2008 – Percy
Levantei do chão frio do apartamento, ainda rodeado de caixas, refletindo.
— Ela me pediu para que eu te entregasse porque não queria te atrapalhar nos estudos. — Havia dito Luke, e a frase rondava minha mente.
Eu precisava ouvir aquela fita.
— Onde eu vou achar um toca fitas em Burnaby às 21:23. — Olhei em meu relógio de pulso, pensando alto, mas ainda sim esperando uma resposta esclarecedora de Luke.
— O curso de comunicação da faculdade não deveria ter um? Você não conhece um tal de Grover que cursou com você no mesmo ano? — Ele falou como se fosse óbvio.
E realmente era fácil ter pensado nessa solução, mas com a lembrança dolorida de Annabeth nublando meus pensamentos, tive a sorte de ter Luke comigo.
— Claro... — Respirei fundo. — Vou tentar entrar em contato com ele.
— Hoje não mais. — Ele se abaixou, abrindo a caixa com os dizeres "quarto" e tirou de lá meu edredom. — Você vai dormir, e ir pro trabalho amanhã. Tem um projeto importante para apresentar, lembra? A vida não vai parar por uma lembrança da escola.
Seu tom parecia autoritário, mas ele sorriu após dizer isso.
Pensei em suas ordens/conselhos. Ele estava certo, de acordo com a razão.
— Tudo bem. — Cedi. — Muito obrigado por me ajudar a trazer as coisas pra cá de última hora.
— Sempre que precisar. — Ele deu um sorriso caloroso, um tapinha no meu ombro, e se foi pelo corredor largo do prédio.
Olhei para o edredom em minhas mãos.
Guardei-o novamente em sua respectiva caixa e puxei meu notebook da capa.
"Grover Underwood" foram as palavras que digitei na barra de pesquisa, e não demorou para encontrá-lo.
"Cara, oi, Percy falando" Pensei no que digitar. "Sei que fez comunicação da Simon Fraser no mesmo ano que eu... Você podia me orientar em onde eu encontraria um toca fitas?"
Ele não estava online, mas imaginei que alguma notificação enviada dos céus facilitaria minha vida... Mas isso não aconteceu.
Naquela semana, eu fiz muitas coisas.
Apresentei meu projeto, esse que foi aprovado. Almocei com meus amigos, ganhei até um aumento. Todas as notícias boas que eu poderia querer, mas não parava de pensar o que Grover Underwood estava fazendo de tão importante que não tirava um tempo para me responder.
Na semana seguinte, eu estava atolado de catalogações e fichamentos para iniciar a prática do meu esboço. Fazia cálculos e mais cálculos, quebrando a cabeça e me odiando por não ter nascido um gênio em exatas, quando meu celular vibrou.
"Hey Percy!" Meu corpo gelou. "Desculpa tanta demora cara, estava de viagem com os caras da minha fraternidade, mas sim, eu tenho seu precioso toca fitas."
Minha ansiedade aquietou-se.
"Onde posso te encontrar, cara? Parque Deer Lake?"
"Na real, acabei de chegar no meu prédio, cansado de viagem."
Já sabia onde isso iria dar.
"Ok, eu posso ir até aí buscar."
Ele mandou a rua de sua residência fraterna, e eu peguei minhas chaves. Olhei as horas novamente, e os números se aproximavam de indicar meia noite. O engarrafamento foi perto de nulo, e chegando em frente à residência, ele estava sentando num puff verde na varanda, fumaça saía de seu nariz, e próximo ao cinzeiro de erva, estava o toca fitas.
— Tempo que não te via, Grover. — Encostei-me no batente.
— Eu repeti alguns semestres... — Ele coçou a cabeça, parecia um pouco perdido. — Quer uma tragada?
— Estou dirigindo. — Justifiquei, mas sabia que mesmo se estivesse com carona, eu recusaria.
— Por que um arquiteto precisa de um toca fitas? — Ele riu e eu com certeza não devo ter feito uma cara muito boa, porque logo depois da piada ele levantou-se e me entregou o aparelho. — Brincadeira, eu não preciso de seus motivos, aqui está.
— Eternamente grato. — Ia saindo, mas lembrei de perguntar. — Quando preciso devolver?
— As aulas de radiologia passaram há alguns semestres, não tenha pressa.
Ele sorriu, meio chapado ou meio simpático e eu me retirei, pondo a máquina no banco passageiro e partido da Simon Fraser mais uma vez.
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Adoraria Dizer Que Tudo Vai Dar Certo Para Nós
RomanceUm amor encerrado pela ambição adolescente. Percy seguiu bem sua vida após Annabeth Chase deixá-la. Não ótimo, nem maravilhoso, apenas bem. Sem desconfiar que uma brecha no destino dos dois, traria à tona a única oportunidade de tê-la de volta.