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2000 – Percy

"Temos o prazer de informar que adoraríamos recebe-lo em nossa instituição"

Minha mãe leu a carta em suas mãos e eu senti os braços firmes de meu pai ao redor dos meus ombros, me abraçando e comemorando.

Eu sorri também, óbvio que sorri. Queria tatuar aquela carta em minha testa, chegar na casa de Annabeth, dar um soco em seu padrasto e ajudá-la a fazer as malas para irmos juntos.

Mas não foi isso que aconteceu.

Não recebi sua fita, apesar de ter mandado uma, contanto a notícia. Sentia-me abandonado. Como a razão por todo sacrífico feito sumiu assim, sem nem me dizer nada?

Naquela semana, meus pais fizeram uma festa, e toda a vila compareceu. Mas não estava completo sem ela lá. Após a festa falei com meus pais.

— Preciso ir até Annabeth... Não tenho notícias dela faz semanas. — Eles não impediram, eu havia passado mais de seis meses enfurnado no quarto então até pareceram felizes.

A noite estava calma, e eu andei até o condomínio de casas chiques com as mãos tentando aquecer-se do inverno que já começava dar as caras. Informei o porteiro que era amigo de Annie e com uma estranha cara de solidariedade, me permitiu a entrada e disse o número de sua casa.

Bati a porta e não recebi resposta. Continuei insistindo até ouvir.

— Socorro!

Era a voz dela. Gritando, desesperada. E eu fique assim também.

— Annabeth? Onde você está? — Gritei de volta, mas não consegui distinguir o que ela dizia, então apenas segui sua voz pela lateral da casa até uma janela no segundo andar. — Venha até a janela, por favor!

Ela apareceu, pálida e assustada, como Annie nunca parecia estar. Também estava machucada, percebi pelo olho meio arroxeado. Seus dedos apontavam para baixo, e logo notei a porta dos fundos.

"Por favor, esteja aberta, não quero cometer um crime e ser preso após ter passado na faculdade" pensei e girei a maçaneta, esta que abriu para a cozinha da casa escura. Rezando para que estivéssemos sozinhos em casa, eu comecei a explorar a casa enorme, me perdendo em cômodos, mas logo encontrando as escadas e subindo, seguindo o som de sua voz.

— Está trancado. — Ela informou antes que eu tentasse.

— Chaves?

— Ele ás leva com ele.

Não me daria por vencido.

— Onde ele foi? — Perguntei.

— Saiu, não me disse para onde. Estou trancada aqui há dias.

Bufei e encostei-me na porta.

— Escute, Percy... Eu me sabotei no exame.

Minha testa começou a enrugar, tentando entender.

— Por que fez isso? — Minha voz estava embargada.

— Eu não quero ir pro Canadá, quero ficar em Portland com você. Achei que conseguiria ir sem você, mas depois que ficou com raiva de mim, eu... eu fiquei mal, entende?

Algo quebrou dentro de mim, todos os fios romperam e todos os planos morreram. Nós não iríamos tatuar nossas cartas de admissões em nossas testas, nem fazer uma viagem juntos para Burnaby e morar na mesma fraternidade. Algumas lágrimas começaram a molhar minha bochecha.

— Eu não estava com raiva de você Annie. Eu nunca seria capaz de sentir raiva de você, nem que eu quisesse muito.

— Você está chorando? — Ela parecia preocupada. Mesmo toda ferida, presa em um quarto e com um terrorista sob o mesmo teto, ela ainda se preocupava comigo.

— Eu acho que te amo, Annabeth. — Soltei, finalmente. — Talvez eu nem saiba o significado disso, afinal, deixei de ter tantos momentos ao seu lado para entrar na idiota da Simon Fraser.

— Você... Conseguiu ser aprovado?

— Sim... Eu queria ficar com você lá, longe dos problemas.

Ela ficou em silêncio alguns minutos.

— Você precisa ir. — Disse.

— Não ouviu? Claro que não vou te deixar aqui, sendo trancada e espancada por aquele doente...

— Escute, eu também te amo. Para ser sincera, te amo desde a primeira vez que vi quem é o verdadeiro Percy Jackson. O cara gentil que faz qualquer coisa pelas pessoas que ama. E você vai ter que fazer isso por mim, vai precisar partir sem mim, e confiar que eu vou conseguir sair dessa.

— Mas Annabeth...

— Por favor. — Sua voz também estava chorosa. — Saia pela mesma porta que entrou, tente não encontrar meu padrasto no caminho e siga sua vida.

Meus olhos encararam os perfeitos ornamentos que molduravam a porta. Tentei pensar numa saída, uma solução que nos livrasse, mas nada me vinha em mente.

Finalmente, fiz o que ela mandou e consegui ouvir seu choro ruidoso enquanto seguia o mesmo caminho que me fez chegar aqui. Desci as escadas correndo e saí pelas portas do fundo, encarando com urgência a janela.

— Apareça Annie, por favor.

Mas ela não apareceu mais. E eu permaneci ali até ouvir um carro parando em frente á casa e me escondendo enquanto o homem entrava e eu me esgueirava novamente até o porteiro, que me lançou novamente um olhar caridoso, que dessa vez foi entendido por mim. 

Adoraria Dizer Que Tudo Vai Dar Certo Para NósOnde histórias criam vida. Descubra agora