria mais fácil pensar em algo para me desculpar.
Eu gosto quando ele mexe no cabelo enquanto pensa.
Gosto quando ri e morde o lábio.
Gosto quando fala de algo que o interessa.
Gosto das pinturas.
Gosto do seu sorriso.
Gosto como sua mão se encaixa na minha.
Gosto... dele.
Eu gosto dele, por inteiro.
Então cai a minha ficha, como se o meu chão tivesse desaparecido. O "sentimento estranho" que eu tinha quando ele estava por perto,
Era amor.
Amanhã vou ir até a casa dele e falar com ele, me confessar. Eu preciso fazer isso.
Eu deito na minha cama e durmo, pensando em cada palavra que falaria para ele amanhã.~*~
No dia seguinte acordo elétrico e feliz, vejo Marcos fazendo o café e vou até ele. Confesso tudo o que tinha para dizer, as mentiras, a tentativa de ser como meu pai, e o porquê de afastar Arthur.
—Marcos eu o amo! E só agora percebi! Por favor, me diga, como ele está?
Ele me olha com ar frígido.
—Gael, é um pouco tarde.
—Como assim um "pouco tarde"?
Ele respira fundo e se senta na mesa da cozinha, segurando o café com uma mão e a outra pousada sobre a mesa. Sinto que ele está procurando palavras para me dizer algo.
—Gael... Arthur está no hospital, em coma. Ele foi ontem para lá. — ele toma um gole do café e solta mais um suspiro. —Ele vai morrer.
Eu sinto minhas pernas falharem e meus olhos começam a marejar. Antes de cair de joelhos no chão, me sento na mesa.
—Mas... como assim? Que doença é essa?
—A doença das flores, Hanahaki Byou.
Ele me explica como a doença funciona, e quais são os estágios e as curas.
—eu preciso ir ve-lo! Agora!
Eu me levanto com lágrimas dominando meu rosto em um estado de desespero tão profundo que chega a ser sufocante.
—Não! Gael, não adianta! Chloe não vai deixar você entrar no quarto do hospital, ela provavelmente vai te matar se você aparecer lá.
—Não importa, eu vou ir lá. Acho que ainda dá tempo de salva-lo!
Marcos levanta da mesa e me segura pelos braços.
—Você pode ir, mas eu não garanto que ele esteja vivo quando você chegar... não tenho notícias dele desde que a ambulância veio busca-lo ontem.
Eu pego minhas coisas e coloco em uma mochila, hoje não tem ônibus por ser feriado, e o hospital é a 10 quilômetros daqui. Eu começo a correr.
Chloe estava falando sério quando disse que ele estava prestes a morrer.
Ele estava doente por minha culpa.
Ele deve estar morto
E a culpa é minha.~*~
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Pintando Flores
RomanceAmar alguém requer esforço, coragem e trabalho. Na maioria das vezes, esse trabalho vale a pena no final... quando não é unilateral. "Prefiro morrer de amor do que morrer de tédio" - Vicent Van Gogh.