2008 – Percy
— Isso é como seu conto para o trabalho de literatura. — Tentei me recordar. — Akia to?
— Akai Ito. — Ela me corrigiu, enquanto aceitava o copo de chá gelado que eu ofereci após entrarmos em casa. — Um casal unido pelo fio do destino. Acha que somos assim?
— Com toda certeza. — Sentei-me à mesa com ela. — Você não acredita?
— Não me leve à mal. — Ele bebeu um gole do chá. — Não costumo mais acreditar em contos como costumava antes.
Eu compreendi ela. Depois de ter passado por tantas coisas ruins, não era surpreendente ter mudado. E sua mudança, não era apenas exterior, com os cabelos longos em cachos ou a falta do aparelho ortodôntico em seus dentes. Era interna também, talvez a Annabeth por quem eu me apaixonei nem existisse mais. E essa ideia me assustou um pouco.
— Mas acho que nós dois... Nós somos uma exceção. — Ela sorriu, um pouco tímida.
— Nós somos.
Reuni coragem para o ato a seguir. Encaminhei minhas mãos até seu cabelo e o pus atrás da orelha, pousando sobre seu pescoço e trazendo seu rosto para próximo do meu. Eu beijei Annabeth Chase como desejei ter beijado a oito anos atrás. E foi incrível.
Não conseguia fazer o sentimento de inquietude da minha barriga parar, ou evitar que aquele beijo me aquecesse mais que o uma deliciosa caneca de chocolate quente no inverno. Todo o amor que sentíamos estava exposto ali, lento e carregado de significados, um beijo tímido, mas ansioso.
— Uau.
— Sim, uau. — Eu concordei. — Tem uma coisa que eu gostaria de mostrar.
Levantei e a chamei para a sala de estar ainda improvisada do novo apartamento, que era composta de um rack simples e um sofá antigo dos meus pais. Fui até o móvel e tirei de lá a caixa com as fitas antigas e entreguei-a.
— Você guardou todas. — Seus olhos encheram-se de lágrimas com a lembrança.
Naquela noite, passamos as horas ouvindo as fitas no toca fitas que Grover emprestou. Rimos das nossas baboseiras antigas, que pareciam ser o fim do mundo, quando nem imaginávamos que cresceríamos e aquilo se tornaria banal.
Quando começou a nevar forte, sugeri que dormisse aqui e ela aceitou. Me ajudou a acomodar-me no sofá, e dormiu no meu quarto. Me sentia um adolescente, com todo aquele sentimento em erupção novamente. Era quase patético, mas tentei me confortar deixando essa ideia de lado, pensando que estava apenas apaixonado... De novo.
E depois daquela noite, continuamos saindo e ela continuou dormindo aqui. Com o tempo recorrendo, ela vendeu o apartamento minúsculo e passou a morar comigo. Trabalhávamos em horários diferentes, e eu passava a maior parte do tempo em casa desenhando projetos enquanto ela ia para o campo de obras.
Juntos, terminamos de mobiliar nosso apartamento. Com tanta maturidade adquirida, pequenas coisas que ocasionariam brigas para o Percy mais novo, se tornavam apenas futilidade. E esse relacionamento durou, exatamente como eu gostaria que durasse. Nós até adotamos um cachorro, acredite se quiser. Ele aprontou bastante enquanto era filhote, e como eu estava a maior parte do tempo em casa, sempre sobrava para que eu limpasse. Mas eu o amo também, mesmo com toda bagunça e com Annie insistindo em chamá-lo de Delta.
Talvez eu acreditasse em destino. Não na lenda Akai Ito, onde os amantes estão ligados desde berço... Isso seria estranho. Mas no destino que a colocou em minha vida, com a mesma reciprocidade, parceria e amor. Acreditava ainda mais pelo fato de termos ficado juntos depois de jovens, onde estávamos mais sensatos e prudentes. Talvez, se eu tivesse insistido em ficar em Oregon quando ela me pediu para que eu fosse, não estaríamos num relacionamento não prospero como hoje.
Ficamos juntos no momento certo. Depois de encontros e reencontros, depois de receber o aviso atrasado que eu a perderia na fita... Nosso amor superou isso. E pensando nas inúmeras possibilidades onde a Lei de Murphy se aplicaria, mas que não se aplicou, me causava extrema felicidade.
Principalmente, por ser Annabeth Chase comigo.
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Adoraria Dizer Que Tudo Vai Dar Certo Para Nós
RomanceUm amor encerrado pela ambição adolescente. Percy seguiu bem sua vida após Annabeth Chase deixá-la. Não ótimo, nem maravilhoso, apenas bem. Sem desconfiar que uma brecha no destino dos dois, traria à tona a única oportunidade de tê-la de volta.